A atitude da deputada estadual Camila Toscano, do PSDB, cobrando do governador socialista João Azevedo o afastamento de secretários como Livânia Farias e Waldson de Souza, citados e investigados na Operação Calvário, põe a atual gestão na berlinda e exige do sucessor de Ricardo Coutinho a mesma postura firme que demonstrou quando operou a decretação de intervenção no hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa, administrado pela Cruz Vermelha em outros hospitais geridos por organizações sociais (OS). Aliás, havia uma vaga expectativa na opinião pública de que os secretários acusados ou investigados tomassem a iniciativa de pedir afastamento ou exoneração para poder responder com suposta isenção, sem a bênção dos cargos, às denúncias. Nada disso prosperou, como se sabe.
Não é uma questão de lana caprina que está em pauta; muito pelo contrário, tem consequências de alto potencial danoso aos cofres públicos e à instrumentalização de uma área essencial como a Saúde Pública, por onde escoaram desvios para pagamento de faturas de campanhas eleitorais mediante a forma de propina. Em outras palavras, tem-se o enredo que gravita em torno de uma relação incestuosa entre o público e o privado, com aquisição de imóveis e rateio de benfeitorias entre apaniguados que se serviram do erário. A deputada Camila Toscano, num rasgo de indignação, chegou a propor até mesmo o questionamento da legitimidade do mandato conquistado por João Azevedo que teria sido tisnada uma vez comprovada a utilização de recursos oriundos de caixa dois na empreitada política-eleitoral.
Um outro aspecto relevante que a deputada tucana invocou diz respeito à deliberação anunciada pelo governador João Azevedo de abrir licitação para a contratação de novas organizações sociais supostamente idôneas com a mesma finalidade de gerir hospitais de média e alta complexidade, num Estado onde, sinceramente, a Saúde Pública dá pena, pelo caos de que se reveste. Textualmente, indaga Camila Toscano: “Adianta mudar a organização social se você vai permanecer com as mesmas pessoas na gestão? Será que não se formará uma nova organização criminosa com esses mesmos secretários?”. Abstraindo a hipótese, dá-se a pertinência da colocação – e não é possível que a administração permaneça insensível. Passa, inclusive, a imagem de falta de autoridade própria. Ou a suspeita de conivência subliminar com fatos desabonadores.
O que a opinião pública intui, de forma subjetiva, à falta de informações mais detalhadas ou transparentes, é que a administração do governador João Azevedo não está sendo ousada o suficiente para cortar o mal pela raiz, porque a verdade é que sem essa providência elementar nada mudou, nenhuma experiência inovadora está em curso. Tudo bem: na campanha eleitoral foi massificado além da conta que o governo de João Azevedo seria o governo da continuidade da Era Ricardo Coutinho. Em sua esmagadora maioria, a equipe de Coutinho continua refestelada no poder, com ares de quem não tem nada a temer, porque possivelmente “dessa mata não sai coelho”. Ou seja, está tudo como d’antes no Quartel de Abrantes, para invocar o brocardo popular.
Não há quem tenha a coragem de dizer ao governador João Azevedo que ninguém governa bem carregando a alça do caixão de vítimas de falcatruas orquestradas, conforme o minucioso relatório do Gaecco e do Ministério Público, por organizações criminosas, não por organizações sociais com compromisso com o interesse público. Ou seja, em vez de OS, há proliferação de “Orcrim”, como tem sido propalado para designar o que “está aí”. Falta ao governador João Azevedo uma providência simbólica bastante conhecida: dar o murro na mesa. Somente após isso ele estará na plenitude abancado na cadeira de governador. Do contrário, passará à História como fantoche, é o que se diz.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba