Uma reportagem da revista “Veja” sobre a largada do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), eleito com 57 milhões de votos, derrotando o candidato do PT e de forças de esquerda, Fernando Haddad, aponta que o desencontro tem sido a marca principal. Em dez dias de governo, Bolsonaro deu declarações equivocadas, xingou críticos no Twitter e foi desmentido pelos próprios subordinados. “O novo presidente continua se comunicando, em entrevistas ou por redes sociais, com a imprudência do candidato. E tem de ser corrigido pela própria equipe”, adianta a matéria, insinuando que há um caso peculiar no enredo: o chefe do Executivo, ao invés de agir como pacificador dos ímpetos de sua corte, como tem sido praxe em início de governo desde a redemocratização, é ele mesmo a fonte de tensões e divergências.
Na “Carta ao Leitor”, “Veja” reconhece que na experiência democrática brasileira nenhum governo começou com harmonia e serenidade. Fernando Collor abriu os trabalhos confiscando o dinheiro da poupança, o que deixou o país perplexo. Itamar Franco, presidente acidental, tomou posse com trapalhadas de todos os lados – não tinha programa, não fez sequer um discurso à nação e montou um ministério que se resumia a um condomínio de amigos. Collor terminou o governo em desastre, Itamar fez história com a estabilização da moeda promovida pelo Plano Real, que levou Fernando Henrique Cardoso ao Palácio do Planalto.
“Por ardis do destino –diz a revista no editorial – o começo do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, justamente o dele, foi o mais parecido com a primeira semana completa de Jair Bolsonaro no Planalto. O ministério de Lula entrou em campo protagonizando trombadas de um amadorismo ímpar. O ministro da Ciência e Tecnologia elogiou a pesquisa para a fabricação da bomba atômica e foi logo desmentido em público pelo governo. O ministro dos Transportes disse que em caso de falta de verbas no ministério o Exército poderia usar seus batalhões para construir rodovias e estradas e foi desmentido pelo próprio Exército. Bolsonaro fez até um pouco pior. Foi desmentido publicamente por membros de sua equipe. Três vezes, Bolsonaro disse que tinha assinado um decreto para aumento do imposto sobre operações financeiras e foi contestado. Disse que haveria redução das alíquotas do imposto de renda e foi desmentido. Anunciou quais seriam as novas idades mínimas para aposentadoria na proposta de reforma da Previdência do governo e também foi desmentido”.
De acordo com “Veja”, o começo do governo Bolsonaro foi desordenado e constrangedor, “mas não é nada que não tenha conserto”. A revista lembra que Lula, apesar do caos inicial, acabou presidindo o país em uma fase de notável crescimento econômico e deixou o governo com altíssima popularidade – até parar atrás das grades. “Bolsonaro tem tudo para acertar o rumo do seu governo desde que compreenda, se ainda não compreendeu, que suas declarações no exercício do poder têm peso e consequência infinitamente maiores do que numa campanha eleitoral. Até aqui, as expectativas sobre o governo de Bolsonaro são tão positivas que nem a bagunça de agora teve efeitos deletérios. A bolsa segue em alta histórica, o dólar mantém sua trajetória de queda e o Brasil continua esperançoso de um futuro melhor”, conclui “Veja”.
Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes