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Festival de Música é bom demais: antes, durante e depois - Por Marcos Thomaz

Geralmente, após uma jornada extensa e cansativa de trabalho, tudo o que você busca é opção de diversão fora da rotina, outras pessoas, “outros sons, outras batidas, outras pulsações”.

Geralmente, após uma jornada extensa e cansativa de trabalho, tudo o que você busca é opção de diversão fora da rotina, outras pessoas, “outros sons, outras batidas, outras pulsações”.

Mas, há exceções!

Primeiro que, realmente, gosto dos meus colegas, além labor, sem demagogia, estilo “o sistema é mal, mas minha turma é legal”.

Além do mais, after de Festival de Música é roteiro certo de Jam Session, momentos raros, parcerias inusitadas, criatividade e otras cositas más.

Essa era a pedida na primeira noite de eliminatórias do V Festival de Música da Paraíba, em Campina Grande.

Com um aperitivo a mais, apresentação de luxo dos “forasteiros dessa edição do evento”, Elon e Helinho Medeiros.

Elon foi finalista do ano passado, mas daqui a pouco falo mais sobre essa dupla…

No embalo da empolgação alheia fomos bater em um “inferninho” campinense.

Pico da hora, lugar recém aberto, sensação do alternativo hype da Borborema.

Logo na entrada um cartão de visitas do que nos esperava.

Fachada de escritório de contabilidade, em garrafal letreiro azul, que, apesar das carinhas conhecidas adentrando o recinto, deixava em dúvidas sobre a indicação do bar “Aquela Ordinária”, mas o Uber, quase nos empurrando para fora, insistia que era ali mesmo o destino.

Uber, por sinal, uma jóia rara em Campina Grande. É uma aventura a parte tentar fazer uso do serviço na cidade.

E quando se consegue…

O retorno foi em um carango desmontando com o cidadão disputando a pole position com Hamilton e Verstappen, furando todos os sinais e quase derrubando minha cerveja, que eu não largava nem se ele ultrapassasse a linha do trem apitando.

Lá dentro uma mistura de boteco de quebrada paulista dos anos 80 com borracharia de beira de pista.

Uma obra de arte pós moderna, salpicada de cimento e reboco a mostra, meias paredes, caixa d’água, céu aberto a chuva, goteira, cerveja quente, e aquela tradicional vibe underground.

Para mim, que já tive inferninho bem menos conceitual que esse, tudo à pampa, fora a gela quase fervente.

Se fosse situado no Centro Histórico de João Pessoa aquele lugar estaria fazendo um calor duzinferno (de novo), mas estávamos em Campina, às portas de junho, do São João e seu friozinho característico da serra.

Matuto ao reverso, típico morador litorâneo, à menor brisa, estava me sentindo em pub subterrâneo londrino.

Eu circulava de agasalho pesado, talvez sob olhares estranhos dos outros.

Honestamente, só pensei nisso depois.

Lá, no momento, estava mais preocupado em garantir minha dose de Matuta e conseguir alguma “cerveja pra lavar”.

O local, cheio, decididamente, não estava preparado para receber aquele contingente de artistas e piolhos de festa em geral.

No primeiro gole, o primeiro acorde.

Viro para o palco lá está o duo Elon e Helinho.

Voz e teclado, aquela formação clássica de qualquer birosca brasileira.

Um desavisado, casualmente acessando o recinto para fazer seu imposto de renda no fim do prazo (a placa anuncia escritório contábil, lembra?) poderia achar tratar-se de um serestão estilo Zezo dos teclados.

Quem sabe aquele formato padrão de restaurante emulando clássicos da MPB com arranjo chinfrim de sample de bateria e “teclado duas notas”?!

Mas estamos falando de requinte luxuoso da melhor estirpe emepebista e estes “ista” todos que o povo gosta.

Elon e Helinho sozinhos preenchem mais espaço que muita pretensa banda “cheia” por aí.

E ainda teve a tradicional palinha com participações de luxo de parceiros diversos: dos conterrâneos pessoenses Titá Moura, Guga Limeira, Pedro Índio Negro,

A simbiose entre os Elon e Helinho é impressionante.

“Carne e unha, alma gêmea, bate coração”.

O lance é belo, poético, sutil e “Quentin” ao mesmo tempo.

Helinho é um mago dos teclados. Tem suíngue nas mãos. Toca como um polvo e faz a cama sonora se expandir na dimensão exata de Elon.

E olha que estamos falando do “maior cantor da Paraíba”, se é que me entendem.

Na vertical, com seus dois metros pra lá comprovando isso, além do imenso talento vocal, que, artisticamente, o coloca entre as grandes vozes da música local na atualidade.

O repertório, composto sob medida para este formato, tem potencial de hits em série à la Guilherme Arantes, já que falamos de composições ao teclado.

Para começar seria bom as rádios paraibanas, além da Tabajara, produtores, eventos, outros inferninhos, ou recantos mais familiares, ampliarem os espaços a Elons, Helinhos e Cia.

Fonte: Marcos Thomaz
Créditos: Polêmica Paraíba