Reflexão

Errei nos prognósticos - Por Ronaldo Cunha Lima Filho

Ronaldo Cunha Lima Filho traz uma reflexão da vida após completar 64 anos de idade, neste 2 de setembro de 2024.

Foto: Arquivo
Foto: Arquivo

Quando eu era criança imaginava que chegando aos 60 anos não conseguiria andar sem a ajuda de muletas ou de uma cadeira de rodas, não conseguiria comer sozinho ou mesmo tomar um banho sem a ajuda de alguém. Minhas projeções eram pessimistas; supunha que já não teria mais memória; talvez nem mesmo do meu nome eu lembrasse.

Acreditava que estaria dando trabalho a todos em minha volta, ainda hoje o maior dos meu medos.

Pois bem, já passei dos 60 e hoje (2/9) completo 64 anos de vida.

Como um filme rodando acelerado, na minha mente passa a história de minha vida: a maravilhosa infância na Rua Solon de Lucena, em Campina Grande, onde brincava de patinete, soltando coruja, jogando peão e bola de gude e onde também criava uns bichos, como um desafortunado urubu, que tragicamente afogou-se no esgoto do quintal de casa.
Naquele tempo não sofri nenhuma grande perda, exceto uma que iria me marcar pelo resto da vida: arbitrariamente cassado pela ditadura militar, meu pai, o poeta Ronaldo Cunha Lima, então prefeito de Campina Grande, com 45 dias de empossado, viu-se obrigado a deixar sua terra amada para, com sua família, tentar a vida em São Paulo. Foi aí que se deu a minha primeira, traumática e muito dolorosa perda: perdi o meu quintal. Perdi a minha infância, os militares a roubaram de mim. Até hoje eu sinto as dores daquele tempo. Essas dores parecem não ter cura.

Depois de São Paulo, já no Rio de Janeiro, onde fomos morar, meus prognósticos sobre como seria a vida de um idoso, continuavam desalentadores: após os 60 anos, eu pensava, vc seria um incapaz, deitado no fundo de uma rede, assistindo a novela da 8h e a um filme qualquer na sessão da tarde. Netflix? Streaming? Era inimaginável.

Vou acelerar a história pra finalmente chegar nos dias atuais. Como disse no início, hoje completo 64 anos. O que dizer, então? Graças a Deus errei nas minhas previsões. Não preciso de nenhum apoio material ( como muletas) pra me mexer, nem preciso do apoio de ninguém pra realizar as tarefas mais comesinhas. Mas das pessoas eu preciso do afeto, do carinho, do amor, da solidariedade, da compreensão. Eu não me imagino vivendo sem o amor daqueles que quero bem, sem a presença dos amigos e familiares, sem ter alguém com quem eu possa dividir minhas dores. E as alegrias também, claro!

Eu tenho sorte, tenho uma família incrível e amigos mais que especiais. Tenho 4 filhos, cada um mais lindo que outro e tenho uma mulher dos sonhos. Ele se chama Roberta e é 29 anos mais nova que eu. Talvez aí esteja a explicação. É que na verdade eu tenho a idade da mulher que eu amo.