A derrota da política de Pedro Patente (PSDB) e dos neoliberais que mandam no governo Temer não é completa porque o governo vai bancar, repassando recursos do Tesouro diretamente para a Petrobrás, as diferenças no preço do combustível.
Mas, entre outras coisas, esse acordo serviu também para mostrar o alinhamento político das lideranças do movimento dos caminhoneiros ao conservadorismo político e econômico no país, e não apenas dos donos das grandes transportadoras. Em momento algum essas lideranças se confrontaram com a política de preços dolarizada dos combustíveis praticada por Pedro Parente à frente da Petrobras.
Visto por outro ângulo, trata-se de uma ampla derrota ideológica do mercadistas de dentro e de fora do governo. Primeiro, porque SUBSÍDIO é uma palavra proscrita no dicionário dos nossos NEOLIBERAIS, no seu servilismo asquerosamente antinacional e antipopular, já que subsidiar é prática corrente nos Estados Unidos e Europa.
No final das contas, o Estado é quem pagará essa conta ao deixar de cobrar impostos para manter intocada a política de Pedro Parente (o governo calcula em 10 bilhões de reais, mas certamente será muito mais que isso, como sempre.) E trata-se de algo que seria mais grave que uma mera “socialização das perdas” dos acionistas da Petrobrás. A ideia inicial era deixar de cobrar PIS e Cofins, cuja arrecadação é destinada, entre outras, a financiar a saúde e o seguro-desemprego.
Por fim, o saldo final da greve dos caminhoneiros é, aí sim, um duro golpe no discurso neoliberal que tenta desde sempre tornar imune às pressões políticas da sociedade civil a “tecnicidade”, sobretudo as econômicas, de determinadas decisões que visam unicamente proteger os lucros do mercado financeiro e dos conglomerados econômicos.
Quando a poeira baixar seremos mais capazes de perceber que a esquerda terá sido a grande beneficiária, se não no plano organizativo, mas político e sobretudo ideológico.
Porque, para além da ingenuidade propagada por muitos ao longo dos últimos dias de “disputar” um movimento dos caminhoneiros por ser ele “heterogêneo” (isso é mais uma platitude porque vale pra qualquer movimento social), ou do ubaldismo de que a greve dos caminhoneiros preparava na realidade um golpe militar ou aprofundaria o golpe parlamentar que colocou Temer no poder, enfiamos uma cunha no discurso neoliberal, que também é o de Jair Bolsonaro (notaram que ele se fez de morto ao longo dos últimos dias?)
E sabe por que? Porque a hegemonia neoliberal pressupõe uma sociedade civil amorfa, distante da política. Como diz um conhecido teórico neoliberal, Kenish Ohmae: o Estado não pode ser prisioneiro da sociedade. E no Brasil dos últimos dias, nós observamos de tudo, menos isso.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Flávio Lúcio