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Bolsonaro na cama e longe das ruas - Por Flávio Lúcio

Apesar do choque gerado por um ato de violência a céu aberto, não há uma comoção, como aconteceu quando aconteceu o acidente aéreo que tirou a vida de Eduardo Campos.

As próximas pesquisas vão medir o impacto na campanha causado pelo ataque a Bolsonaro no fim da semana passada, sobretudo em meio aos mais pobres. Talvez seja registrado algum crescimento e Bolsonaro ultrapasse o limite em que se manteve por meses estacionado (em torno do 20%) e chegue aos 25%, 26%, mas eu não acredito que vá muito além disso.

Apesar do choque gerado por um ato de violência a céu aberto, não há uma comoção, como aconteceu quando aconteceu o acidente aéreo que tirou a vida de Eduardo Campos. Em 2014, a notícia da morte de Campos gerou uma onda de comoção, que foi alimentada pelos dias que se seguiram à tragédia, sobretudo pela grande mídia: as reportagens sobre a trajetória de Campos, as imagens de muitos pernambucano em lágrimas, o longo velório transmitido ao vivo onde Marina Silva, até netão candidata a vice na chapa de Campos, manteve-se todo tempo ao lado da viúva e dos órfãos. O efeito eleitoral foi imediato, tanto que levou Marina à liderança logo após o anúncio de que ela substituiria Eduardo Campo.

Com Bolsonaro, as circunstâncias são obviamente diferentes, a começar pelo fato do candidato ter sobrevivido ao ataque, o que faz muita diferença quando estamos tratando de comoção eleitoral. Além disso, a trajetória pregressa de discursos de incitação à violência, como o que ele fez uma semana antes no Acre, onde, empunhando um tripé de câmera, disse que iria “fuzilar a petralhada toda aqui do Acre”, ou quando, em 2015, desejou que Dilma Rousseff caísse “infartada ou com câncer, ou de qualquer maneira”. E realmente difícil ter empatia por alguém assim, por mais que lamentemos o que aconteceu a ele. Não bastasse isso, os erros cometidos por pessoas próximas ao candidato, que tentaram explorar eleitoralmente o fato, repercutiu negativamente.

Passado o impacto inicial, o maior problema que Bolsonaro vai enfrentar daqui por diante vai ser ficar preso a uma cama enquanto seus adversários fazem campanha de rua, isso no momento mais decisivo da eleição. Logo, a cobertura da Globo com seus plantões na porta do hospital cairá numa repetição sem novidades. Para uma candidatura que dependia da mobilização crescente do eleitor para leva-lo ao segundo turno, pode ser que o esfaqueamento não surta o efeito eleitoral, ao contrário do que pensavam muitos que estão próximos a Bolsonaro, entre eles o filho Flávio Bolsonaro.

A questão agora é saber se o crescimento de Ciro Gomes e Fernando Haddad na reta final levará os dois ao segundo turno. Acredito numa disputa acirrada dos três pelas duas vagas. Vamos esperar pelas pesquisas do Datafolha, que será divulgada logo mais à noite, e do Ibope, para termos uma ideia mais clara da eleitoral quando ela se aproxima da reta final.

Fonte: Flávio Lúcio
Créditos: Flávio Lúcio