Desconfiar faz bem? - Por Ronaldo Filho

Desconfio de médicos e advogados que trocam os consultórios e escritórios pelos holofotes. Muitos deles até que prestam um bom serviço à sociedade, é verdade, mas ainda assim eu desconfio. Em suas falas não há espaços pra dúvidas ou incertezas. Eles são os donos da verdade. A soberba ( mesmo que velada) são suas inseparáveis companheiras. Já já uma dessas sumidades vai propor que imediatamente deixemos de comer ovos, pois as galinhas estão à beira da extinção

. Eu, que não sou besta, já estou criando as minhas aqui no quintal.

No Rio, estudei no Colégio São Vicente de Paulo, um colégio de padres da ordem Paulina. Dentre outros preciosos ensinamentos que me foram transmitidos um particularmente me marcou: o de ver tudo com olhar crítico. A idéia é não se deixar levar pelas coisas sem questionamentos.

Desconfiar dos que se dizem donos da verdade. Daqueles que pensam ser os emissários de Deus na terra. Daqueles que apresentam a cura pra todos os males. Desconfio! Desconfio e tento com humildade e a mente aberta encontrar a verdade real sem, contudo, ultrajar aqueles que se contrapõe a mim. Não preciso ofender ninguém. Mas o faço se necessário, em caráter de excepcionalidade, exercitando a retorsão.

Não sou teleguiado, posso mudar meu rumo em pleno voo( pra lá ou pra cá!) sem nenhum problema. “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.” Cantava Raul Seixas.

A maleabilidade faz uma tremenda falta ao Brasil dos dias atuais, um país dividido e sequelado por uma disputa política fratricida que vem dilacerando o tecido social com um apetite voraz .

Há algo errado acontecendo. O órgão que por sua natureza precisa de discrição plena é aquele que mais aparece no noticiário; é o grande protagonista da política nacional. Me refiro obviamente ao STF. E o congresso? Que congresso? O caso do STF é apenas um exemplo, há vários outros! Fica pra próxima.

Precisamos de tolerância. De respeito ao outro. De respeito ao pensamento do outro. De mais inteligência e menos burrice. E burrice, infelizmente, é o que não tem faltando. São burros ou inteligentes os que clamam pela volta da ditadura militar? Estes não desconfiam de nada? Ou sou eu que estou desconfiado deles? De uma coisa
eu sei: eles me assustam.

Há dois exércitos que se digladiam a todo instante. O fenômeno das mídias digitais deu armamento pesado a quem antes sequer um estilingue tinha. Todo mundo tá armado. É chumbo trocado pra todo lado. Vejo pessoas que reputo inteligentes propagando cada asneira, que chega a doer no peito.