OPINIÃO

Coutinho e Cartaxo: símbolos de conflitos vividos pelo PT na trajetória - Por Nonato Guedes

 

No transcurso, último dia 10, do aniversário de 42 anos do Partido dos Trabalhadores no país, líderes como Luiz Inácio Lula da Silva abordaram as dificuldades na trajetória da sigla até sua ascensão ao poder, quando procurou implementar políticas sociais, de inclusão de camadas marginalizadas. Para historiadores e analistas políticos, uma marca paralela e carimbada do PT são os conflitos entre correntes políticas, as chamadas “tendências” que se alojaram no interior da agremiação, algumas das quais tentaram a todo custo imprimir um caráter ideológico muito forte às diretrizes do PT. Na Paraíba, dois líderes – o ex-governador Ricardo Coutinho e o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, são emblemáticos dos conflitos vividos pelo PT nesse percurso.

Coutinho sofreu violento processo de “fritura” interna quando ousou tentar ser candidato a prefeito de João Pessoa na campanha de 2004. Foi tido como desagregador e “infiel” e travou embates memoráveis com companheiros de sigla que criticavam o seu personalismo, não obstante ser uma liderança em ascensão, detentor de mandato na Assembleia Legislativa. Alvo de processos disciplinares timbrados por ameaça de sanções graves como a expulsão, Ricardo acabou se refugiando no PSB, pelo qual foi eleito prefeito, reeleito em 2008 e ascendeu, em 2010 e 2014, ao governo do Estado. Já Luciano Cartaxo teve sigla para ser candidato a prefeito da Capital em 2012, mas lá na frente optou por fugir do PT quando estourou o escândalo do mensalão, alegando que não lhe cabia coonestar erros dos outros. Migrou, então, inicialmente, para o PSD, depois para o PV. De concreto, o PT perdeu a única prefeitura que tinha sob controle em capital do Nordeste, o que gerou discussões intermináveis e um princípio de trauma quanto a possíveis filiações à legenda.

Como se fosse um ensaio combinado – que não foi – Ricardo Coutinho, “o personalista”, e Luciano Cartaxo, “o vacilante”, retornaram aos quadros do Partido dos Trabalhadores com honras este ano, o que significa que foram anistiados pelo partido. Ricardo, inclusive, mesmo quando laborava no PSB, estreitou laços com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi solidário com a presidente Dilma Rousseff por ocasião do impeachment agitado contra ela em 2016. Esses gestos fizeram Lula abonar em alto estilo a ficha de refiliação do ex-governador ao PT e cogitar o seu nome como alternativa ao Senado nas eleições de 2022, ignorando restrições que Ricardo enfrenta em meio a processos que tramitam na Operação Calvário. Pela sigla do PT, Cartaxo chegou a ser indicado vice na chapa de José Maranhão (PMDB) ao governo, em 2006, derrotada por Cássio Cunha Lima. Os dois ascenderam aos cargos no final do mandato, em 2009, quando o TSE cassou Cunha Lima. A dados de hoje, Luciano é cotado para empalmar candidatura própria do PT ao governo, se não vingar a aliança com o emedebista Veneziano Vital do Rêgo.

O último a entrar na linha de tiro dos conflitos ou contradições do PT foi o deputado estadual Anísio Maia, que em 2020 lutou para ser indicado candidato do partido à prefeitura de João Pessoa. A postulação era legítima e o nome do parlamentar foi aclamado em convenção. Mas a perspectiva de lançamento da candidatura de Ricardo Coutinho pelo PSB, o que aconteceu, levou o PT nacional a desautorizar a candidatura de Anísio Maia, embora sem conseguir retirá-lo, legalmente, do páreo. Mas chamou a atenção o vídeo gravado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazendo a apologia de Ricardo e pedindo votos para o então socialista, que, já desgastado, não logrou ir sequer para o segundo turno. Anísio foi triturado nas urnas mas não largou o PT. E mesmo desconfortável com a volta de Ricardo e Luciano, segue engajado na onda para levar o ex-presidente Lula de volta ao Planalto.

A fundação do PT na Paraíba foi bastante tumultuada, como registrou em livro o professor Paulo Giovani Antonino Nunes. De 1980 até março de 1981 o PT foi dirigido por uma comissão provisória composta por Anísio Maia, Eliezer Gomes, Wanderly Farias, entre outros. Eliezer era um dos coordenadores da Pastoral da Juventude e foi o primeiro presidente do PT no Estado. O projeto de criação do PT no Estado, devido à fragilidade do movimento sindical e não adesão de parlamentares de outras legendas, foi encabeçado por militantes da Igreja Católica e, em outra vertente, por militantes de esquerda. As defecções foram se tornando inevitáveis e, em certa medida, facilitando uma depuração de quadros, como parte do esforço para tentar homogeneizar a linguagem dos militantes do partido na Paraíba. Lula veio participar de atos oficiais de instalação do PT no dia 10 de agosto de 1980 em João Pessoa e outras cidades do interior. O registro formal saiu em setembro.

Já em 1982 o Partido dos Trabalhadores marcou presença na disputa ao governo do Estado, concorrendo com o nome do advogado Derly Pereira, que fez frente a Wilson Braga (vitorioso) e a Antônio Mariz. Algumas das polêmicas mais agudas que se sucederam envolviam o apoio a candidatos como Antônio Mariz ou Lúcia Braga. A cúpula local do PT vetou proposta feita pelo então deputado federal Marcondes Gadelha para ingressar na legenda, tachando-o de “burguês”. A cúpula petista, porém, quedou-se ao acordo firmado em Campina Grande por Cássio Cunha Lima (PSDB), que indicou como sua candidata a vice-prefeita a sindicalista Cozete Barbosa, do PT. Na época, a aliança mobilizou o próprio Lula, que deu seu aval à composição. Hoje, na esteira do favoritismo de Lula para a corrida presidencial, o PT tenta ressurgir na Paraíba, ocupando espaços em chapa majoritária que teria a participação de aliados. Lula retarda uma definição porque ainda precisa acomodar no seu palanque outras figuras interessadas em apoiá-lo, como o governador João Azevêdo. Os petistas dizem que será preciso muita habilidade do ex-presidente para montar essa “Arca de Noé”, embora, no fundo, acreditem que ele vai tirar de letra, como se deu em momentos não menos difíceis da trajetória do PT.

Fonte: Os guedes
Créditos: Polêmica Paraíba