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Ditadura militar teve apoio de civis, Igreja, EUA e de três governadores - Por Nonato Guedes

Pelo menos três governadores apoiaram abertamente a derrubada do governo de João Goulart: Carlos Lacerda, da Guanabara, Magalhães Pinto, de Minas Gerais, e Adhemar de Barros, de São Paulo. Todos pretendiam candidatar-se a presidente da República nas eleições previstas para 1965.

A ditadura militar instaurada no Brasil no dia 31 de março de 1964 e cuja recordação, 55 anos depois, provoca controvérsias a partir da atitude do presidente Jair Bolsonaro estimulando manifestações favoráveis, não foi tramada sem o apoio dos civis, conforme registram historiadores. Carlos Taquari, no livro “Tiranos& Tiranetes”, que aborda a ascensão e queda dos ditadores latino-americanos e sua vocação para o ridículo e o absurdo, revela que muito antes da eclosão do golpe militar políticos e empresários percorriam os quartéis acenando com a ameaça do comunismo. “O fato é que boa parte da classe política, da imprensa, do empresariado e da Igreja Católica, alguns deles financiados pela CIA, defendia o golpe”, assinala Taquari.

Pelo menos três governadores apoiaram abertamente a derrubada do governo de João Goulart: Carlos Lacerda, da Guanabara, Magalhães Pinto, de Minas Gerais, e Adhemar de Barros, de São Paulo. Todos pretendiam candidatar-se a presidente da República nas eleições previstas para 1965. Nos planos deles, os militares se livrariam de Goulart e manteriam o calendário eleitoral, quando eles esperavam disputar o poder. De quebra, afastariam um poderoso rival: Leonel Brizola, deputado, ex-governador do Rio Grande do Sul e cunhado de Goulart. Lacerda era o mais afoito. Sua metralhadora verbal fez mais estragos contra o governo Goulart do que as armas mobilizadas pelos militares, compara Taquari. Os conspiradores não aceitavam a implantação do programa de reforma agrária anunciado por Goulart, a nacionalização das refinarias e as mudanças na política externa, em direção à China, Cuba e União Soviética.

Taquari lembra que os autores do golpe prometiam, a princípio, respeitar as instituições e colocar o país no caminho da redemocratização. Mas, aos poucos, acabaram cedendo às tentações da tirania. Primeiro, pela suspensão do Estado de Direito e das liberdades fundamentais, entre elas, a da livre expressão. Depois, partiram para a repressão e a eliminação dos opositores, pela prisão, pela morte, ou pelo banimento político. Nessa trajetória, acabaram se juntando ao que de pior havia no aparelho policial, incluídas figuras ligadas aos esquadrões da morte. Oficiais das Forças Armadas, formados para servir à pátria, se integraram aos aparelhos de repressão e viraram gerentes dos porões onde os presos políticos eram eliminados sem direito à proteção do Estado ou a julgamento justo. Nas prisões ou nas ruas, as vítimas eram muitas. Entre os mais conhecidos, Rubens Paiva, Frei Tito, Vladimir Herzog, Stuart e Zuzu Angel e Manoel Fiel Filho.

No Nordeste, chamou a atenção a resistência sustentada pelo governador de Pernambuco, Miguel Arraes de Alencar, do PSB. Mesmo com o avanço das tropas golpistas, ele se manteve no Palácio do Campo das Princesas em vigília, na companhia de auxiliares fiéis e de discípulos políticos provenientes de vários Estados, como a Paraíba, em cuja delegação destacava-se o ex-deputado Assis Lemos, defensor das Ligas Camponesas. Arraes recebeu voz de prisão e foi levado para Fernando de Noronha. Acabou sendo exilado, permanecendo por muito tempo na Argélia, de onde voltou com a decretação da anistia, tendo sido eleito novamente governador de Pernambuco e deputado federal pelo PSB. Na Paraíba, o governador de plantão por ocasião da eclosão do golpe foi Pedro Moreno Gondim, líder populista, que ficou entre dois fogos – ora insinuando apoio à legalidade democrática, ora acenando composição com a nova ordem. Ele passou o governo a João Agripino Filho, eleito pelo voto em 1965, derrotando Ruy Carneiro. Agripino era alinhado com a nova ordem, mas não se revelou um político subserviente, tendo contestado abertamente atos arbitrários cometidos no período.

O apoio do governo dos Estados Unidos à implantação da ditadura militar no Brasil foi materializado através da operação Brother Sam, organizada pela CIA e pelo Departamento de Estado e destinada a oferecer apoio militar ao golpe contra o governo de João Goulart. Foi deflagrada com o deslocamento do porta-aviões Forrestal, acompanhado por quatro contratorpedeiros e pelo menos um submarino. Na avaliação equivocada da CIA e do embaixador dos Estados Unidos, Lincoln Gordon, o golpe seria sangrento e Jango teria apoio de forças leais ao governo, que iriam dificultar a tomada do poder. Mas não houve resistência e as armas e munição dos Estados Unidos não chegaram a ser utilizadas.

Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes