Aprendi desde criança que não se deve usar o nome de Deus em vão. Esse mandamento contido nas doutrinas cristãs não está sendo considerado nos tempos atuais. Especialmente na política, onde a citação de Deus é feita de forma abusiva e desrespeitosa até. O discurso religioso tem ganho muito espaço nos embates políticos. Muitos desses atores políticos buscam transformar Deus em “cabo eleitoral” de seus projetos de poder. O nome dEle é colocado inclusive como apoio a golpes de estado.
Tentam convencer o eleitorado de que Deus escolheu um lado. Buscam associar os seus interesses pessoais ao nome de Deus, como se tudo o que fizerem tenha inspiração divina. Chegam ao absurdo de usar o nome de Deus como justificativa para a opressão ou adoção de políticas que persigam adversários, aplicando injustiças, tortura, linchamento moral público. Esse Deus que eles colocam nas suas narrativas político-religiosas, com certeza não é o Deus que todos nós reverenciamos: o Deus da paz, do amor, da fraternidade.
Essas manifestações impróprias do nome de Deus podem ser consideradas blasfêmias. A cultura da violência em nada se afina com o Deus de Jesus. É muito grave essa retórica. O Deus bíblico ouve o clamor do seu povo para libertá-lo das escravidões (Êxodo 3), e não para a aprovação do cometimento de arbitrariedades e maldades. O Deus do amor que eu conheço está sempre em defesa dos mais pobres e dos menos favorecidos. Ele não aceita preconceitos, violências, humilhações. Ele é tolerante com os diferentes, porque não faz distinção de nenhuma forma. Todos são iguais aos seus olhos.
Os governos com inspiração autoritária e antidemocrática não têm o direito de exercê-los em nome de Deus. Muitos políticos são profissionais da religião visando a manipulação dos fiéis para atendimento dos seus interesses partidários ou ideológicos. Desconhecem a recomendação de que é preciso semear perdão onde houver ofensa, amor onde houver ódio, esperança onde houver desespero, luz onde houver trevas, verdade onde houver mentira e união onde houver discórdia.
Deus não está acima de todos, Ele está no meio de nós. Por isso colocou Seu filho, feito homem, para conviver conosco, experimentando nossas vivências humanas mesmo sendo uma divindade. Ele está presente em tudo o que se constitui sua criação. Ele não tem preferências políticas, nem se coloca a serviço de governantes que praticam o que Ele condena. Ele não aprova quem governa pelo medo. O nome santo de Deus não pode ser usado por quem nega o que o Evangelho ensina.
Em êxodo 22.7 está escrito: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não considerará inocente quem tomar o seu nome em vão”. Quando na política não se consegue mostrar a capacidade de representar os valores cristãos no mundo público, se está violando o terceiro mandamento do Decálogo. Deus está ausente de núcleos ideológicos em que Seu nome é usado para fins escusos. A idolatria messiânica se constitui negação da visão cristã do mundo político.
Rui Leitão
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão