
Toda a movimentação política que o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP) desenvolve pelo Estado, em paralelo às suas tarefas e obrigações administrativas na Capital, é parte de uma estratégia para viabilizar e tornar mesmo irreversível o seu projeto de candidatar-se ao governo nas eleições de 2026. O prefeito tem cumprido périplos por municípios em diferentes regiões nos fins de semana, a pretexto de fazer intercâmbio com gestores e lideranças políticas e passou a incluir no roteiro o recebimento de títulos de Cidadania, mormente nas cidades que foram emancipadas no período de dez meses em que esteve à frente do Executivo estadual, sucedendo a Ronaldo Cunha Lima em 1994, quando este se desincompatibilizou para concorrer a uma cadeira de senador. Em muitos casos, a emancipação resultou em progresso para comunidades interioranas e consequente valorização de quadros políticos locais.
Num dos seus últimos eventos, Cícero Lucena dividiu mesa, em Serra Branca, no Cariri, com o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que hoje está integrado ao grupo de oposição ao governador João Azevêdo (PSB) e que pretende postular a reeleição, compondo chapa que pode ser encabeçada pelo senador Efraim Filho, do União Brasil, ou novamente pelo ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, atualmente no PSD. Em outras localidades ocorrem encontros com demais adversários políticos – e a respeito disso, o prefeito da Capital esclarece que “adversário não quer dizer inimigo”. Cogita-se no entorno de Lucena que esses movimentos podem gerar dividendos lá na frente, em caso de reviravoltas no cenário político-partidário paraibano, mas a chance ainda é remota diante do ambiente de polarização que reina entre governistas e oposicionistas no Estado. A oposição, inclusive, sente-se reforçada pela atuação de políticos ligados à direita bolsonarista, a exemplo do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que se anuncia postulante pelo PL ao Palácio da Redenção, em dobradinha com o pastor e procurador Sérgio Queiroz, do Novo. Os dois estiveram juntos na chapa que disputou as eleições à prefeitura de João Pessoa em 2024 e que avançou para o segundo turno, onde foram derrotados por Cícero e Leo Bezerra.
A mobilização encetada pelo prefeito Cícero Lucena provoca ciúmes e intrigas dentro do próprio Progressistas, legenda da qual ele não cogita se desfiliar, por enquanto, e onde está posicionado o vice-governador Lucas Ribeiro no papel de “candidato natural” à sucessão de João Azevêdo, em caso de desincompatibilização deste e de efetivação sua na titularidade do mandato. Lucas, atendendo a estímulos familiares e de outros agentes políticos, também tem feito incursões políticas pela Paraíba, colocando-se claramente no papel de pré-candidato a governador e tentando firmar convergências que fortaleçam esse projeto no momento decisivo quando o agrupamento de Azevêdo sentar à mesa para apontar quem vai integrar a chapa às eleições majoritárias. A emulação dentro do PP é reforçada pelo vácuo em partidos como o PSB do governador João Azevêdo e o Republicanos do deputado federal Hugo Motta. O PSB tem definido apenas o nome de João para o Senado; o Republicanos luta para ter a cabeça de chapa mas não oficializou indicativo de preferência por nomes, sendo cotados na mídia os de Hugo Motta e Adriano Galdino, presidentes da Câmara Federal e da Assembleia Legislativa do Estado.
Cícero Lucena procura se apresentar, nas regiões que percorre, como um administrador experiente que conduz em João Pessoa uma administração de resultados, vencendo desafios históricos enfrentados pela Capital paraibana. Ao mesmo tempo, menciona a sua identificação com os projetos de desenvolvimento do Estado implementados pelo governador João Azevêdo, destacando a parceria bem-sucedida que é executada e a afinidade de concepção quanto ao modelo de gestão que, a seu ver, tem revolucionado estruturas em diferentes segmentos de atividade. A experiência administrativa pessoal está refletida no seu histórico – que envolve o exercício da prefeitura pela quarta vez, o que caracteriza, a seu ver, reconhecimento pelas ações desenvolvidas e pelos resultados positivos proporcionados. Ultimamente, Cícero Lucena tem repetido com ênfase declaração atribuída ao chefe do Executivo estadual de que, mais do que um candidato, precisa de um sucessor, alinhado com sua filosofia de trabalho e em condições de dar continuidade aos avanços até aqui experimentados. Sobre a movimentação antecipada de Cícero, Azevêdo já comentou que vê como natural, espécie de desideratum perseguido por agentes políticos que têm pretensões maiores. No íntimo, João Azevêdo aguarda os desdobramentos da emulação dentro do próprio PP para sinalizar passos de definição com vistas ao pleito 2026. Como se sabe, o PP tem que resolver, ainda, o “imbróglio” da formação de federação com o União Brasil, que é um parto complicado em Estados como a Paraíba.