Tudo pode ser encontrado pelos aplicativos. De transporte, com a comida, medicamentos, compras de supermercado…. Qualquer mercadoria e serviço podem ser requisitados pelas inúmeras plataformas para smartphones.
A quantidade de aplicativos tentando fidelizar clientes faz com que os preços se tornem cada vez mais atrativos e na grande festa idílica do capitalismo, alguns serviços, precarizados desde sempre, conseguem cair um degrau a mais. E graças a tecnologia.
Uma visualizada rápida pelos anúncios (múltiplos) das redes sociais e vemos uma proposta atrativa para quem quer economizar com o serviço de faxinas. Uma faxina pelo valor promocional de R$19,90. Sim. Uma faxina por vinte reais. Isso sem taxa de transporte/alimentação. No começo podemos entender que o valor acompanhado de um asterisco deve ser uma “pegadinha”. Deve ser R$20 o cômodo, mas não, esse valor é para a casa toda.
A proposta é uma forma de atrair clientes, o valor da chamada “faxina express” é de R$39,90. É basicamente a profissional ir na sua casa, lavar a louça, limpar vaso sanitário, passar uma vassoura na casa e colocar o lixo para fora. O serviço, que parece pouco, pode se tornar gigante. Não há transparência em qual o estado de pia e banheiro podem ser atendidos no serviço mais barato. Mesmo o aplicativo em questão dizendo que o desconto é bancado pela empresa, a diarista recebe o valor de R$39,90 pelo serviço e ainda tem descontado o valor da manutenção do aplicativo (que geralmente cobram de 12% a 20%).
Assim como outros serviços, em que a classificação dos profissionais depende da satisfação dos clientes, o serviço de profissionais de limpeza também mantém as funcionárias dependentes de avaliações subjetivas dos seus contratantes. No site Reclame Aqui é possível ver não só contratantes, mas profissionais relatando problemas com as plataformas. Um dos relatos diz que o valor de algumas diárias foi retirado após uma reclamação, mas que a plataforma não poderia dizer a profissional qual era a reclamação recebida. Outra diz que faz serviços além dos contratados para garantir uma boa recomendação, mas mesmo assim por falta de uma “estrela” vê sua classificação descer.
Vemos estudantes de administração de universidades conceituadas, que elaboraram start ups de tecnologia para fazer a categoria de profissionais domésticos regredir em anos de lutas por direitos. Os idealizadores do projeto se gabam de dar um tratamento de “empreendedor” para as profissionais. É disponibilizada oficina de padronização do serviço, atendimento ao cliente, a profissional recebe esclarecimentos de como contribuir com o Microempreendedor Individual (deixando claro que não existe vínculo empregatício entre profissionais e a plataforma).
As faxinas de R$19,90 criam um novo tipo de precarização na era digital. Imaginávamos que no futuro digital e inovador, os serviços domésticos seriam realizados por robôs, sem precisar pagar salários. Mas o que a tecnologia parece ter tido uma ideia melhor, transformou profissionais de carne e osso em máquinas de trabalho barato.
Fonte: Amara Alcântara
Créditos: Polêmica Paraíba