Quando estamos ainda na fase da expectativa de um acontecimento indesejável, ficamos nutrindo a esperança de que algo pode mudar e que não há razão para o desânimo ou o desespero. Entretanto quando constatado o inevitável, a sensação de que o “pode ser” se transformou em “vai ser”, só restam duas alternativas: aceitar pacificamente, mesmo que em situação de sofrimento, ou resistir, de forma a que o “por vir” seja amenizado.
O estado de inquietação e de tensão provocado pela nova realidade não pode fazer do “medo” um argumento para a submissão, a passividade, a inércia. O cenário a ser enfrentado exige coragem e determinação, ainda que se tenha, em alguns instantes, o sentimento de que será uma luta um tanto quixotesca. É preciso ter competência para administrar a angústia e as apreensões. Caminhar contra a corrente é para os fortes e destemidos.
Quando o mundo aparenta ter enlouquecido, se faz necessário que surjam vozes de bom senso, na tentativa de fazer prevalecer o conceito de responsabilidade, inibir a ação dos insensatos, abrandar o coração dos inconsequentes. Assustar-se com o futuro e recuar, não vai diminuir a aflição. Pelo contrário, vai tornar o resignado refém do infortúnio, aceitando a perda de controle dos próprios passos.
Ao nos depararmos com as alternativas: aceitar ou resistir, nos colocamos entre a opção de nos mantermos presos aos problemas sem qualquer reação, ou nos dispormos a aprender caminhar na escuridão até que seja encontrada a luz do fim do túnel. Embora seja a trilha mais difícil, em consequência dos grandes desafios a serem certamente confrontados, o verbo “renunciar” jamais deverá ser conjugado. Quem abre mão de lutar pelo que acredita é um covarde, um “joão ninguém”, um indivíduo que não respeita nem a si mesmo. Afinal de contas a resistência é apenas um exercício democrático de se opor ao que não concorda.
Se o indesejável aconteceu, e o momento tornou-se crucial diante de uma realidade que se apresenta, contrariando anseios e ideais, a hora é de levantar-se, sacudir a poeira e dar a volta por cima, como diria o compositor Paulo Vanzollini.
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão