Opinião

Cotado para disputar o Senado, Queiroga ainda não está em campanha - por Nonato Guedes

O ministro da Saúde, o cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, figura nas listas de auxiliares do presidente Jair Bolsonaro cotados para concorrer a mandatos nas eleições do próximo ano – no seu caso, ele é mencionado como possível alternativa ao Senado ou, em última hipótese, a um posto de deputado federal.

O ministro da Saúde, o cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, figura nas listas de auxiliares do presidente Jair Bolsonaro cotados para concorrer a mandatos nas eleições do próximo ano – no seu caso, ele é mencionado como possível alternativa ao Senado ou, em última hipótese, a um posto de deputado federal. Apesar disso, o que se comenta nos meios políticos é que Marcelo Queiroga ainda não está em campanha, ao contrário de pelo menos onze titulares da Esplanada dos Ministérios que já se movimentam por Estados. Teoricamente, o ministro da Saúde concorreria pelo seu Estado, mas não há sinais de articulação dele com líderes políticos locais no sentido de preparar um palanque. De concreto, há dois pré-candidatos em franca mobilização, cortejando prefeitos, deputados e outras lideranças políticas – os deputados Efraim Morais, do DEM, e Aguinaldo Ribeiro, do PP.

Sobre Marcelo Queiroga, a revista “Veja” define-o como um ministro “chamuscado”, referindo-se ao desgaste que atrai na defesa ostensiva do presidente Jair Bolsonaro, um negacionista convicto em relação à pandemia do novo coronavírus. A fidelidade canina de Queiroga ao presidente levou-o a protagonizar episódio vexatório, ainda recentemente, em Nova York, quando xingou manifestantes que espinafraram Bolsonaro na sua ida para a Assembleia da Organização das Nações Unidas, onde discursou. O cardiologista paraibano não esconde que tem apego ao poder e que faz de tudo para se manter no cargo. Mas ele não coleciona apenas desgastes. É reconhecido, por exemplo, pela eficiência com que deu partida ao Plano Nacional de Imunização contra a Covid-19, retirando da inércia um governo cujo expoente maior, o presidente da República, que é capitão reformado, teimava em receitar cloroquina, um remédio sem eficácia comprovada, para o tratamento precoce contra o vírus.

Queiroga ganhou fama pelo “jogo de cintura” que tem no universo político, conseguindo, por exemplo, manter uma boa interlocução com o governador da Paraíba, João Azevêdo, que é adversário declarado do presidente Jair Bolsonaro e já manifestou intenção de voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além do mais, o ministro é solícito com deputados federais e senadores paraibanos que o procuram em seu gabinete para encaminhar demandas de interesse do Estado. Prestigia os prefeitos das duas maiores cidades – João Pessoa (Cícero Lucena, do PP) e Campina Grande (Bruno Cunha Lima, do PSD), não havendo registro de discriminação em relação a agentes políticos locais. Ainda assim, há certa resistência a uma provável candidatura de Queiroga pelo fato dele nunca ter militado politicamente no Estado e também porque esteve afastado da Paraíba durante um tempo, quando presidiu a Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Se viesse a encarar uma candidatura pela Paraíba, o ministro teria como grande avalista e grande cabo eleitoral o presidente Jair Bolsonaro, com toda a quota de desgaste que o mandatário tem enfrentado e que coloca em risco a sua própria candidatura à reeleição. É o presidente que tem estimulado Queiroga e outros ministros a disputarem eleições, sobretudo ao Senado, onde seu mandato tem sofrido em votações cruciais. O cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília, lembra que alguns ministros têm suas bases nos Estados que eles têm atendido há algum tempo. E arremata: “Isso é mais importante do que a relação com Bolsonaro”, analisa. No caso de Queiroga, ele tenta juntar duas vantagens: a prontidão no atendimento a demandas de interesse público e a sua própria relação com Bolsonaro, de olho na existência de um eleitorado bolsonarista cativo, de 20% a 30%, segundo estimativas de hoje.

Como consequência da desarticulação de Marcelo Queiroga para montagem de um palanque na Paraíba que lhe dê respaldo nas eleições do próximo ano constata-se que não há nenhum grupo expressivo mobilizado na base bolsonarista do Estado, defendendo seu nome para o páreo. Ele mesmo, nas viagens frequentes que tem feito à Paraíba, não se manifesta, de público, sobre pretensões eleitorais próprias, preferindo aludir à defesa da reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Talvez Queiroga confie em que dispõe de visibilidade suficiente para dispensá-lo de maior apresentação ao eleitorado ou de preocupação em justificar a busca por um mandato pelo seu Estado-berço. Da sua família, um irmão, Marco Antônio, chegou a ser vereador em João Pessoa e cogitou ensaiar voos maiores, mas não logrou êxito nesse intento.

A possibilidade de uma candidatura de Queiroga na Paraíba seria facilitada, também, na opinião de analistas, pela própria carência de quadros mais competitivos do Estado para disputas de maior repercussão, quer ao Senado, quer à Câmara Federal ou ao próprio governo do Estado. O ministro, inclusive, chegou a ser aventado como opção para o Palácio da Redenção quando o ex-quase-candidato Romero Rodrigues descolou-se do núcleo bolsonarista e acabou formalizando a retirada do páreo. Mas o cacife do ministro, em termos eleitorais, não chegaria a tanto, na opinião, até mesmo, de admiradores ou defensores seus. O Senado talvez caísse como “uma luva” para o cardiologista, salvo se os humores da política forem hostis a essa sua pretensão.

Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes