Interessante como as contradições terminam sendo estrategicamente uma forma de seduzir através do discurso político. Parece até ser melhor não ter posição firme sobre nada, ou usar da dubiedade ao expressar pensamentos no intuito de dissimular as verdadeiras intenções. Assim, dificulta qualquer contestação porque pode agradar gregos e troianos, atendendo anseios dos descontentes, indecisos e sonhadores. A ambiguidade caracteriza o agir político dessas pessoas.
Os que não se envergonham em ser contraditórios acham normal a incompatibilidade das afirmações atuais e anteriores. Pesa aí a conveniência do instante e do auditório. A incoerência pretende dar lugar à falsa apresentação de uma personalidade que se adequa a novas realidades, de alguém que não tem ideia fixa. No entanto, na verdade, demonstram insegurança no que falam e no que fazem, ajustando, com a maior desfaçatez, o discurso ao pragmatismo, com o objetivo de causar confusão na cabeça dos outros para disso tirarem vantagem. São, em síntese, aproveitadores da frágil consciência dos incautos.
Lamentavelmente as contradições praticadas ao sabor das circunstâncias seduzem os desavisados, os que não querem refletir sobre os enunciados, porque a eles interessa somente ouvir o que desejam, mesmo que corram o risco de no futuro perceberem que foram enganados. Passeiam por conceitos que vão da modernidade ao conservadorismo, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Alimentam ideologias extremas do espectro político, numa mágica fantasia de que podem atender ambas as expectativas.
Os contraditórios possuem uma extraordinária capacidade de jogar com as palavras, planejando confundir interpretações. Faz parte do jogo político. Não tendo firmeza no que dizem, nunca apresentam soluções práticas para os problemas. Viajam no campo da fantasia, dos sonhos ainda que utópicos. São hábeis na construção de mentiras, revelando o seu lado perverso e irracional. Sabem que assim podem adquirir um aspecto messiânico, o que promete milagres. A contradição discursiva é um fenômeno argumentativo que compromete a credibilidade do orador político.
É muito fácil identificar esses personagens no cenário político atual, basta despir-se um pouco das paixões e exercitar a consciência crítica. Não podemos continuar sendo reféns do equilíbrio dos antagonismos, buscando sempre conciliar ambiguidades muitas vezes tão evidentes.
Rui Leitão
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Rui Leitão