
Paraíba - Concluído o giro administrativo pela Europa, sobretudo Portugal, em que capitalizou perspectivas de investimentos de grupos empresariais na Paraíba, sobretudo no segmento do Turismo, o governador João Azevêdo (PSB) reassume o poder enfraquecido politicamente em meio a reviravoltas que se sucederam, na sua ausência, na própria base de apoio e, em especial, na oposição. A senadora Daniella Ribeiro, aliada do governador e mãe do vice-governador Lucas Ribeiro (PP), perdeu o comando do PSD para o grupo Cunha Lima, viu-se na contingência de deixar o partido e enfrenta contestação à sua permanência na própria secretaria da Mesa do Senado, espécie de “prefeitura” da Casa, diante do movimento de parlamentares como Omar Aziz, do PSD-AM, para substituí-la na vaga alegando prioridade do partido, não da parlamentar. Até então, Daniella fazia crer que sua indicação para o posto fora um ato pessoal, da lavra do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, do União Brasil. Ainda no bloco oposicionista, o senador Efraim Filho (UB) prepara-se para assumir a presidência da Comissão Mista de Orçamento que já foi comandada por Daniella.
Em outra “frente”, o chefe do Executivo paraibano foi despojado de qualquer influência direta no processo para preenchimento da primeira das três vagas de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, que acabou favorecendo uma filha do presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino (Republicanos) com apoio expressivo de deputados estaduais. Embora a escolha, que recaiu na doutora AllanaGaldino, fosse prerrogativa do Legislativo, o governador de plantão poderia ter algum tipo de participação no processo – senão de interferência, pelo menos de consulta ou entendimento a respeito, inclusive porque deputados aliados que lhe são fiéis tinham pretensões em jogo. No passado recente, governadores do Estado compartilharam com dirigentes da Casa de Epitácio Pessoa indicações que tivessem caráter político e colaboraram, então, para a confirmação de nomes aprovados e empossados. Adriano Galdino, porém, como que dispensou o concurso do Executivo na decisão que, por todos os títulos, era da competência do Poder que preside, e conduziu a demanda em estreita e exclusiva articulação com deputados, logrando convencer o próprio Tião Gomes, que era favorito inicial, sobre as dificuldades que teria para emplacar uma pretensão agora, diante de óbices judiciais clarividentes.
O desfecho da escolha para conselheiro do TCE foi um duro golpe para o núcleo mais ortodoxo ligado ao governador João Azevêdo e “especializado” em fomentar intrigas ao invés de promover a unidade. Pelo menos um nome influente do entorno de João chegou a entrar em pauta – o do secretário de Infraestrutura e Recursos Hídricos Deusdete Queiroga, também outrora pré-candidato ao governo do Estado, tendo sido retirado abruptamente de cena quando se constatou a avançada articulação que o presidente Adriano Galdino já operava nos bastidores e que o tornou senhor absoluto da decisão final, não dando margem a qualquer tentativa de desconstrução do script que vinha traçando. A verdade é que Galdino tinha um leque de cartas à mão, com opções variadas, e se preparou com paciência beneditina para vencer mais uma batalha, das tantas que tem enfrentado no seu currículo. O governador, de sua parte, não se moveu concretamente em face da oportunidade, ficando restrito a uma vaga retórica de que gostaria de ser ouvido a respeito. Era visível o seu empenho para não confrontar-se com Adriano, depois de “Senas” acumuladas que já vinham pontuando – e, sendo assim, o caminho ficou aberto para mais uma ofensiva de Galdino na estratégia expansionista de poder do Estado.
Restou patente, para frequentadores da “cozinha” de João na Granja Santana, a inapetência do chefe do Executivo para conquistar espaços de poder ou demarcar territórios de mando. Na definição, “em off”, a jornalistas, de um deputado da base agastado com a situação, “o governador não tem apetite pelo poder”. Ontem, em rodas políticas, comparava-se a inação de Azevêdo, em momentos decisivos, ao estilo adotado pelo falecido ex-governador Ivan Bichara Sobreira, na década de 70, de evitar e até mesmo desviar-se de enfrentamentos ou embates difíceis a todo custo. Essa abulia de Bichara deu fogo ao embrião da “dissidência arenista” capitaneada por Antônio Mariz, com o aval do ex-ministro João Agripino, que levou Mariz a desafiar Tarcísio Burity no colégio eleitoral indireto em 1978. O combate era desigual porque, bem ou mal, havia uma máquina funcionando a serviço de Burity junto a convencionais com direito a voto, mas Mariz cravou a imagem de rebelde e credenciou-se a ser candidato em outras disputas majoritárias, saindo vitorioso finalmente pelo voto popular em 1994, quando a saúde debilitada já conspirava contra seus passos. A dissidência aberta em 78 atraiu o interesse e o reforço do então PMDB chefiado pelo senador Humberto Lucena e chegou a ter desdobramentos no plenário da Assembleia Legislativa, como assinalam os anais da história dos grandes momentos políticos do Estado.
Nas últimas horas, deputados que ainda se dizem perfilados com a liderança do governador João Azevêdocomentavam, à boca pequena, que a esta altura é difícil “parar” o deputado Adriano Galdino na expansão do projeto de poder a que ele se dedica, tanto por ser um “animal político” como por ter habilidade e fazer a leitura correta dos fatos e, sobretudo, das lacunas que estão abertas no cenário político paraibano, tanto do lado do governo como do lado da oposição. Com o talento de esgrimista que tem revelado, Adriano entrou de vez no panteão dos líderes respeitados, ganhando imunidade para não ser subestimado na correlação de forças do xadrez político-partidário do Estado. Figuras como o deputado Hugo Motta, presidente da Câmara, e o senador Efraim Filho, expoente da oposição paraibana, ressaltam a habilidade de Adriano, que persevera na batalha para ser indicado candidato a governador. Já sobre o governador João Azevêdo diz-se que precisa tomar cuidado para que o governo não acabe antes do prazo de validade, na esteira de uma debandada sem precedentes na crônica política da Paraíba.