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Crise no PSDB e na oposição desafia a liderança do ex-senador Cássio - Por Nonato Guedes

"O PSDB na Paraíba está em crise, com defecções de quadros importantes como o prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, que migrou para o PSD"

Já está mais ou menos consensuado dentro do PSDB paraibano que o próximo dirigente da agremiação vai ser o deputado federal Pedro Cunha Lima, filho do ex-senador e ex-governador Cássio Cunha Lima, sucedendo ao deputado federal Ruy Carneiro e com a missão de reestruturar o ninho tucano, devolvendo-lhe posição de destaque que já ocupou no cenário local. Pedro sabe que tem grandes desafios pela frente. O PSDB na Paraíba está em crise, com defecções de quadros importantes como o prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, que migrou para o PSD. O maior obstáculo, entretanto, é a falta de perspectiva de poder para o futuro.

Nesse aspecto, o que está em xeque é a liderança do ex-senador Cássio Cunha Lima, que é tido como a grande referência para os tucanos e, também, para os adversários, apesar da derrota inesperada que sofreu quando postulava a reeleição na disputa de 2018. Cássio divide com o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, do PV, o ônus do insucesso eleitoral impactante do ano passado, já que o irmão gêmeo do alcaide, Lucélio, lançado candidato a governador por uma fração das forças oposicionistas, foi abatido de forma inapelável pelo esquema do ex-governador Ricardo Coutinho, que elegeu João Azevêdo. Lucélio não conseguiu, sequer, avançar para o segundo turno, embora tenha ficado em segundo lugar no placar final da disputa. Teve como vice a doutora Micheline Rodrigues, mulher do prefeito Romero, que foi tragada pela correnteza e pelo efeito da chapa geminada.

Mas Cássio é quem se encontra na berlinda por dois motivos: por ter perdido e por ter sido o mentor da estratégia política que ceifou cabeças no prélio passado. Havia, dentro da oposição paraibana, a expectativa de unidade que resultasse em lançamento de uma chapa única para enfrentar o esquema comandado por Ricardo Coutinho, que resolveu permanecer no governo até o último dia do mandato, preocupado em evitar surpresas desagradáveis. A oposição não se uniu como cogitado – pelo contrário, pulverizou-se entre as candidaturas de Lucélio e de José Maranhão, este praticamente fazendo carreira solo no MDB, ainda que tenha se coligado com legendas sem maior expressão. Ademais, os opositores do situacionismo socialista perderam muito tempo na busca de um consenso, o que levou o prefeito da Capital, Luciano Cartaxo, a desistir de ser alternativa para o governo. Talvez Luciano tivesse antevisto o cenário negativo que iria se configurar e, a partir daí, tenha planejado a sua substituição pelo irmão, até como tática para ficar à frente do poder na prefeitura e tentar neutralizar o rolo compressor detonado por Ricardo.

Na hora propriamente dita de entrar em campo, a oposição se esforçou para parecer confiante no triunfo eleitoral, tanto para o Executivo como para o Senado. A disputa senatorial às duas vagas agregou Cássio e a ex-deputada Daniella Ribeiro, do PP. Surpresa das surpresas, Daniella suplantou Cássio e conquistou a cadeira, tornando-se a primeira senadora da história da Paraíba. O eleitorado destinou os votos da segunda vaga para Veneziano Vital do Rêgo, que migrara do antigo PMDB para o PSB e foi acertadamente adotado por Ricardo como candidato à vaga que seria do então governador. O líder socialista ainda tentou cortejar votos do eleitorado petista, lançando o ex-deputado federal Luiz Couto para a segunda vaga ao Senado, junto com Veneziano. Mas, no íntimo, a maioria do eleitorado parecia já ter feito opções imutáveis – e surpreendentes.

Cássio está, atualmente, afastado da discussão recorrente dos temas em voga na Paraíba, mas sabe que é o principal expoente da oposição. Esta, por sua vez, dá a impressão de ainda estar desnorteada, sem conseguir assimilar os resultados da reviravolta nas urnas em 2018. Um exemplo concreto é que o governo João Azevêdo está no centro do furacão, administrando denúncias sobre envolvimento de secretários e ex-secretários do governo Coutinho com desvios na área da Saúde, em conluio com Organizações Sociais já descredenciadas da gestão hospitalar, e mesmo assim a oposição não leva vantagem no embate perante a opinião pública, estando perdida nas discussões dentro da Assembleia Legislativa e ao mesmo tempo baqueada por causa da estratégia diversionista do esquema da situação, em que avulta a habilidade maquiavélica do ex-governador Ricardo Coutinho para inverter o jogo e sair-se como vítima de conspiração, segundo deixa escapar em eventuais respostas que oferece a insinuações envolvendo seu nome. O andar da carruagem está a sugerir que Cássio terá que abreviar seu “exílio” político e voltar ao protagonismo, já que o candidato derrotado a governador, Lucélio Cartaxo, não demonstrou credenciais para papel de líder nessa conjuntura.

Nonato Guedes

Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Nonato Guedes