Nesta semana que passou, fomos inundados com vídeos e notícias sobre a nova ‘onda’ que estava se espalhando entre os jovens na internet. Mas diferentemente das modas inocentes ou menos inofensivas que os adolescentes costumam adotar com o passar dos anos, a moda desta semana nos permitiu ver em um curto espaço de tempo a notícia de que jovens estavam se ferindo gravemente em plena sala de aula, em choque soubemos que uma jovem havia morrido no meio de um grupo de amigos que ainda não tinham consciência do que haviam acabado de fazer.
Diante disso, acho necessário discutirmos ainda mais os perigos que a internet está trazendo para os nossos jovens, devemos discutir ainda mais com nossos filhos o que eles estão consumindo enquanto espectadores. Precisamos aprender a consumir este material junto dos nossos filhos. Exatamente porque estabelecendo o diálogo entre gerações através do entretenimento é que poderemos criar laços com estes que acreditamos estar formando e preveni-los de todos os perigos dos quais queremos protege-los. Ser pai, ser mãe ou ter responsabilidade sobre um jovem em formação nestes tempos em que vivemos está cada vez mais difícil. Em meio a sociedade líquida de Zygmunt Bauman, as relações são terceirizadas e a paternidade é informatizada. Legamos a celulares e computadores a formação intelectual, cultural e psicológica das futuras gerações.
Se por um lado eu, enquanto jovem egresso dos anos 90, que cresceu em meio a videogames, televisões e computadores e vê a tecnologia como um importante facilitador na formação humana, também passo a notar, na medida em que vou me sentindo cada dia mais adulto responsável pela formação de uma futura geração, que é necessário proteger os jovens dos ambientes digitais. A minha geração ainda é uma geração que cresceu num Brasil com uma internet bastante rudimentar, que não oferecia todos os prazeres, liberdades e facilidades que a atual geração vivencia. O Brasil atualmente é um país com internet rápida, acessível e que pode ser utilizada por uma gama de aparelhos que há pouco mais de uma década não existiam ou não eram tão massificados como são nos dias atuais.
É em meio a este ambiente virtual tão cômodo e acessível que nossos jovens recebem todo tipo de material, produzido por criadores de conteúdo que aparentemente não estão muito preocupados com os efeitos daquilo que estão a lançarem na rede. É assim que nossos filhos e irmãos assistem a um vídeo em que um jovem adulto chuta a própria mãe e a expõe a um risco de morte em troca de visualizações.
É inspirado neste tipo de material que indivíduos sem a devida noção dos riscos aos quais estão se expondo começam a repetir o mesmo ato. Certa vez li que o adolescente não possui consciência da proximidade da morte, que constantemente nos cerca. Para o adolescente, recém-saído do mundo encantado da infância seria possível a exposição a qualquer tipo de ato sem o temor de suas consequências. Munidos destas sensações é que jovens passam a imitarem um ato extremamente perigoso em busca de integração nos grupos e fama nos meios digitais.
No ano passado, vimos em João Pessoa o caso de um garoto que tentou pular o pequeno canal do Espaço Cultural José Lins do Rêgo em que são criados alguns peixes. No caso do menino que buscava exibir-se para os amigos e ter um ‘grande feito’ gravado para posterior divulgação na internet, tudo se saiu bem apesar dele não ter atingido sua meta e caído no meio do canal. Para a sorte do garoto em questão ele não bateu a cabeça e nem quebrou nenhuma parte do seu corpo durante sua tentativa frustrada e a única vítima de sua brincadeira foi um dos peixes do Espaço Cultural que morreu durante o ato.
No caso mais recente, e que inspirou este meu comentário, as envolvidas não tiveram a mesma sorte. Uma delas morreu, sem sequer ter consciência do que estava sendo vítima e duas garotas terão de viver com o peso de terem tirado a vida de uma amiga durante o que elas julgavam ser uma simples brincadeira. Uma vida perdida e muitas outras afetadas por conta de um ato inicialmente pensado para simplesmente atrair as visualizações destes que achamos estar protegendo ao permitir a diversão em ambientes virtuais.
Coloquei-me no lugar dos pais da menina morta, ao tentar pensar como reagiria a notícia de que a minha filha que eu havia deixado mais cedo na escola já não mais voltaria para casa. Imaginei quão aterrador pode ser a experiência de deixar sua jovem filha com vida e cheia de sonhos em uma escola e depois ter de ir recolher seu corpo no IML por causa de uma “brincadeira”. Fiquei sem ar, ao me colocar no lugar destes pais. A única vontade que tive foi de chorar sem parar, pois a perda de um filho deve ser algo realmente incompreensível para qualquer um que não passou por algo semelhante. Aquela garota tinha sonhos, devia imaginar um futuro para si e para sua família, um futuro que nunca existirá, pois lhe foi negado descobrir a vida enquanto esta ainda estava em seu início.
Por isso é necessário lançarmos o alerta de que a internet não é o ambiente seguro que um dia acreditamos e toda esta enxurrada de notícias preocupantes nos reforça mais uma vez que precisamos nos manter em contato com os nossos jovens. Apenas o diálogo poderá impedir que este tipo de brincadeira continue surgindo no futuro e que elas sejam perpetuadas.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba