Aos 23 anos, quando troquei o Rio de Janeiro, onde nasci, pela Paraíba, terra que já era minha antes do meu nascimento, escrevi uma carta ao meu pai falando das razões da minha decisão. Sabia que ele poderia não entender o meu gesto, abandonando um bom emprego na Companhia Federal de Seguros, além de estar cursando o 3º ano de Direito na Faculdade Cândido Mendes.
Esta semana, revolvendo os meus arquivos, encontrei aquele precioso documento e achei importante publicá-lo, nesse primeiro dia do ano, pelo exemplo que pode conferir às novas gerações, aos nossos filhos e netos, como estímulo para que jamais deixem de buscar o seu ideal, lutem por ele e procurem os caminhos para a realização dos seus sonhos.
João Pessoa, 30 de junho de 1975
Pai querido,
Imagino o quanto o sr. deve ter ficado sentido com essa minha partida, assim, de repente, sem ao menos me despedir do senhor e de todos. Acontece, pai, que não foi minha intenção magoar ninguém. Apenas eu me conheço e sei que se tivesse que me despedir, de um a um, acabaria não viajando. Chegar a essa decisão muito me custou e a fase que me encontro, de incertezas, insatisfações e inquietações, não é das melhores. A necessidade de tomar uma atitude e definir o que queria da minha vida me fizeram agir assim e eu não esperava, nem queria, encontra-lo no dia da minha partida. A sua reação, de desaprovação e revolta, deixou-me ainda mais arrasado e só Deus sabe como consegui reunir forças suficientes para entrar naquele avião.
Hoje à tarde irei ao encontro do dr. Amir Gaudêncio, que vai assumir a presidência da PBTUR e me acenou com uma perspectiva de trabalho. Ainda não posso lhe adiantar nada e não tenho nada de concreto para lhe dizer. A não ser que vontade e obstinação não me faltam para vencer aqui nessa “terrinha”. Pode ser que o sr. ainda perceba alguma segurança nas minhas palavras, mas ainda estou um tanto abalado com tudo o que antecedeu a minha viagem até chegar a João Pessoa.
Deixar um lugar onde criamos raízes não é nada fácil, principalmente quando não temos a data do regresso nem sabemos se iremos regressar. Leia esta carta para Rosalinda e João Luiz (meus irmãos, ambos já falecidos). Eu os amo muito e quero que eles fiquem informados a meu respeito.
É uma pena que na vida a gente nem sempre possa ficar ao lado das pessoas que mais amamos. O ideal seria se pudéssemos reunir, num só lugar, todos aqueles a quem queremos bem. Aqui fui muito bem recebido por todos que me acolheram com carinho, confiantes que eu me adapte e consiga conquistar o meu espaço nessa terra abençoada.
Sei que tenho tudo nas mãos e dependo do meu próprio esforço para vencer. Espero que o sr. me compreenda e não fique magoado com o seu filho que o ama e quer corresponder ao nome que herdou. Um grande e saudoso abraço”.
Dizem que o homem é o resultado de suas escolhas. Eu, certamente que inspirado por Deus, fiz a escolha certa.
Fonte: Abelardo Jurema
Créditos: Polêmica Paraíba