opinião

Caso da "santa" de Sapé: a ascensão e queda de uma mentira que deve servir de exemplo a imprensa - Por Marcos Thomaz  

Uma boa samaritana. Símbolo de honestidade. Quase Franciscana. Retoques de seu cotidiano humilde aqui, pinceladas sobre a sua dedicação materna ali. Roteiro perfeito para a imprensa.

Uma boa samaritana. Símbolo de honestidade. Quase Franciscana. Retoques de seu cotidiano humilde aqui, pinceladas sobre a sua dedicação materna ali. Roteiro perfeito para a imprensa.

História sob medida para adentrar lares e cativar corações.

Floreada, recheada de bons predicados, natureza pura, assim foi apresentada, embalada, vendida a moça, que “lutou bravamente” para devolver quase 50 mil reais em dinheiro para uma pessoa que sequer se esforçava em receber.

Daiane Silva ganhou os holofotes locais, virou celebridade em Sapé, na Paraíba, comoveu o Brasil, por que não??

Todo esse brilho reluzente e fugaz, se evaporou com a prisão sob acusação de estelionato…

Mas até ali a cidadã já havia sido personagem de matérias emocionadas, amplificando a aura que a própria havia criado sobre si.

“Todos os dias nascem deuses, alguns maiores e outros menores do que você”, já alertava a Nação Zumbi, direto d´O Olimpo.

Acho que é o fenômeno dos extremos.

Cancelamentos e endeusamentos.

A sociedade moderna em suas leituras superficiais de tudo e sobre todos retroalimenta essa polarização pobre de bom e mau baseada apenas em predileções.

Se eu gosto, me afino, afeiçôo aquilo, tudo de cá é lindo e tudo acolá desprezível.

Precisa desses referenciais maniqueístas.

Reflexo dessa obtusidade coletiva contemporânea.

Tudo é superficial, não se aprofunda em nada, recebe informações de enunciados e acha que está embasado, já sabe de tudo.

Ou se sacraliza, ou se demoniza.

E a imprensa, talvez nem devesse, mas é parte dessa “doença” social, ou simplesmente se deixa contaminar.

Afinal, ainda se tenta fazer comunicação oficial por humanos. Nem tudo são bots, robôs programados para infestar as redes com mentiras e meia verdades.

Envolvidos, atraídos por uma bela história apenas se deixam levar pelo “canto da sereia” sem praticar o exercício inescapável à profissão: questionar.

E claro, nem tudo são flores e floreios apenas sob a boa vontade dos profissionais de imprensa.

Há também a necessidade de grandes pautas, histórias heróicas para alimentar a audiência e daí se desapega de valores básicos, imprescindíveis à atividade.

E sim, meus caros, haviam pontos óbvios a deixar uma “ pulga atrás da orelha” ao observador minimamente perspicaz…

Primeiro, quantas pessoas andam com 47 mil reais em dinheiro vivo em uma bolsa atualmente?

Se anda, por que anda? Qual a origem de tamanho volume de cédulas? Hoje se faz pix até para comprar um picolé, ou cremosin, como preferir…

Ou, onde estava essa ganhadora de loteria, que “ninguém sabe, ninguém viu”?

Apenas mais um caso…

Ainda continuaremos a produzir deuses, alguns melhores e outros piores…

Fonte: Marcos Thomaz
Créditos: Marcos Thomaz