Opinião

As milícias digitais e o mecanismo de notícias falsas - por Rui Leitão

A quantidade maciça de conteúdos falsos pelas redes sociais tornou-se um mecanismo político usado por lideranças populistas com algum sucesso. Mensagens conspiratórias geram efeitos de mobilização, fazendo com que muitas pessoas enxerguem o mundo através de bolhas digitais fechadas. Interessante como, nesses casos, a liberdade de expressão e a manipulação andam juntas. Esses grupos formados pelas redes sociais prescindem de qualquer educação política, na compreensão ipsis litteris do termo.

As mensagens políticas são personalizadas, permitindo identificar qual tipo de conteúdo atende aos interesses de cada indivíduo, o que melhor se ajusta à sua história digital. É uma estratégia de intoxicação informativa. O laboratório das “milícias digitais”, utilizando técnicas de controle de narrativas. O importante é que a informação circule rapidamente nas redes, sem qualquer preocupação em saber se são verdadeiras. Ataques sincronizados resultam de um bem trabalhado exercício de ação política.

Privacidades violadas e disparos criminosos de informações são direcionados para manipular a opinião pública.  As milícias digitais formam a subcultura da internet, produzindo crises de desinformação em larga escala. São a face mais arcaica e sombria dos movimentos políticos, configurados como novos fascismos. A desordem informacional e a desorientação política fazendo o país mergulhar numa onda de violência, em razão da propagação epidêmica de discursos de ódio e mentiras.

As milícias digitais procuram ser a base de sustentação de uma governança digital com perfil autoritário. Originadas do contexto da hiperpolarização e da pós-verdade, elas defendem um ideário ultraconservaodor, retrógrado e totalitário, com conseqüências assustadoramente degradantes para a nossa democracia. A extrema direita mistura militância política com cidadãos que agem como zumbis. Não se constrangem em liberar os mais baixos e piores instintos, desde que atendam aos interesses de seus líderes na luta pela manutenção do poder, alimentados pelos delírios de onipotência.

A palavra de ordem é: “vamos destruir nossos inimigos”. Vocalizam as ameaças mais primárias. A hipnose coletiva que domina as milícias digitais, faz com que se sintam com poderes paraestatais. Não contribuem para o debate público, por isso utilizam robôs e perseguem os que têm opiniões contrárias às delas. É preciso identificar quem financia tais grupos, porque todos nós sabemos quem está se beneficiando com esse tipo de prática.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: por Rui Leitão