O presidente Jair Messias Bolsonaro assumiu, de público, a defesa da institucionalização do nepotismo escancarado dentro do seu governo, ao voltar a insistir na indicação do filho, Eduardo Bolsonaro, para embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Admitiu que se pode beneficiar um filho, qual a razão de não fazê-lo? Também se deixou trair ao confessar que está reservando o “filé mignon” para o filhinho querido. Nenhuma referência a supostos méritos do rapaz para ser premiado com a sinecura da embaixada. Aliás, os “méritos” já referenciados pela mídia resumiram tudo: o menino sabe fritar hambúrguer e tem ligações com a família do presidente americano Donald Trump. Cacifes poderosíssimos, sem dúvida.
A impressão que se tem é de que o governo está paralisado porque a cabeça do presidente gravita em torno da confirmação da nomeação de Eduardo para o posto diplomático. Nas últimas horas, em manobra diversionista plantada a partir de Brasília, cogitou-se que ao invés do filho do presidente, o ministro das Relações Exteriores, que tem mais proximidade com o universo diplomático, fosse designado para a embaixada, contanto que Eduardo, que exerce mandato parlamentar, fosse alojado no ministério, como estratégia para amarrar a relação com os Estados Unidos, que Bolsonaro pai preza tanto. Na prática, o ministro Araújo, caso virasse embaixador, seria tratado como uma espécie de rainha da Inglaterra, sem maior poder decisório, já que Eduardo, esteja onde estiver, tem linha direta com a Casa Branca. E, para Bolsonaro, isso basta.
Há quem avalie que o presidente Bolsonaro foi de uma transparência a toda prova ao proferir esses comentários sobre o privilégio que está para ser conferido ao filho. O problema é que o excesso de transparência do presidente na exaltação das “virtudes” do Zero Três para ocupar uma embaixada labora contra os princípios éticos e morais pelos quais os governos democráticos devem procurar reger-se. O presidente está tratando a nomeação de um embaixador numa das maiores potências mundiais como um assunto de família, não como um problema de Estado, que é como deveria ser encarado. Ou seja, temos um governo focado no aparelhamento familiar, na distribuição de cargos a granel com “os de casa”. Alguma semelhança com posturas oligárquicas de cinquenta anos atrás na história do Brasil? Toda semelhança, podem acreditar.
Aliás, o cabo de guerra em torno da confirmação da nomeação do Zero Três para embaixador do Brasil nos Estados Unidos faz ressuscitar historinhas do folclore político, relacionadas justamente à prática nefasta do nepotismo. E um dos exemplos citados, invariavelmente, é o do ministro cearense José Linhares, que alçado à presidência da República em momento excepcional da vida política brasileira, atribuiu-se a prerrogativa de publicar edital nos grandes jornais do país convocando qualquer pessoa com seu sobrenome, o que indicaria laços de parentesco, para se apresentar aos canais competentes e ganhar uma nomeação de bandeja no serviço público. Foram tantos os voluntários que a imprensa satirizou, como não poderia deixar de ser, o governo então vigente, rotulando a equipe do presidente de “Linharada”. O argumento do ministro era o de que desejava viver em paz, junto à família, o resto dos seus dias, sem ter que estar sendo admoestado por estar na presidência da República e não se lembrar de um parente qualquer.
Como de praxe, o candidato a embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro, não se manifesta sobre o contencioso que terá que enfrentar à frente do posto, tampouco oferece qualquer pista sobre quais os conhecimentos que detém sobre a conjuntura geopolítica mundial, pródiga em mutações e em alinhamentos, dependendo da influência, sobretudo, dos interesses econômicos, que acabam pautando a agenda política. Não parece haver dúvidas quanto à aprovação da escolha de Eduardo Bolsonaro para embaixador. Apesar da resistência emanada de alguns senadores, a indicação do deputado tem poucas chances de sofrer um revés na Comissão de Relações Exteriores e no plenário do Senado. Até hoje, apenas uma indicação foi rejeitada pelos senadores. Em 2015, o plenário derrubou a indicação do embaixador Guilherme Patriota para a representação do Brasil na Organização dos Estados Americanos, feita pela então presidente Dilma Rousseff. Mas o governo de Dilma já estava em derrocada e deu no que deu – o impeachment. Bolsonaro aparenta estar com todo o gás – inclusive para ressuscitar a imagem do Brasil no folclore internacional como “uma República de bananas”!
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Nonato Guedes