OPINIÃO

Cajazeiras: a saúde do prefeito e a gestão refreiam debates políticos para o próximo ano

Na cidade de Cajazeiras, referência no Alto Sertão paraibano, a preocupação dos habitantes com a saúde do prefeito José Aldemir Meireles, do PP, e com o andamento da administração municipal, ofuscam completamente as discussões políticas visando ao pleito estadual do próximo ano. Marco da cultura no Estado, imortalizada com o slogan “A cidade que ensinou a Paraíba a ler”, Cajazeiras é um dos colégios eleitorais mais importantes no mapa do Estado pelo raio de influência que exerce em localidades que polariza. Costuma ser termômetro de embates acirrados até em disputas majoritárias ao Executivo da Paraíba e é reduto cobiçado por lideranças de várias regiões nos prélios memoráveis que lá são feridos, ciclicamente.

Médico e político de atuação destacada, José Aldemir foi reeleito na disputa de 2020 com 48,08% dos votos válidos, derrotando Denise Albuquerque, do Cidadania, remanescente de outras batalhas, e Antônio Marcos Campos (PSB), irmão do deputado estadual Jeová Campos, que apostava na sua chance de ser símbolo de renovação. A experiência e a folha de serviços prestados por José Aldemir, que também foi deputado estadual e federal, além do prestígio da sua mulher, a deputada Paula Francinete Lacerda Cavalcanti, “tratoraram” candidaturas adversárias e deram novo passaporte ao gestor. Além do investimento em obras públicas e ações de assistência social, José Aldemir vinha se projetando no esforço de enfrentamento ao coronavírus. A pandemia de Covid-19 tem no Sertão paraibano um dos seus pontos de inflexão, por se tratar de área limítrofe ou fronteiriça com municípios de Estados vizinhos como Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, demandando canais de transmissão da doença pelo território local.

Por estar na linha de frente das medidas emergenciais de combate à epidemia, José Aldemir tornou-se vítima da Covid. Além de testar positivo, a situação piorou por causa de problemas cardíacos de que ele é portador, tornando-se urgente sua remoção para o hospital da Unimed em João Pessoa, onde teve que ser intubado, e, na sequência, o seu deslocamento para São Paulo, onde, em princípio, surgiram problemas logísticos de falta de vagas. Aos 75 anos de idade, ele permaneceu na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Sírio Libanês na capital paulista, e, em face da recuperação gradativa, foi transferido para Unidade de Tratamento Semi-Intensivo, daí passando para outros estágios. Em meio a correntes de orações por parte de familiares, amigos, eleitores e conhecidos, o chefe do executivo cajazeirense tem alternado fases de instabilidade e estabilidade.

Sua esposa, a deputada Doutora Paula, comentou, sobre a internação: “A gente sabe que a ciência cura o corpo e a fé cura a alma. Então, foi agarrada nessas duas pilastras que eu consegui atravessar essa tempestade. Estamos em terra firme, ele está recuperado”. O prefeito solicitou afastamento do cargo, inicialmente por 15 dias, a fim de se dedicar ao tratamento, sendo substituído nas atividades administrativas pelo vice, Marcos Antônio Gomes, do MDB. Na sequência, o pedido de licença foi prorrogado. O prefeito foi imunizado com a primeira dose da vacina contra o coronavírus mas não recebeu a segunda porque já estava infectado. Além dele, três secretários municipais também testaram positivo para a Covid. José Aldemir foi internado com cerca de 40% dos pulmões comprometidos, mas se mostrou consciente e, aos poucos, recuperou a capacidade respiratória. Os cuidados foram redobrados devido a problemas do marcapasso e desfilibrador, bem como à queda de saturação.

A deputada e companheira do prefeito Doutora Paula tem mantido a opinião pública regularmente informada sobre a evolução do quadro de saúde de José Aldemir, líder político respeitado por diferentes correntes partidárias do Estado – sobretudo a população de Cajazeiras e da região onde ele milita. Nos mandatos parlamentares que exerceu, tanto na Assembleia quanto na Câmara Federal, José Aldemir caracterizou-se pela sensibilidade com as reivindicações dos mais carentes e se mostrou incansável no encaminhamento de demandas de interesse dos municípios dos quais se fez representante, graças à confiança conquistada. Formado peça Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba, foi primeiro-secretário da Assembleia Legislativa e presidente da Comissão de Saúde da Assembleia. O mandato na Câmara Federal foi exercido entre 1995 e 1999.

Por causa da calamidade do coronavírus e do estado de saúde do prefeito Zé Aldemir, os debates políticos estão refreados, inclusive porque também há uma preocupação primordial com o andamento da gestão administrativa por parte do vice, investido às pressas na titularidade. Apesar de ter um “estilo parceiro” nas missões que desenvolve como homem público, o prefeito José Aldemir é, indiscutivelmente, centralizador na tomada de decisões, delegando tarefas essenciais a um grupo restrito de figuras da sua absoluta confiança. Mas as informações em Cajazeiras são de que não houve solução de continuidade administrativa e a máquina está sendo conduzida dentro das condições de temperatura e pressão da própria conjuntura geral, a que se vinculam as restrições à mobilidade social e as dificuldades para a liberação de pleitos que são devidos à cidade do Padre Rolim. Quanto a Zé Aldemir, há uma expectativa natural quanto ao ritmo que ele deverá empreender uma vez liberado dos cuidados médicos mais urgentes. Esse ritmo sofrerá queda natural, a ser compensada pelas diretrizes que ele próprio repassou a auxiliares e pela supervisão de pessoas-chaves na estrutura de poder na cidade sertaneja, fincada no extremo-oeste da Paraíba.

Fonte: Os Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba