MOMENTOS

CORAGEM PARA SE REBELAR: Quando o silenciar não é oportuno - Por Rui Leitão

"A não ser que o silêncio seja uma estratégia para avançar. Uma espécie de jogo para simular um recuo, uma tática de quem quer pegar o adversário de surpresa. Na linguagem popular seria dizer: fingir-se de morto"

Nem sempre o silêncio é a atitude mais acertada. Há momentos em que é necessário falar, gritar até, para que todos possam ouvir o que você quer e precisa dizer. É quando o calar-se pode dar a impressão de desistência, resignação, condescendência. É preciso ter a coragem de se rebelar diante do que provoca insatisfação, indignar-se com o que entende ser prática de injustiça, demonstrar aversão ao tratamento desigual que afronta o princípio de equidade social.

A não ser que o silêncio seja uma estratégia para avançar. Uma espécie de jogo para simular um recuo, uma tática de quem quer pegar o adversário de surpresa. Na linguagem popular seria dizer: fingir-se de morto.

Não consigo ter essa frieza. Meu temperamento não consegue agir dessa forma. Sou espontâneo, transparente. Prefiro o grito de guerra ao fingimento de acomodação. Não quero me colocar no refúgio dos fracos. O silêncio, às vezes, é uma confissão de covardia. Recuso-me compactuar com o que não concordo. Não aceito nada que me seja enfiado de goela abaixo. Não sei assumir o sofrimento silente.

Não quero que no meu silêncio se veja uma ação de ausência. Não abro mão de ser protagonista do meu próprio destino. Na minha voz mostro quem eu sou. Ainda que o som seja de alegria ou de pranto. Mas em qualquer circunstância é um brado de amor. Num protesto se manifesta o amor a uma causa. No grito de alegria também se afirma a expressão da comemoração de vitórias no que acreditamos, isso também é amor.

Não queiram que eu fique calado. Não sou adepto dos solilóquios. Prefiro dialogar, discutir, debater, até que me convençam que eu não tenho razão. Detesto submeter minha liberdade ao controle de outros. Deixem-me ser quem eu sou. Com os defeitos e virtudes que formam minha personalidade. Só não me peçam, jamais, para me calar perante absurdos que presencio. Não me forcem a emudecer ao testemunhar o opróbio. Resistir é preciso.

Rui Leitão

Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão