7. “CANÇÃO DA DESPEDIDA”
Na noite em que foi editado o AI-5, quando a ditadura militar enfim tirou a máscara, Geraldo Vandré e Geraldo Azevedo estavam numa apresentação artística no município de Anápolis, GO e ao tomarem conhecimento de que estavam sendo procurados pelos militares, fugiram. Vandré ficou escondido numa fazenda no interior de Minas Gerais, hóspede da viúva do escritor Guimarães Rosa, dona Aracy Carvalho. E foi lá onde a dupla compôs “Canção da despedida”, uma melancólica música de exílio.
A censura proibiu o seu lançamento, e só após quinze anos foi liberada e resgatada por Elba Ramalho. No disco não consta créditos à autoria de Geraldo Vandré, porque não foi permitido por ele, aparecendo apenas Geraldo Azevedo como seu autor. Entretanto hoje Vandré e Azevedo, em todas as gravações, são apresentados como parceiros nessa composição.
“Já vou embora/Mas sei que vou voltar/Amor não chora/Se eu volto é pra ficar/Amor não chora/Que a hora é de deixar/O amor de agora/Pra sempre ele ficar”.
É um canto de real despedida. O personagem, na música, fala para seu amor que está indo embora, mas na certeza de que voltará. Pede que sua despedida não seja motivo de choro, porque um dia voltará de forma definitiva para ficar.
Toda despedida é dolorosa. Fica uma sensação de perda, de um afastamento em que se teme seja terminante o relacionamento. Se a hora é de partir, ele pede que não seja motivo de prantos, porque o amor que existe naquele momento é eterno, “para sempre há de ficar”. A separação não fragilizará os sentimentos que os une.
As circunstâncias conspiravam contra eles. A situação política do país não permitia que ele ficasse, sob pena de ser preso. Tinha que fugir. Infelizmente o caminho que estava sendo oferecido a ele na vida, naquele instante, não admitia continuar sendo percorrido junto com ela.
A ditadura, o “rei mal coroado” como cita na letra da canção, o governante imposto pelo golpe militar, não queria que o amor frutificasse em seu “reinado”. Era um tempo em que a violência, as perseguições, as arbitrariedades, substituíam o clima de paz, de compreensão, de liberdade, que o país queria e precisava viver. O regime tinha consciência da rejeição do povo. O governo não era amado, era temido. E quem não ama, detesta ver as pessoas se amando.
Alimentava a esperança de que a ditadura vivia seus momentos finais. Julgava que o governo já não tinha mais força de subsistência por muito tempo, “estava velho e cansado”. O “rei” estava “perdido no seu reinado”, não tinha comunhão com o pensamento e os anseios populares, não encontrava apoio dos seus “súditos”, estava no suspiro da morte. Quando coloca “sem Maria”, imagino que o personagem retrata uma situação de solidão, sem companhia, sem compartilhamento, sem cumplicidade no que fazia.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Rui Leitão