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GALDINIANA: A problemática da privatização das festas populares! – Por Rui Galdino

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Meus amigos, minhas amigas, meus caros leitores. O assunto da GALDINIANA de hoje é muito delicado, preocupante e também revoltante. Vamos tentar encarar o tema de hoje da melhor maneira possível, pois, o nosso objetivo não é criticar por criticar, nem muito menos prejudicar quem quer que seja e sim, alertar para o que está acontecendo na prática, com relação às grandes festas populares que estão sendo privatizadas de tal maneira que o povão, infelizmente, não está tendo o devido espaço e igualdade de condições para se divertir, brincar e ganhar uma rendinha extra durante os grandes eventos populares. A política de privatizações é benéfica e necessária em alguns setores públicos, porém, em outros não, uma vez que só traz problemas e desencanto para a sociedade.

Refiro-me aos investimentos e à mistura confusa e muitas vezes proposital do dinheiro público com o dinheiro privado, principalmente, quando diz respeito às grandes festas populares pelo Brasil a fora, a exemplo do Carnaval, São João, etc. O galdinista já havia comentado algumas vezes com amigos essa tal “mistureba” confusa do público com o privado, alertando as possíveis consequências negativas, humilhantes e perigosas do que poderia acontecer. Apesar de ser uma problemática nacional, vamos nos ater à nossa querida e brava Paraíba.

Vejam bem, até pouco tempo atrás, as principais festas populares que aconteciam nos municípios e em nosso estado, eram bancadas e organizadas exclusivamente pelo poder público e com recursos públicos. Aqui e acolá apareciam alguns patrocinadores privados para divulgarem as suas marcas, seus produtos e serviços, no entanto, a organização, o comando e os recursos das festas sempre foram do poder público. E assim sendo, o povo ( ricos e pobres ) tinham acesso livre, gratuito, igualitário e sem discriminações, pois, as festas em si, não visavam lucros, apenas o divertimento do povo e o fomento da economia da região. Nesse caso, o comércio informal de vendedores ambulantes também era livre, sem burocracias, gerando renda para os mais necessitados no período das festividades, onde todos ( ricos e pobres ) brincavam, ganhavam um dinheirinho extra e saiam felizes da vida.

Infelizmente, a coisa tem mudado nos últimos tempos e pasmem, PARA PIOR! Pois, nas grandes festividades populares atuais, estão privatizando os eventos e o POVÃO está basicamente ficando de fora, sem ter igualdade de condições para se divertir e também para ganhar uma rendinha extra no comércio informal em virtude das dificuldades impostas pelo poder público, que hoje, não tem mais o comando e nem a organização das festas populares, uma vez que basicamente tudo ficou privatizado e como tal, quem compra a festa é quem dá as ordens, diz o que é permitido ou não, diz o que será comercializado ou não, diz as atrações que vão participar ou não, etc, enfim, A FESTA TEM QUE GERAR LUCROS E PONTO FINAL!

Infelizmente, essa é a triste realidade que estamos vivendo atualmente, onde quem tem condições financeiras, paga um ingresso caro, bebidas e tira-gostos também caros, estacionamento caro, etc, para ficar em um bom lugar, compra uma mesa ou um camarote, com seguranças à disposição e brinca e se diverte à vontade. Enquanto isso, o pobre ou menos abastado, fica fora da festa e muitas vezes com vergonha de sequer chegar perto do evento, ficando apenas na vontade e na saudade das festas populares do passado. É ou não é minha gente? Respeito as opiniões em contrário, porém, é isso que infelizmente, venho observando nos últimos tempos.

Aí vem aquela velha máxima dos “Malaquias”: “O PODER PÚBLICO NÃO DEVE MAIS GASTAR DINHEIRO COM FESTAS, POIS TEM OUTRAS PRIORIDADES”! Calma, não é bem assim. Saúde, educação, segurança, infraestrutura, saneamento, etc, são importantíssimos, porém, a diversão da população e o acesso igualitário, gratuito e sem discriminações às festas populares e tradicionais também são importantes. Não pode haver exclusão!!! Até por que, festa popular o nome já diz, é popular e assim sendo, tem que ter a maciça participação do povão, caso contrário, perde o sentido, perde o encanto, fica sem graça e as consequências não são boas, a não ser para aquelas pessoas que faturam muito dinheiro com as festas populares, travestidas em verdadeiros eventos privados, mas que de uma maneira ou outra, teve a participação do poder público e de verbas públicas.

Lembro-me quando o ex-prefeito de Campina Grande Enivaldo Ribeiro, idealizou e deu os primeiros passos para a construção do Parque do Povo e depois, o saudoso Ronaldo Cunha Lima, transformou a festa no MAIOR SÃO JOÃO DO MUNDO, que tudo isso era feito com verbas públicas permitindo o acesso amplo, gratuito e irrestrito para o divertimento do povão e o público em geral ( ricos e pobres ), comércio informal, desenvolvimento do turismo, etc e que hoje infelizmente não é mais assim. As empresas privadas tomaram conta das grandes festas populares, privatizaram tudo e para o povão ficou reservado os piores lugares do evento, ao relento, sujeitos ao sol e as chuvas, sem poder entrar com as suas bebidas e tira-gostos e com isso, dificultando de maneira indireta a presença dos mais carentes nos eventos populares. Já pensou quanta discriminação e exclusão de maneira indireta!!! É triste observar em plena festa popular, muitos se divertindo e outros nos arredores e fora do evento por não ter condições financeiras para participar. Meu Deus, quanta humilhação!

Então, as festas populares que se privatizaram, perderam o sentido real de ser popular! Gente, não existe festa popular sem povão presente e feliz! Repito, festa popular tem que ser bancada e organizada pelo poder público. Festa privada é outra coisa completamente diferente, ou seja, vai quem pode pagar ou é convidado vip. É preciso distinguir o público do privado, ou seja, o dinheiro público e o dinheiro privado. Mas estão misturando tudo e quem perde com isso, é o povão, que em tese fica fora das festividades e também não ganha sua rendinha extra com o comércio informal. O Poder Público deve sim incentivar, promover, bancar e organizar as festas populares, porém, sem safadeza e corrupção. O dinheiro tem que ser bem contado e investido para manter as tradições e a felicidade do povo em geral.

Nas festas populares, nada impede que tenha patrocinadores privados, no entanto, a organização e o comando têm que ser do poder público, afinal, alí tem dinheiro público investido e por isso, o povão tem que ter acesso livre, gratuito e irrestrito, sem exclusão e sem discriminações. Veja o que aconteceu com o cantor Flávio José recentemente no São João de Campina Grande. Se o comando da festa fosse da prefeitura, tal fato jamais aconteceria. Veja a perigosa invasão dos portões que dão acesso as partes privilegiadas da festa no Parque do Povo. Por pouco não houve uma tragédia. Aquilo é uma reação do povão que está se sentindo excluído e discriminado, uma vez que os espaços melhores das festas estão reservados para quem pode pagar e gerar lucro e os demais espaços, infelizmente, ficaram pequenos para a grande quantidade de pessoas que querem participar das festas de maneira gratuita. Então, começa a acontecer problemas e até tragédias.

Outro exemplo é o bucólico município de Bananeiras, onde o verdadeiro São João tradicional e de grande participação popular saiu do meio da rua e migrou para o estádio de futebol o ano passado, perdendo o encanto, dificultando o acesso do povão que reside na cidade e na zona rural. Esse ano migrou novamente para uma bonita e extensa ARENA, porém, como a festa está privatizada, mais uma vez os munícipes vão ter pouco acesso e a festa em tese vai ser realizada para os que vem de fora e pode pagar. É uma pena! Claro que as coisas mudaram para pior e o povão ficou a ver navios, com acesso restrito a certos lugares da festa, sem ganhar um dinheirinho e sem ter a alegria e satisfação merecida como antes. Em Bananeiras, mais uma vez a cidade vai estar lotada de turistas e gente de fora, porém, o povo mais humilde do município não vai mais brincar o seu São João como antes, sequer vão ter o devido acesso as festividades, pois, como a festa está privatizada, tudo vai ser mais caro e mais complicado para os mais necessitados.

Cuidado para não misturarem esse assunto da GALDINIANA de hoje, com os programas governamentais de parcerias PÚBLICO-PRIVADAS, pois, são coisas completamente diferentes. Tem que haver um equilíbrio de oportunidades para todos. Repito, festa popular é uma coisa, festa privada é outra. Não adianta misturar o público com o privado, pois, assim sendo, só quem perde com isso é o povo. Que as festas privadas existam, pois, são importantes, uma vez que trazem divisas para a economia local, mas que sejam realizadas com dinheiro apenas privado. E que o dinheiro público seja gasto com as festas populares ( acesso livre e gratuito para todos ), só assim, o povão vai voltar a sorrir, a se divertir como antes, a ganhar uma renda extra com as vendas e serviços informais e a se sentir cada vez mais valorizados pelo poder público. Respeito às opiniões em contrário, mas não se pode misturar o público com o privado e deixar o povão sem se divertir e apenas lamentando e com saudade dos velhos tempos. É hora de repensar tudo isso, lembrando que festa popular é uma coisa e festa privada é outra coisa. Não tentem confundir JESUS com JENÉSIO e não me venham com respostas e explicações infundadas e para boi dormir. Além disso, nas festas de grandes aglomerações como ocorre em Bananeiras, cuide também da estrutura da SAÚDE, pois, se houver uma emergência com alguém, Guarabira, Campina Grande e João Pessoa ficam distantes. Lembrem disso, não gastem dinheiro apenas com festas e fantasias, pois, SAÚDE, MOBILIDADE URBANA E SEGURANÇA, também são fundamentais nesses grandes eventos!! Viva as nossas tradições e o verdadeiro São João Pé de Serra! Até a próxima GALDINIANA direto do Rancho Galdiniano em Bananeiras. Haja coração!

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba