
O ex-governador Cássio Cunha Lima, embora não sinalize com a intenção de voltar a disputar mandatos eletivos na Paraíba, ocupa espaço privilegiado no cenário local como líder, articulador político e estrategista do bloco que faz oposição ao esquema do governador João Azevêdo (PSB).
Ultimamente, Cássio embarcou, juntamente com o filho, o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, na aventura de militância no PSD, que escapou das mãos da senadora Daniella Ribeiro (atualmente sem partido) e, com isso, oficializaram desligamento dos quadros tucanos. O PSDB, ninho tucano, foi o refúgio buscado pelos Cunha Lima quando romperam com José Maranhão dentro do PMDB em plena disputa eleitoral de 98 e contestaram abertamente a candidatura do governador à reeleição.
Na época, Cássio tentava fazer valer a preferência por seu nome no páreo, mas esbarrou no domínio que Maranhão havia construído no PMDB. Os Cunha Lima apoiaram a candidatura simbólica de oposição representada pelo deputado Gilvan Freire, então no PSB, que não tinha a capilaridade alcançada a partir da Era Ricardo Coutinho.
Foi um gesto de protesto porque, concretamente, Maranhão foi o governador mais votado do país, em termos proporcionais.
Cássio ascendeu ao poder quatro anos depois, derrotando Roberto Paulino, que era vice de José Maranhão e que assumiu a titularidade quando o governador renunciou para concorrer ao Senado, conquistando uma das vagas. Em 2006 Cássio foi reeleito, derrotando a céu aberto o próprio José Maranhão – mas não conseguiu concluir o mandato, que foi interrompido pelo TSE acatando pedido de cassação agitado pela chapa maranhista, integrada, ainda, por Luciano Cartaxo (PT) como vice.
Defenestrado do cargo, Cunha Lima desabafou ter sido vítima de clamoroso erro judiciário, “o maior da história política do país”, refutando acusações de conduta vedada e de improbidade administrativa no curso da campanha que o reelegeu. Em 2010, Cássio obteve reabilitação política-eleitoral de forma espetacular, elegendo-se senador com mais de um milhão de votos.
Na época, ele impôs reviravolta ao quadro político paraibano, aliando-se a Ricardo Coutinho, que foi eleito governador pelo PSB, confirmando a análise da crônica local de que se tratava de um líder emergente.
Em 2014, Cássio concorreu novamente ao governo do Estado, tendo como principal adversário Ricardo Coutinho, que foi reeleito. Em 2018, ao tentar sua recondução ao Senado, o “príncipe herdeiro” do clã da Borborema foi surpreendido com uma derrota acachapante que o posicionou no quarto lugar, abaixo de Luiz Couto, de Daniella Ribeiro e de Veneziano Vital do Rêgo.
Os próprios analistas políticos foram “pegos” de calça curta na projeção do resultado daquelas eleições, e Cássio chegou a atribuir o revés a um “tsunami” nacional que teria sido projetado a partir da própria eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República, derrotando Fernando Haddad, que substituiu Lula no páreo.
De sua parte, Ricardo explicou que resolvera permanecer no governo até o último dia do mandato por duas razões: a) o desejo de eleger João Azevêdo ao Executivo; b) derrotar Cássio Cunha Lima ao Senado. Apurou-se, depois, que muitos dos votos de Daniella foram “descasados” dos de Cássio, indicando a prevalência do interesse particular na conquista das duas vagas ao Senado Federal.
Foi um revés histórico, em certa medida injusto, teoricamente, para com Cássio, que, desde então, manteve-se afastado da disputa frenética por mandatos.
Cunha Lima explicou ter passado a dar prioridade à própria sobrevivência – e a verdade é que, de lá para cá, tem sido voz respeitada nas articulações referentes ao processo eleitoral da Paraíba sem cogitar, necessariamente, a perspectiva de resgatar mandatos, quer na Câmara, no Senado ou mesmo no Executivo.
Em 2020, Cunha Lima foi consultado sobre eleições municipais, principalmente em Campina Grande, contribuindo com sugestões para a manutenção da hegemonia do “clã” no segundo colégio eleitoral do Estado. Em 2022, o jovem deputado federal Pedro Cunha Lima, filho de Cássio, foi ungido candidato do bloco oposicionista ao governo, dando combate a João Azevêdo, que se encaminhava para a reeleição, e logrando viabilizar um segundo turno contra ele.
Pedro substituiu no páreo ao deputado federal Romero Rodrigues (Podemos), que refugou a possibilidade de concorrer ao Executivo, e, como candidato, demonstrou fôlego para enfrentar o governador João Azevêdo e a máquina que este pilotava.
A aliança com Efraim Filho, candidato a senador pelo União Brasil, reforçou a posição de Pedro, que, no entanto, não concretizou o objetivo, a despeito de Efraim ter sido vitorioso no primeiro turno contra nomes influentes como o do ex-governador Ricardo Coutinho e da então deputada Pollyanna Dutra.
Cássio Cunha Lima mantém-se operante no bloco oposicionista como um ativo político importante no cenário paraibano e é constantemente lembrado para disputar, novamente, até mesmo, o governo do Estado, mas tem dado declarações no sentido de que a movimentação ensaiada é em torno de uma suposta candidatura de Pedro àquele posto.
Tendo estreado na Câmara como o mais jovem constituinte do país e tendo convivido com políticos experientes como Ulysses Guimarães, Luiz Inácio Lula da Silva, Mário Covas, Cássio Cunha Lima dá a impressão de não ter fechado, concretamente, o seu ciclo político na Paraíba.
É essa impressão que alimenta as especulações de que ele pode voltar, embora seja claro que Efraim já se articula a passos largos para ser o candidato da oposição em 2026 a governador e que Pedro, embora focado na atividade docente, continua sonhando com a revanche de uma disputa pelo Palácio da Redenção.
As digitais de Cássio certamente vão aflorar na montagem do script para o pleito do ano vindouro, que poderá, ou não, liquidar a Bastilha socialista na Paraíba.
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba