O ex-presidente Fernando Collor de Mello – que, aliás, foi o primeiro da história brasileira a sofrer impeachment na esteira do esquema PC Farias – tornou-se “persona non grata” na Paraíba quando apunhalou seus habitantes com a liquidação extrajudicial do Banco do Estado, o Paraiban. Foi uma medida tanto mais cruel porque tomada à revelia do então governador Tarcísio Burity, o primeiro do país a apostar fichas na candidatura do ex-caçador de marajás, também travestido de Indiana Jones no governo efêmero que empalmou. Burity teve a oportunidade de dizer a Collor, cara a cara, em Nova Iorque, que ele arrotava coragem em cima dos mais fracos, mas era covarde para enquadrar instituições de Estados influentes como o Banerj (Rio de Janeiro) e Banespa (São Paulo), que eram focos de grandes escândalos.
Se Collor foi o “carrasco” do Paraiban, o presidente Jair Bolsonaro caminha para ser o algoz da Universidade Federal da Paraíba, instituição que por mais de meio século integrou-se à vida da população, com um trabalho de extensão que, muitas vezes, substituiu a omissão dos governos estaduais. Bolsonaro insulta a Paraíba e a memória de seus filhos ilustres, como o ministro José Américo de Almeida, que imortalizou a fundação da Universidade, na década de 50, com o sinete retórico: “Eu vos dei raízes; outros vos darão asas e o selo da perpetuidade”. Expoentes da “intelligentsia” e do poder na Paraíba sequenciaram o “Solitário de Tambaú”, dando asas à UFPB na forma da expansão dos seus “campi” e no foco em experimentos de ensino adaptados às peculiaridades de cada região onde a presença da UFPB se fazia sentir. E a Paraíba sabe como tem sido pulsante a presença da Universidade no seu cotidiano. As gestões foram se sucedendo – Lynaldo Cavalcanti, Berilo Ramos Borba, Jackson Carneiro de Carvalho, Antônio de Sousa Sobrinho, Neroaldo Pontes, Jáder Nunes. O bastão, hoje, está com a professora Margareth Diniz, que assiste estarrecida ao desmonte imposto pela fobia do governo Bolsonaro a tudo que signifique educação.
É um desmonte generalizado, avassalador, que se espalha por instituições congêneres e respeitadas em Estados teoricamente mais influentes ou representativos. No caso da Paraíba, o corte de 30% no orçamento anual, representa aproximadamente R$ 44 milhões a menos no caixa da Universidade Federal, R$ 27 milhões a menos na Universidade Federal de Campina Grande e R$ 22 milhões a menos para o Instituto Federal da Paraíba, somando mais de R$ 90 milhões subtraídos do ensino superior. Um contingenciamento que sinaliza o total descompromisso desse governo do capitão Bolsonaro com prioridades essenciais da sociedade. Não sem razão está havendo uma repulsa da comunidade e, em paralelo, uma reação concreta por parte de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil, Defensoria Pública, bem como de parlamentares como os deputados Gervásio Maia, Pedro Cunha Lima e o senador Veneziano Vital do Rêgo, entre outros. A iniciativa mais imediata está sendo a de ingressar com liminar pleiteando a suspensão dos cortes absurdos impingidos pelo governo Bolsonaro.
Diz a reitora Margareth Diniz, com muita propriedade: “A sociedade sabe da importância que as instituições de ensino têm, principalmente as públicas, onde há uma quantidade significativa de pessoas com deficiência e baixa renda, sem condições de pagar para estudar”. Evidente que a pressão vai ser grande, em inúmeras frentes, para barrar essa investida fascista do governo, que despreza o ensino, a cultura, os direitos humanos, a Saúde, a transposição das águas do rio São Francisco. A Era Bolsonaro é a Era da Destruição, do Caos, como reflexo de mentalidades tacanhas que deveriam estar operando em estrebarias, não na cadeia de comando do poder por onde passam as decisões importantes que afetam a vida da população brasileira.
No caso específico do Paraiban, foi a força da pressão organizada que logrou, depois de uma espera interminável, conseguir a reabertura do estabelecimento-patrimônio do Estado. O banco voltou enxuto, quando inúmeras famílias demitidas já se encontravam absorvidas em outras esferas do mercado de trabalho para sobreviver. Mas houve o simbolismo, traduzido no empenho do governador Ronaldo Cunha Lima e do então vice-governador Cícero Lucena, que se desdobraram em gestões nos escalões de poder em Brasília, contando com o reforço da bancada de senadores e deputados federais, e foi o peso dessa articulação que teve papel preponderante na reabertura do Paraiban. O desmonte das universidades é infinitamente mais grave – penalizando, como de hábito, os Estados pobres. Que sina desgraçada a da Paraíba!
Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes