Opinião

Cícero entra no jogo da sucessão 2026 mas tem desafios para equacionar - Por Nonato Guedes

Cícero entra no jogo da sucessão 2026 mas tem desafios para equacionar - Por Nonato Guedes

Seja por aparecer bem cotado em pesquisa de opinião pública, seja por ter reativado viagens a redutos eleitorais importantes como Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado, o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (Progressistas), passou a ser listado no radar das opções para a disputa ao governo da Paraíba em 2026. Desde que foi reeleito para a prefeitura em 2024, no segundo turno, dando combate ao ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, Marcelo Queiroga (PL), Cícero é mencionado entre as alternativas do esquema liderado pelo governador João Azevêdo (PSB) para concorrer ao Executivo, mas sempre esteve tolhido diante da hipótese do vice-governador Lucas Ribeiro (PP) ser o candidato, uma vez alçado à cadeira titular com a desincompatibilização de João para disputar o Senado. O radar de Cícero oscila conforme os fatos novos – e a sua liderança num levantamento recém-divulgado, com antecedência, fortaleceu seu cacife, apesar de ressalvas como a da secretária Pollyanna Werter, que defende candidatura do PSB a governador.
O gestor da Capital tem executado uma administração de resultados, que lhe garante bons índices de aprovação, graças à bem-sucedida parceria empreendida com o governador João Azevêdo e a projetos inovadores que têm sido testados, inclusive, com o aporte de recursos do governo federal. Político de tendência centrista, que já exerceu a titularidade do governo estadual por 10 meses quando sucedeu a Ronaldo Cunha Lima em 1994 e era filiado ao PMDB, Lucena está no exercício do quarto mandato como prefeito de João Pessoa, já foi senador e secretário de Políticas Regionais, com status de ministro, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Sua ligação com Ronaldo o levou a deixar o PMDB e ingressar nas hostes do PSDB, tendo reaparecido no cenário paraibano filiado ao PP, que tem como expoente maior na Paraíba o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, tio de Lucas e irmão da senadora Daniella. Lucena tem dito que se sente à vontade no ambiente do PP, mas figuras do seu entorno não descartam que ele ingresse no próprio PSB que vai ser comandado pelo governador João Azevêdo, caso haja dificuldade para viabilizar uma candidatura ao Executivo no PP.
De concreto, o PSB conta, a dados de hoje, apenas com a pré-candidatura do governador a uma vaga ao Senado no próximo ano, sendo que João relutou muito em assumir a pretensão até reconhecer que a disputa constitui uma espécie de “Plano A” para ele, no que diz respeito ao futuro político. Não se pode perder de vista que mesmo com João admitindo concorrer ao Senado é recorrente a teoria de que ele pode permanecer à frente do cargo até o último dia, repetindo comportamento que foi adotado pelo seu ex-aliado Ricardo Coutinho (PT), ainda hoje um político à procura de reabilitação na conjuntura local. Os socialistas paraibanos sabem que há restrições na própria base de João à hegemonia de quase duas décadas do esquema do PSB no poder local – da mesma forma como são latentes as pretensões hegemônicas de partidos como o Republicanos do deputado federal Hugo Motta, presidente da Câmara, e o PP liderado por Aguinaldo Ribeiro. Em 2022, o Republicanos abriu mão de indicar qualquer nome para a chapa majoritária, em troca da presidência da Assembleia, de algumas secretarias de Estado e de espaços concretos na chapa de 2026.
A existência de supostos compromissos pactuados lá atrás ou, pelo menos, de palavras empenhadas em termos de composição de interesses, é o que pode ser um obstáculo no caminho do prefeito Cícero Lucena, notadamente se os acordos informais contemplarem o interesse ou as ambições do Republicanos, uma legenda que cresceu na realidade política paraibana, com expoentes na bancada da Câmara Federal e integrantes de expressiva bancada na Assembleia Legislativa do Estado. Também, por uma questão ética, Cícero teria dificuldade de partir para um confronto com o vice-governador Lucas ou com o “clã” Ribeiro, que até aqui tem lhe prestigiado na proporção do seu peso político na conjuntura local. Na reunião feita na Granja Santana a pretexto de deflagrar o debate sobre formação de chapa, o nome colocado por Cícero foi o do seu filho, o deputado federal Mersinho Lucena, para vaga de vice ou senador. Mas é fora de qualquer dúvida que o prefeito da Capital tem apoios importantes para viabilizar uma candidatura a governador – tendo havido, ainda esta semana, uma manifestação simpática ao seu nome por parte do presidente estadual do PT, Jackson Macedo, em entrevista à rádio Arapuan. Por todos os títulos, então, Lucena está teoricamente cacifado para figurar na chapa majoritária do próximo ano no esquema oficial liderado por João. Resta saber se ele vai se mobilizar para tanto – ou se vai preferir concluir mais um mandato de prefeito que atraiu para sua galeria de troféus no cenário político de João Pessoa.