E lá já se passaram 87 anos da realização da primeira CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito no Brasil. A primeira constituição a consagrar a CPI foi a Constituição de 1934, mas somente para a Câmara dos Deputados. Naquele momento político brasileiro, só competia a Câmara criar as CPIs. Passados 12 anos – em 1946 – foi instituída a sua realização para as duas casas do Poder Legislativo: – Câmara e Senado Federal. Importante lembrar que ao longo de todo esse tempo algumas deram certo outras foram verdadeiros fiascos. Por outro lado, (e aqui cabe um desconto) registros jornalísticos nos lembram que pelo menos sete CPIs conseguiram mexer com as estruturas do país nas últimas décadas: cassação de mandatos, prisão de juiz e até o processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor.
No entanto, faltando uma semana para o final da CPI da Covid, confesso que ainda não estou muito seguro de que esta, também, não acabará em pizza. A propósito, essa edição, criada em abril com prorrogação em julho deste ano por mais três meses, poderá ser encerrada, acredito, que uma semana antes do previsto – 05 de novembro, – entre a conclusão da investigação e apresentação do relatório. Ao longo de todas as edições de CPIs instaladas para debater temas importantes, sério demais até, a maioria acabou em total decepção.
Só a guisa de informação para aqueles que ainda se perguntam o que o Brasil quer dizer com a expressão “aqui tudo acaba em pizza”, tal expressão, de acordo com o que consegui apurar, surgiu na década de 60, depois de uma reunião do Palmeiras. Por tanto, não é uma frase que nasceu dentro da política. Como pudemos ver, nasceu num momento do futebol. Na verdade, de um litígio entre os dirigentes do Palmeiras, segundo um artigo publicado em 2013 pela Agência Câmara de Notícias, em que explica perfeitamente o significado da famosa frase.
Em meio a crise vivida pelo clube e após discussões acaloradas por mais de 14 horas, os dirigentes resolveram terminar a discussão em uma pizzaria a base de muito vinho e, obviamente, muitas fatias de pizzas. O resultado foi que os desentendimentos acabaram sumindo e os dirigentes acabaram amigos novamente. No dia seguinte, o jornalista Milton Peruzzi estampou a manchete no jornal Gazeta Esportiva: “Crise do Palmeiras termina em pizza”. Assim surgiu o bordão que logo foi aplicado aos estapafúrdios resultados verificados a cada realização de Comissões Parlamentares de Inquéritos.
Diz o velho ditado que “gato escaldado tem medo de água fria”, é bem verdade, continuo bastante desconfiado! Mas ao tentar dar aquele desconto pelos resultados apresentados pela CPI da Covid, independente de qual for o resultado, pelo menos esta me pareceu (e ainda me parece) mais guerreira e investigativa. Pelo menos vieram à luz nestes últimos seis meses, desde a sua instalação, nomes de personalidades que sempre agiram às escondidas pelo mal do país, bem como ouvimos falar da existência de grandes empresas que tiveram lucros absurdos e que foram vergonhosamente botados na conta de milhares de famílias – em sua maioria, formada por pessoas pobres ou paupérrimas – que foram acometidas pela Covid-19 ou que tiveram parentes ou amigos mortos – hoje 600 mil – vitimados pela doença e enterrados em covas rasas. Era a ação do mercado do terror instalado por autoridades corruptas, políticos e empresários desonestos, todos muito bem acobertados pelo manto da impunidade.
E está sendo através da CPI da Covid que nos familiarizamos com nomes como Prevent Senyor, acusada de ocultar mortes de pacientes por Covid-19 e de pressionar médicos a prescreverem remédios ineficazes contra a doença, também suspeito de participar de um “gabinete paralelo” do Palácio do Planalto, que, para a CPI, orientava o presidente Jair Bolsonaro sobre condutas durante a pandemia. Foi através dela que passamos a conhecer, também, VTCLog, Precisa Medicamentos, Belcher Farmacêutica, dentre outras, além de nomes como: Francisco Maximiano, do Diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Saúde Roberto Diaz, do policial Luiz Paulo Dominghetti, da médica Nise Yamaguchi, da capitã Cloroquina’, como ficou conhecida a Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério Saúde, a Dra. Mayra Pinheiro, bem como de outros já bastante conhecidos da mídia, como o empresário Luciano Hang, do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o deputado federal pelo PP-PR, Ricardo Barros, só para ilustrar.
A boa notícia é que todos que tiveram participação efetiva nos desmandos apurados e que, de uma forma ou de outra, foram partícipes dos chamados gabinete paralelo e gabinete do ódio, além de todos aqueles que tiveram responsabilidade no desvio de dinheiro público e da roubalheira”, deverão pagar pelos seus crimes, inclusive e principalmente, o presidente Jair Bolsonaro, que de acordo com informações da própria CPI, – através do seu relator, senador Renan Calheiros, – o principal responsável pela má gestão da crise, abrindo precedentes para que muitos agissem puxando dinheiro da saúde com um rodo para os próprios bolsos. Renan disse que o relatório da CPI ‘com certeza’ pedirá indiciamento de Bolsonaro. Ao ser questionado se o presidente poderá ser mesmo indiciado ao final da CPI, ele disse que “não vamos falar grosso na investigação e miar no relatório”.
A cúpula da CPI, na verdade, prevê o pedido de indiciamento de pelo menos trinta pessoas no relatório final da comissão. A leitura do documento está prevista para o dia 19 de outubro, e a votação para o dia 20. O relator, por fim, nos dá esperanças de seriedade e de que o dever será cumprido, ao garantir que, “essas pessoas serão realmente responsabilizadas. A partir do próximo dia 15 a Comissão terá o relatório pronto e conversará individualmente com cada membro da comissão sobre o texto. Nós utilizaremos os tipos penais do crime comum, do crime de responsabilidade, do crime contra a vida, do crime contra a humanidade e estamos avaliando com relação a indígenas a utilização do genocídio”. Após a votação, Renan prevê que o documento seja encaminhado a diferentes órgãos.
E dessa forma, ouvindo tudo isso, a gente chega quase a acreditar no fechamento dessa famigerada pizzaria que nos frustra há décadas e até nos permitimos ter a esperança de que finalmente o Brasil poderá deixar de ser taxado como uma república de bananas para tornar-se de uma vez por todas em um país sério! O Relatório da CPI deve ser votado na segunda quinzena deste mês e em seguida, será enviado ao MP, que decidirá sobre indiciamentos. E sendo assim, que não nos decepcione!
Fonte: Francisco Airton
Créditos: Polêmica Paraíba