Opinião

BAIXO CALÃO, INSULTOS E AMEAÇAS: o dialeto Bolsonarês - por Rui Leitão

O Brasil vem conhecendo uma nova linguagem que poderíamos chamar de bolsonarês. É um estilo diferente de estabelecer a comunicação entre um grupo que pensa e age de forma igual.

O Brasil vem conhecendo uma nova linguagem que poderíamos chamar de bolsonarês. É um estilo diferente de estabelecer a comunicação entre um grupo que pensa e age de forma igual. Expressões orais que fogem ao que estávamos acostumados a ouvir nos ambientes sociais em que convivemos. Não há a criação de nenhum termo novo no nosso idioma. O que existe é uma maneira própria de manifestação verbal, adequada ao contexto da comunicação desejada. Um linguajar específico que caracteriza o grupo político e ideológico que se formou sob a liderança do atual presidente da república. Modos de expressar opiniões e propagar conceitos ajustados ao ideário político que passaram a defender.

Esse dialeto é de fácil tradução linguística, porém exige dos que não integram a comunidade que o utiliza, uma atenção maior para perceber as mensagens subliminares contidas nos pronunciamentos, com o cuidado de não se deixarem ser influenciados pelos jargões insistentemente proferidos ou contaminados pelos sentimentos internalizados nas suas manifestações. No caso, não se deve apenas observar o vocabulário, mas a exteriorização emocional das palavras ou frases repetidamente locucionadas.

Recomenda-se não permitir que crianças do seu convívio social ou familiar participem de diálogos onde o bolsonarês esteja sendo praticado. No dicionário que conhecemos há séculos, muitos dos vocábulos falados são impróprios para ambientes em que se respeite os princípios da moralidade e da civilidade. Embora para eles tenham se tornado verbalizações consideradas normais. Já não causam constrangimento ou espanto entre eles, mas provocam situações de incômodo íntimo entre os que não estão habituados com a vulgarização do vocabulário da língua portuguesa. Dirão, com certeza, que esses são falsos moralistas, querem se mostrar puritanos e politicamente corretos.

Basta assistir o vídeo da reunião ministerial comanda por seu líder maior que tivemos oportunidade de ver sexta feira passada. O dialeto bolsonarês se excede no uso de palavras de baixo calão, insultos, ameaças e ofensas. Para quem não está familiarizado com a terminologia por eles usada, é tomado de estupefação com o que testemunhamos. Ora, se no recinto reservado às maiores autoridades do país os palavrões e xingamentos irados são proferidos sem o menor acanhamento, o que esperar dos que se espelham no comportamento deles.

Interessante que, junto às expressões verbais inovam nas expressões corporais. Nessa conjugação de manifestações, na fala e nos gestos, percebe-se sinais de raiva, desprezo, discriminações, intimidações, bravatas. Perigosamente contagiosos. As atitudes e verbalizações são mediocrizadas, afastando possibilidades de assombro por entendimento de que fogem ao que compreendemos como moralidade e civilidade. O símbolo da campanha eleitoral era fazer com as mãos o gesto de quem está empunhando uma arma. Não precisamos dizer mais nada.

Declarações virulentas são trivializadas. A contundência e a exasperação são marcas do dialeto bolsonarês. A linguagem dominante é a agressividade. Não possuindo bases sólidas de argumentação, partem para a descompostura e as provocações. O risco é entrar nesse estado de ânimo e se rebaixar ao nível de comportamento e atitudes deles. O léxico empregado é cheio de impolidez linguística. Tentam equilibrar a inurbanidade vocabular, mencionando frases que acenam inclinação para o religioso, como se fossem indivíduos tementes a Deus e obedientes aos ensinamentos cristãos. A prática, no entanto, contraria o discurso. Como mantra o seu líder maior costuma citar um versículo bíblico, João 8,32, que diz: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. A hipocrisia se contrapondo ao enganoso compromisso com a honestidade.

Rui Leitão

Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão