capital político é como dinheiro fora de circulação

Cartaxo deu um nó na sucessão. Mas, agora, quem desata o nó que ele deu ? - Por Gilvan Freire

O certo é que Cartaxo, se queria ampliar o seu cacife apenas, conseguiu um aumento de capital político, embora não saiba ( ou não revele) o que pretende fazer dele. E capital político é como dinheiro fora de circulação - ou debaixo do colchão - com o passar do tempo pode se desvalorizar.

CARTAXO DEU UM NÓ NA SUCESSÃO . MAS, AGORA, QUEM DESATA O NÓ QUE CARTAXO DEU ?

Passados os primeiros dez dias do fico de Luciano, em que ele jogou para cima as cartas do baralho político estadual em tempos de grande ebulição eleitoral tanto local quanto nacional, a população continua mais atônita do que os próprios políticos, sem quem ninguém ainda possa entender com clareza as razões da virada de mesa e para onde o jogo vai agora, vez que, assim como na política ou na química, toda separação ou mistura de materiais gera uma diferente reação e produz um produto novo ou inovado.

Custa crer que Luciano, ao tomar atitude tão drástica e de tantos riscos com relação ao seu próprio destino como líder emergente, não tenha ficado com alguns trunfos na manga, ou não tenha combinado o novo jogo com outras forças políticas. Ou, ao menos, tido uma previsibilidade da rearrumação dos novos jogos que se formarão a partir da renúncia. Mudam-se as táticas, os tipos de jogadas, saem jogadores e entram outros, mas o novo baralho é do mesmo modelo e o jogo continua – afinal, o jogo não pode parar.

Parecido mesmo com o jogo profissional do baralho, no jogo político atual nenhum jogador merece a confiança do outro, diferente de outros tempos para trás quando os líderes lideravam precisamente porque mereciam a confiança dos liderados e até o respeito dos adversários, e a palavra empenhada e os compromissos firmados eram uma sentença com selo de fé pública.

Nas primeiras décadas do século passado, quando o Padre Aristides chegou ao Piancó e se fez grande líder combatendo as oligarquias dos Montenegro, os donos do tempo e das coisas e dos homens naqueles currais eleitorais inexpugnáveis dos sertões incultos e pobres – ele vítima de todas as tramas urdidas para expulsar o missionário forasteiro que terminou sendo mártir da Coluna Prestes com a colaboração de conspiradores locais – ainda assim disse, certo dia, em sermão na igreja, de forma surpreendentemente pura e leal em sua alma cristiânica, que se morresse gostaria que o povo seguisse a orientação política dos Montenegro, seus inimigos cruentos, mas a quem reconhecia serem benfeitores e defensores valentes dos interesses do povo e da região. Eita !!! Velhos líderes sábios !!!

Luciano deve ter agido não apenas pelo medo mas pelo pânico que afugenta a convivência e o respeito entre os líderes políticos estatuais, cada um conduzindo um Rosário de desatenções e desrespeitos aos liderados ou parceiros nos últimos anos na Paraíba, piorado muito com a chegada de Ricardo Coutinho ao topo, sua frieza, suas ingratidões e traições, sua inafetividade doentia, e sua gigantesca capacidade de tratorar inimigos e/ou ex-aliados usando como armas letais o dinheiro público, para reinar sozinho.

O prefeito deve ter sopesado tudo, o que ainda não seria suficiente para justificar o ato que, no primeiro momento , causa maior prejuízo a ele mesmo, na medida em que empresta caráter de irreversibilidade a decisão, jogando um projeto claramente viável hoje para frente, sem medir que mais tarde o cenário estará mais rico de novos líderes e com novas motivações

Desconfiança e nojo de tudo, pode ser uma das senhas imagináveis para se entender o que passou e passa pela cabeça do prefeito, mas o tempo corre para trazer à lume a clareza que falta ao cenário escuro. Há um tempo exíguo, mas suficiente para chegar ao fatal 07/abril – quando todos os líderes são obrigados a dizer o que pensam e o que vão fazer – com as definições , misturas , somas e subtrações e mexidas inevitáveis. Aí , então, se saberá quem tem TRUNFO guardado e que jogadores serão obrigados a confiar (desconfiando) em quem para continuar no jogo com direito a novo baralho.

O certo é que Cartaxo, se queria ampliar o seu cacife apenas, conseguiu um aumento de capital político, embora não saiba ( ou não revele) o que pretende fazer dele. E capital político é como dinheiro fora de circulação – ou debaixo do colchão – com o passar do tempo pode se desvalorizar.

Por enquanto, a cadeira vazia que Luciano deixou na sala das oposições é um buraco que atormenta os verdadeiros líderes e eleitores oposicionistas no Estado, mas, por outro lado, aflige também a situação, que ainda não recebeu diretamente do prefeito nada, a não ser especulações dúbias entre aceitar ou não aceitar Luciano, com a natural e justificada desconfiança de que o renunciante queira mesmo é se libertar de lideranças predadores, entre as quais a mais mortífera : Ricardo Coutinho, de quem ele próprio já provou o sabor de fel.

Provavelmente, durante esta semana, a cadeira vazia de Luciano será ocupada, e entram na linha de sucessão dela o prefeito da segunda maior prefeitura do Estado, representando o maior conjunto eleitoral por região politicamente engajada do Estado ( o compartimento da Borborema ), Romero Rodrigues, seguido de perto e por ordem de Manoel Jr e Pedro Cunha Lima, restando apenas saber qual o gesto de Cartaxo e a favor de quem.

Independente do novo itinerário que que possa adotar Luciano, o lado governista precisa superar as enormes dificuldades que está enfrentando dentro e fora do governo – a Justiça estadual e a federal, comum e eleitoral, o Ministério Público estadual e o federal, os servidores amotinados, os índices de governabilidade e o cerco da população, um candidato agonizante e a vice governadora rebelada com o apoio nacional de seu partido. Mais do que nunca RC precisa de Luciano para salvar sua pele ameaçada de escalpe. De Deus ele não precisa porque já se julga divindade , mas pode descer o despenhadeiro exatamente à falta DELE. E Cartaxo pode dar um empurrãozinho. Ou salvá-lo do abismo à vista.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: gilvan freire