As gírias são um novo jeito de falar. Geralmente nascem em grupos com o objetivo de tornar restrita a compreensão de diálogos entre seus integrantes. A mídia, no entanto, populariza essa linguagem e, por isso, determinadas palavras ou expressões terminam por se ajustarem ao vocabulário cotidiano. Incorporam-se à língua oficial e terminam integrando os dicionários.
Nos anos oitenta a juventude foi responsável pela inclusão de vários vocábulos que ainda hoje utilizamos nas nossas conversas. Era um período em que a televisão exerceu forte influência no comportamento das pessoas. As novelas, os programas de auditório, as propagandas, abusavam do direito de propagar as novidades na forma das pessoas se comunicarem. Falar gírias era uma demonstração de modernidade, atualidade com o mundo.
Fazer sucesso em qualquer empreitada era “arrasar”, tornar algo evidente no sentido de extraordinário, “arrebentar a boca do balão”. Nesse clima de felicidade porque nos sentindo bem com êxitos alcançados, dizíamos que estava tudo “beleza”. Quem se mostrava com habilidades especiais para empreender qualquer atividade era apontado como “fera”. Viver na tranqüilidade, sem preocupações, permitia dizer que “estávamos numa Nice”.
No universo dos envolvimentos sentimentais, o “cara” tomava a iniciativa de “azarar”, “paquerar”, cortejar, uma “mina”, garota que chamava a sua atenção. Não demorava para que “gamasse” em alguém, despertasse a paixão, se sentisse motivado no namoro. Claro que sempre se corria o risco de “levar um fora”, não ser correspondido no interesse da aproximação afetiva. Todavia, quem não se dispusesse a ousar, poderia ser qualificado como um “careta”, não acompanhava a evolução dos tempos e a timidez era coisa de quem estava fora do contexto social. A arte da conquista exigia cuidados para não “pagar micos”, nem “pisar na bola”, adotar atitudes erradas, inadequadas para a intenção.
Tornava-se importante ser uma pessoa atualizada com tudo, “antenada” com os acontecimentos que repercutiam na sua vida. Esses nunca “viajavam na maionese”, como se classificava os que não se integravam ao pensamento da ocasião e deliravam nas suas manifestações, falando coisas absurdas. Mudar de opinião radicalmente não se fazia muito um comportamento que pudesse ser respeitado, quem “virava a casaca” facilmente, demonstrava falta de consciência, sem opinião formada na base da racionalidade.
Se os entendimentos sofriam desgaste, armava-se um clima de “treta”, briga, conflito. Bastava que despontasse “um grilo na cuca”, uma desconfiança, um sentimento de suspeição, para que se identificasse o “mala”, sujeito chato que não se enquadra no perfil do correto, aceito como parceiro, companheiro, confiável.
Os “coroas” eram nossos pais ou pessoas mais velhas, a quem recorríamos para ouvir conselhos, solicitarmos uma “grana”, “bufunfa”, para as “baladas”, ou pedirmos emprestado o “carango” para dar um “rolê”, um passeio. Esse era um programa “massa”, ao agrado de todos. Fugir da companhia de “pentelhos”, figuras que se esmeravam em ser chatas, e das “barangas”, mulheres feias que ficavam se insinuando, fazia parte da estratégia para se “sair bem”, não “ficar de bode”, mau humor, nem “depré”, “curtir” “legal” a noitada.
Duvido que essas expressões sejam incompreensíveis pelo jovem de hoje. Muitas ainda estão na boca do povo, não perderam seus significados, embora substituídos por outros jargões, mas jamais caídos em desuso total ou no esquecimento coletivo.
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão