A opinião pública paraibana acompanha com grande interesse o desenrolar das negociações entre o governo do Estado e representantes de associações da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Polícia Civil, em torno de demandas salariais e outras reivindicações prementes que, a bem da verdade, estavam represadas desde outros governos. Há distorções mais profundas remanescentes da “Era Ricardo Coutinho”, que vigorou por oito anos no Estado, a exemplo da chamada “Bolsa Desempenho” que, a pretexto de beneficiar tais categorias, desequilibrou a situação salarial, em meio a outros “monstrengos” que foram colocados em prática, criando atmosfera de insegurança para segmentos que nunca foram efetivamente contemplados com políticas efetivas de valorização de pessoal.
Chegou a causar, inclusive, repercussão negativa entre segmentos das corporações, o movimento do ex-governador Ricardo Coutinho, claramente político-eleitoreiro, para tentar tirar proveito da crise que estourou com o fito de obter dividendos nas eleições deste ano, nas quais, se não poderá concorrer, em virtude de pendências legais, tentará, seguramente, influir, dentro da estratégia de “ganhar derrotando” adversários políticos que já foram seus aliados na crônica recente da história da Paraíba. Desde o final do ano passado, movimentos de insatisfação vinham sendo ensaiados, a partir da Polícia Militar, como reação legítima ao estado de coisas que foi se agravando ao longo dos anos e como um sinal de alerta ao governo de plantão para encarar, objetivamente, os desafios e mediar soluções. O governador João Azevêdo não fugiu do enfrentamento das questões colocadas em pauta, e já no apagar das luzes de dezembro de 2021 acenou com reuniões de emergência para o início de janeiro. Foi o que aconteceu, ontem, na Granja Santana, quando o governo teve a oportunidade de apresentar propostas para pôr fim ao impasse.
As propostas formuladas pelo Executivo, diga-se de passagem, foram extremamente realistas e, dentro das condições concretas de temperatura e pressão da conjuntura de problemas do Estado, foram consideradas avançadas, representando um corte no modelo de paliativos que governos anteriores, principalmente o de Ricardo Coutinho, vinham perseguindo como estratégia para aparentar compromisso de solução. O governador João Azevêdo anunciou 10% de reajuste salarial, com efeito imediato, para todos os militares da Paraíba, beneficiando os ativos e inativos. Ao mesmo tempo, sinalizou com a incorporação de 80% da Bolsa Desempenho aos salários nos próximos três anos, em uma escala progressiva, sendo 20% implantados de imediato, neste início de ano. Alguns dirigentes de entidades representativas pontuaram que não foi a “proposta ideal”, mas o chefe do Executivo já havia se antecipado, deixando claro que não iria cometer demagogia nem muito menos praticar atos de irresponsabilidade.
Os representantes das associações, que questionaram abertamente o governador sobre pontos ainda obscuros da proposta consensual que se tenta construir, comprometeram-se a encaminhar o mais rápido possível a proposta oficial ao debate em assembleias com os integrantes das categorias, para que tudo seja equacionado com brevidade e a contento. Nota-se que houve uma mobilização providencial por parte do governo e da sua equipe econômica-financeira, com o assessoramento da Procuradoria Geral do Estado, num esforço concentrado para desarmar “bombas-relógio” em pleno ano eleitoral, quando João Azevêdo concorrerá à reeleição, apostando em mais um crédito de confiança por parte de segmentos da população paraibana. Na verdade, o tema vinha servindo antecipadamente de exploração para pescadores de águas turvas, que tentam se projetar a todo custo no pleito de 2022. Como figura central da agitação, tem atuado o deputado Cabo Gilberto Silveira, do PSL, bolsonarista declarado e pró-negacionista, que parou a Assembleia Legislativa em episódio de triste memória quando tentou participar de uma sessão mesmo não estando vacinado, fiel, com isto, à postura negacionista que adotou quanto à imunização contra a covid-19.
Ao deputado Cabo Gilberto juntaram-se outros quadros da oposição institucional do Estado que desde o início do ano passado vêm quebrando cabeça para tentar somar forças em torno de uma candidatura de consenso que tenha condições de abalar o favoritismo indiscutível do governador João Azevêdo, até agora demonstrado em pesquisas de intenção de voto de diferentes institutos. Nomes como o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), a vice-governadora Lígia Feliciano (PDT), o ex-governador Ricardo Coutinho e o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, que voltaram ao PT, o comunicador Nilvan Ferreira, que foi para o segundo turno das eleições a prefeito da Capital e o próprio Cabo Gilberto gastam fosfato na tentativa de construir convergências. E por estarem atados na evolução dos entendimentos, buscam vingar-se atacando em todos os flancos o governo de João Azevêdo.
Havia uma expectativa alimentada pelos oposicionistas de que o governador fraquejaria ante a pressão de grupos militares insuflados que chegaram a participar de manifestações de rua, sob a inspiração orquestrada do deputado Cabo Gilberto. Surpreendendo a esses pescadores de águas turvas, João Azevêdo não apenas agiu rápido na contra-ofensiva, como compareceu a uma reunião com propostas concretas, não de mãos abanando. As atenções se voltam, agora, para o posicionamento das entidades de classe dos policiais. O governo formulou propostas concretas, já a partir de agora, acenando com vantagens que outras gestões congelaram durante muito tempo. João Azevêdo carimbou a sua postura flexível ao diálogo, ao entendimento em bases realistas. O cenário está criado para consensos – e só depende das categorias o gesto definitivo para que uma página desgastante da história da Paraíba possa ser virada.
Fonte: Os Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba