
O lançamento, com o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro, da chapa Marcelo Queiroga-Sérgio Queiroz para governador e uma vaga de senador nas eleições de 2026 na Paraíba não constitui surpresa para a própria oposição, que já vinha trabalhando com essa possibilidade, mas certamente dividirá o segmento no confronto com o esquema do governador João Azevêdo (PSB), que ainda se debate para escolher um candidato de consenso ao Palácio da Redenção. Essa divisão poderá enfraquecer o bloco oposicionista ao invés de fortalecê-lo, facilitando os passos da chapa oficial que está sendo montada em reuniões envolvendo o governador João Azevêdo, o deputado federal Hugo Motta, presidente do Republicanos e o deputado Aguinaldo Ribeiro, expoente do Progressistas. Os entendimentos na seara governista estão se acelerando, quer em João Pessoa, quer em Brasília, mas ainda sem indicação de “fumaça branca” em torno de possíveis candidaturas, dado que é preciso aparar arestas e acomodar múltiplos interesses em jogo.
A chapa Queiroga-Queiroz representa, de forma legítima, a direita bolsonarista na Paraíba e repete, com uma variação, o esboço apresentado nas eleições municipais de 2024 em João Pessoa quando o ex-ministro da Saúde encabeçou chapa a prefeito, tendo o pastor e procurador da Fazenda como seu vice, numa coalizão entre PL e Novo. A costura no ano passado demandou intensas articulações de bastidores devido à concorrência de interesses, pois Queiroz também tinha seu nome “agitado” para liderar a chapa, favorecido pelo “recall” de surpreendente votação alcançada na região metropolitana da Capital no pleito para senador em 2022. A insistência do pastor em permanecer no “Novo” também consumiu discussões internamente, mas todas as tratativas foram resolvidas com a interveniência direta do ex-presidente Bolsonaro, que veio a João Pessoa atuar como pacificador em nome dos ideais de direita e da plataforma de combate ao governo do Partido dos Trabalhadores. A chapa foi hábil na ocupação de espaços e avançou para o segundo turno contra Cícero Lucena-Leo Bezerra (PP-PSB), estes finalmente confirmados à reeleição nas urnas.
Para se credenciar ao embate com Cícero Lucena, Queiroga logrou ultrapassar candidatos que pareciam situados em melhor cotação como Ruy Carneiro, do Podemos, que fazia sua terceira tentativa de se eleger à prefeitura, e Luciano Cartaxo, do PT, que se movimentava para retomar o controle da prefeitura que havia deixado ao fim do segundo mandato consecutivo em 2020. A votação mais decepcionante foi a de Luciano Cartaxo, despachado pelo eleitorado para o quarto lugar no cômputo das apurações de votos no primeiro turno, enquanto Ruy Carneiro foi alçado à terceira posição. Marcelo Queiroga, apesar da visibilidade como ministro da Saúde em plena pandemia de covid-19, era praticamente desconhecido no cenário político por ser estreante na disputa de mandatos – e é evidente que sua performance foi expressiva, deixando para trás figuras carimbadas do quadro local que nos últimos anos participaram ativamente do processo eleitoral em João Pessoa e, de resto, na Paraíba.
Faturando em cima dos resultados eleitorais conquistados na primeira vez em que disputou uma eleição, Marcelo Queiroga organizou-se para ganhar mais capilaridade e protagonismo na cena paraibana, submetendo-se a uma queda-de-braço dentro do PL para abiscoitar o comando do diretório estadual do partido como espécie de plataforma de lançamento das novas investidas no xadrez político estadual. A ascensão à chefia do partido bolsonarista deu-se em meio ao término do mandato do deputado federal Wellington Roberto à frente da direção da legenda e no bojo de um projeto de reestruturação nacional do PL já com vistas às eleições presidenciais de 2026, quando o ex-presidente tentará quebrar a inelegibilidade e a sua condição de réu no inquérito do 8 de janeiro, ficando liberado para enfrentar o presidente Lula a céu aberto. No que diz respeito a Queiroga, ele chegou a ficar em dúvida sobre uma candidatura a deputado federal no próximo ano, mas está sendo vencido pelo argumento de que o seu desideratum é, mesmo, concorrer ao governo do Estado. Em termos locais, teria uma motivação particular: ir para a revanche contra Cícero Lucena, que o derrotou no segundo turno do pleito de 2024. É que Cícero integra o rol dos prováveis candidatos a governador no esquema oficial. Além de Queiroga, a oposição deverá largar com a candidatura do senador Efraim Filho, do União Brasil, em parceria com o ex-deputado Pedro Cunha Lima (PSD), que confrontou João Azevêdo no segundo turno das eleições de 2022.