Acompanhando por aqui, e confesso, com uma pulga atrás da orelha, os novos ventos que começam a soprar estranhamente na política da Paraíba. Desde que se começou a articular pela Assembleia Legislativa (ALPB), o chamado G10, pude observar que alguma coisa começava a acontecer e que poderia causar sérias transformações para um governo que estava apenas começando! Senão vejamos: se ao assumir o governo em 01 (primeiro) de janeiro e, por mais uns 60 dias, João Azevedo detinha a maioria de parlamentares, cerca de 24 dos 36 deputados (que também assumiam suas posições no mesmo período), já nos primeiros meses enfrentava a possibilidade de não contar com 100% da aprovação dos até então, aliados, pois dos 24, 10 declaravam independência! Isso, se não enfraquecia o governo que ainda engatinhava, já lhe mandava um aviso de que era necessário pisar no chão direitinho!
Quase que ao mesmo tempo, João enfrentava uma crise de divisão dentro do seu próprio partido, o PSB, o que foi imediatamente desmentido pelos representantes partidários mais diretos, mas que nunca foi de fato esclarecido e até hoje paira a ameaça de rompimentos, brigas, discordâncias (chamem como quiserem) internamente. Afinal, o governador João Azevedo continua alinhado em atos e pensamentos com a estrela maior do PSB na Paraíba, o ex-governador Ricardo Coutinho? Perguntando a qualquer assessor mais direto, parlamentares ou secretários se existe algum estremecimento, isso é rechaçado imediatamente. Mas não existe ditado popular mais certo: “onde há fumaça, há fogo”! Por mais que se queira negar, é visível o corre-corre para se apagar pequenos focos de incêndio aqui ou acolá!
É bastante clara as diferenças entre Ricardo e João, as duas maiores lideranças do partido na Paraíba, na maneira de atuar (um bastante ativo e determinado em sua forma de agir, chegando a ser combativo e contundente nas lutas sociais e o outro mais comedido, lento até e disposto a conversar para conseguir os seus objetivos). Duas personalidades distintas e que, por conta das diferenças, podem estar acenando para uma fissura irreparável – não só no PSB, mas, e principalmente na política administrativa no Estado – a qual poderá causar sérios danos para o partido e para o estado para os próximos pleitos que se aproximam. Em 2020 e 2022 teremos eleições para prefeitos e vereadores e logo em seguida para presidente e deputados estaduais e federais. As lideranças maiores precisam estar afinadas no discurso e nas ações! João Azevedo que se firma como grande liderança foi eleito governador graças a uma política de pulso firme implementada pelo RC (prefeito 2 vezes e governador, também, por duas vezes) o que demonstra que a fórmula deu absolutamente certo. Mesmo ponderado em suas posições, o governador não poderá destoar da fórmula e das decisões que o levaram ao cargo maior de chefe de um estado como a Paraíba!
Estaria errado, Ricardo Coutinho, ao defender, por exemplo, a conclusão de uma obra como a transposição do São Francisco, contrariando o governo federal, declaradamente inimigo do Nordeste em suas atitudes e discursos feitos abertamente por achar que a região não lhe deu a mesma vitória que estados do Sul lhe consagraram? O Nordeste para o governo federal é uma enorme espinha que está atravessada na garganta. O ato em Monteiro no próximo domingo, clamando pela transposição é político? Claro que sim! Mas não poderia ser diferente! Ao tomar um posicionamento de cobrança pelo bem da população e pela responsabilidade do governo federal para suas obrigações para qualquer região do Brasil, é um ato político e corajoso, acima de tudo! Mas, ao que me parece, o governador já afirmou que não atenderá ao chamamento do seu aliado maior por achar tratar-se de um ato político! Isso é de causar estranheza! Afinal de que lado ficará o governador – a quem temos seguido e aplaudido por suas decisões (aparentemente) contrariando o governo federal e voltadas em defesa da Paraíba? A atitude confronta, agora, uma posição assumida pelos nove governadores nordestinos que por, pelo menos, duas vezes estiveram reunidos em defesa da região e contrários aos atos do governo Bolsonaro! Dizer que acha que os atos de Bolsonaro e a falta de interesse do governo em concluir a obra é só uma questão técnica e não de má vontade! Entender dessa forma é a mais clara demonstração de recuo, destoando totalmente do que pensa o ex-governador RC e a confirmação, nas entrelinhas, de que realmente “nada já está como dantes no quartel de Abrantes”!
Más é também esse o pensamento do presidente da ALPB, Adriano Galdino que surpreendeu a todos e admitiu, na imprensa nesta terça-feira (27), a possibilidade de não participar do protesto. Segundo ele, caso a vazão esteja interrompida por conta de problemas técnicos, em vez de retaliação política, não há sentido algum no movimento. Por sua vez e sendo do mesmo partido e colega de parlamento, o deputado Jeová Campos convidou os paraibanos a participarem do ato em prol da Transposição e reiterou, com convicção, que esse tema não comporta um debate político e ideológico, pois ele envolve toda a sociedade paraibana e, independente de voto, ele é uma atuação estratégica do parlamento estadual e de outras lideranças e entidades que tem como objetivo fazer funcionar a transposição no Eixo Leste, garantir a conclusão da transposição do Eixo Norte e fazer chegar água para os nordestinos”, disse o parlamentar em discurso na ALPB.
No entanto é necessário dizer que sendo um problema técnico ou de má vontade federal, o movimento de Monteiro é uma forma de se dizer que o povo não está disposto a aceitar o esquecimento. Se for técnico, que o governo dê o seu jeito, pois já se passou muito tempo sem que se movesse uma palha para resolvê-lo. Caso seja proposital, que o governo abra o olho e tome uma atitude pois trata-se de dinheiro público que está sendo jogado na vala do esquecimento apenas por questões políticas e até mesmo de birra! E ai, as consequências dessa atitude poderão ser mais drásticas!
A verdade é que muita coisa já mudou de janeiro para cá e muito ainda está para mudar! Tais atitudes podem sinalizar uma possível estratégia política entre o então e o atual governador, ao manterem os rumores de racha já pensando em firmarem um lado de oposição forte ao governo federal e um outro de boa convivência para manter garantidos os chamados recursos federais? Pode! Mas particularmente não acredito que o Ricardo Coutinho se submeta a tal situação e possa jogar com esse tipo de cartas. Ele não teria estômago!
No entanto, me nego a crer, também, que o governador João Azevedo esteja ouvindo demais alguns assessores e se mostre disposto a engolir Bolsonaro, contrariando todo o discurso e venha a cair no chamado “canto da sereia” sob o argumento de que serão mantidos os recursos em nome do povo da Paraíba! O ódio aos “governadores paraíbas” Bolsonaro levará para o túmulo! Pensando assim, num possível recuo, o governador vai de encontro a tudo que prega o seu partido e o seu principal mentor, de que é preciso acima de tudo, resistir e não retroceder! João Azevedo não pode quebrar o elo dessa corrente de enfrentamento firmada entre os nove governadores do Nordeste! Não será se ausentando de eventos e compromissos de enfrentamento que envolva o governo federal, que lhe fará mais simpático ao Capitão. Mas de uma coisa o nosso governador tenha a certeza: ouvir os defensores de Bolsonaro com o objetivo de não prejudicar o estado é total perda de tempo e o ajuntamento de muitos prejuízos políticos e de uma postura construída até aqui!
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba