
A proposta de formação de federação entre o PP do deputado federal Aguinaldo Ribeiro e o União Brasil do senador Efraim Filho não estava nos planos do senador, mas talvez não fosse propriamente descartada, conhecendo, como ele conhece, os bastidores e a influência que o jogo político nacional tem sobre as realidades regionais. Por isso é que Efraim admite dividir espaços com o PP ou, como ele diz, testar uma “gestão compartilhada” no âmbito da federação. Mas o senador nem quer perder o comando da federação (avalia mesmo que ficará com o controle do agrupamento, se as conversas evoluírem) nem cogita retirar de pauta a aspiração de ser candidato a governador nas eleições de 2026. Dentro da sua estratégia, a federação seria um reforço a mais para viabilizar o projeto de candidatura, do ponto de vista operacional (tempo de TV e recursos partidários), e isto lhe motiva a, pelo menos, ensaiar diálogo para dimensionar os espaços que poderiam ser conquistados.
Na entrevista que concedeu, ontem, à rádio Arapuan, Efraim Filho foi realista ao admitir que a efetivação da federação é uma engenharia complexa em alguns Estados, como a Paraíba, dadas as peculiaridades da conjuntura local, não obstante a respeitosa convivência com os signatários do PP. No plano nacional, PP e União Brasil atuam, doutrinariamente, num mesmo campo, fazendo parte do chamado Centrão, agrupamento que acumulou nacos de poder nos últimos anos em meio à desidratação sofrida por algumas siglas tradicionais, praticamente isoladas na configuração atual do cenário político brasileiro. Até mesmo o PSDB, que chegou a polarizar com o PT durante períodos históricos da crônica de poder no país, alçando à Presidência da República em dois mandatos com Fernando Henrique Cardoso, amarga definhamento de quadros, que têm debandado para o PSD, como ocorreu em nosso Estado com relação ao esquema Cunha Lima, representado pelo ex-governador Cássio e por seu filho, Pedro. O União Brasil, enquanto isso, está bem posicionado na emergente correlação de forças, e a partir do próximo ano o próprio Efraim chefiará a poderosa Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional.
A dificuldade para o fechamento da federação está na conjuntura política paraibana, onde o PP é aliado do governador João Azevêdo (PSB), ocupando o cargo de vice-governador com Lucas Ribeiro, enquanto o União Brasil combate abertamente o governo de João Azevêdo e está alinhado com o PSD do clã Cunha Lima e com outros segmentos de oposição, abrigados, inclusive, na direita bolsonarista que é representada pelo ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ex-candidato a prefeito de João Pessoa nas eleições de 2024. Lucas Ribeiro, diga-se de passagem, é pré-candidato ao governo dentro do esquema oficial, o que significa que é concorrente do senador Efraim Filho. A conciliação de interesses tão concorrentes, mas, ao mesmo tempo, diferenciados, é que torna complexa a tarefa de viabilizar a federação na Paraíba. Quanto ao comando da federação, Efraim sugeriu que o critério fosse o da pesquisa sobre quem tem votos – mas essa questão parece menor diante do aceno de “gestão compartilhada”. O impasse, mesmo, é na definição da candidatura a governador para 2026.
A costura da aliança, com prazo de validade, entre PP e União Brasil, atende mais de perto às ambições dos líderes nacionais que precisam dar demonstração de força com vistas ao pleito presidencial do próximo ano, onde o presidente Lula (PT) poderá concorrer à reeleição, e a direita poderá ficar desfalcada de Jair Bolsonaro (PL), dependendo do julgamento que está começando no Supremo Tribunal Federal sobre o rosário de acusações a ele atribuídas, incluindo preparação de suposto golpe de Estado. As expectativas imediatas estão focadas no desfecho desse julgamento, que poderá não só levar Bolsonaro para a prisão como apagá-lo de vez do cenário eleitoral vindouro. O ex-presidente, como se sabe, tenta desesperadamente reverter acusações que lhe foram imputadas para, com isso, resgatar a sua elegibilidade que está suspensa por determinação do Tribunal Superior Eleitoral. Como reserva qualificada na direita nacional fala-se no nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que é filiado ao Republicanos, não ao PL, entre outros nomes agitados.
Para Efraim, a viabilização da federação reforçaria seu cacife no próprio cenário político-eleitoral da Paraíba, no confronto com os aliados da oposição, pois não é segredo que o ex-deputado Pedro Cunha Lima e o deputado federal Romero Rodrigues, do Podemos, também ambicionam disputar o governo do Estado. Pedro tomou gosto pelo projeto diante da votação expressiva alcançada na disputa de 2022 contra João Azevêdo e que o projetou para disputar um segundo turno, perdendo para o atual chefe do Executivo por diferença estreita em relação aos prognósticos que eram disseminados. Efraim, que mantém escancarados os canais com Pedro e outros expoentes da oposição, acredita que conseguirá, se for indicado candidato, liquidar o reinado socialista que caminha para duas décadas no território tabajara. Como tática, repete o artifício do contato permanente com as bases municipais (prefeitos, vereadores) mirando na ampliação da sua capilaridade eleitoral para se credenciar a ser o nome da oposição. Enquanto as definições não se aceleram, Efraim mantém-se atento à retaguarda no União Brasil para não ser surpreendido por acidentes de percurso que possam pipocar na esteira das decisões tomadas pelas cúpulas nacionais dos partidos interessados em se aliançar para 2026. O desafio maior a ser vencido é a construção da tal federação.