Reflexão

ABRIR PRA QUÊ? A flexibilização e o efeito sanfona, ajudam a entender que ainda não é tempo para sairmos do isolamento! - por Francisco Airton

Abrir para quê? Eis uma pergunta inevitável para os sensatos! Já ficou mais que comprovado que sair de casa é se expor e expor os outros, a morte!

Abrir para quê? Eis uma pergunta inevitável para os sensatos! Já ficou mais que comprovado que sair de casa é se expor e expor os outros, a morte! Então, por que sair agora do isolamento social? Definitivamente, ainda não é o momento! Mas, nem o crescimento assustador (para nós, confinados) do número de mortes pelo Brasil, parece fazer as pessoas recuarem do desejo mórbido de sair as praças e shoppings num perigoso desafio a maior ameaça (após 100 anos) a humanidade, que é o novo coronavirus!

A taxa de ocupação de leitos é uma das condicionantes para o avanço na flexibilização do comércio. No entanto isso vem gerando uma certa confusão no entendimento – tanto das autoridades, quanto da população. O país inteiro tem acompanhado nas últimas semanas, a luta de governadores e prefeitos na tentativa de reabrir o comércio e fazer seus estados e cidades voltarem a normalidade. Mas o vírus é tão devastador que, imediatamente as tentativas de retomada dessa tão desejada “normalidade”, os governantes se assustam e acabam voltando atrás em seus decretos ao sentirem o peso da pandemia fazendo milhares de novas vítimas – seja em contaminação, seja no aumento de mortes por todo o país –atraindo, assim, a revolta de festivos defensores da reabertura de tudo! E é exatamente essa pressão sofrida pelos governantes (cada vez mais, uma pressão política), que leva alguns a cederem aos “apelos” de abertura e a – invariavelmente – pôr em risco a vida de tanta gente.

No RS, por exemplo, segundo matéria publicada no G1, “mesmo com bloqueio de vales-transportes, Porto Alegre se distancia da meta de isolamento. Pouco mais de 43% das pessoas ficaram em casa na quinta-feira, dia 09. A Capital, até aquele momento, detinha 84% das vagas de UTI ocupadas e 152 mortes por coronavírus”. De acordo com matérias publicadas em jornais do Rio Grande do Sul, “a presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) gaúcha, Maria Fernanda Tartoni, defendeu a flexibilização da abertura dos estabelecimentos no Estado e definiu a situação dos comerciantes de “caótica”. A situação mais delicada no setor ocorre em Porto Alegre, onde bares e restaurantes estão fechados ao público. Uma pesquisa realizada pela Abrasel, divulgada no início deste mês de junho, aponta que 50% dos estabelecimentos da Capital podem fechar as portas em definitivo no próximo mês. Além disso, explica, os estabelecimentos têm como realizar um manejo preciso por se tratar de atendimento nas mesas. “Temos condições de retomar porque nos comprometemos com as regras”. Para evitar aglomerações, defendeu que deve haver uma “fiscalização forte, com penas rigorosas, para que isso não aconteça”.

Uma angustia que pode ser sentida por todos, até entendendo que as pressões nesse sentido parecem ser muito justas, mas impossível garantir que possa haver um controle por parte dos restaurantes em relação aos seus clientes, de uma vez que não foi bem o que vimos quando se abriu esse comercio na semana que passou. O desrespeito às regras e até as agressões praticadas por muitos como foi o exemplo do casal no Rio de Janeiro, que tentou humilhar um dos fiscais com a frase que se tornou meme nas redes sociais “Cidadão, não. Engenheiro civil, melhor que você”! O que define o nível de pessoas que querem, a todo custo, sair do isolamento social. Difícil controlar algo que já vem descontrolado em sua própria natureza! Não há como garantir, sem que haja uma punição mais severa – para o próprio bem dessa população – e que essa punição possa começar pelo bolso!

Mas sem querer ser pessimista quanto ao comportamento da humanidade, e sem parecer estar muito interessada nessa discussão (abrir ou não abrir) a doença segue matando numa velocidade cada vez mais assustadora! Chegamos hoje – até o momento em que escrevo esse artigo – a triste marca de mais de 72 mil mortes!

Segundo “o retrato estatístico da pandemia” apresentado pelo JN, “Uma linha do tempo dá ideia da velocidade do avanço da doença: o primeiro registro de morte no Brasil foi feito no dia 12 de março; 57 dias se passaram até que o país chegasse a 10 mil mortos. Depois, o tempo para atingir 10 mil óbitos começou a diminuir. Em apenas 13 dias, foram 20 mil vidas perdidas. Mais 11 dias e alcançamos 30 mil. Outros 10 dias e 40 mil pessoas tinham morrido de Covid-19. Nove dias depois, esse número passou dos 50 mil. Para chegar a 60 mil, esse prazo subiu um pouquinho, chegou em 11 dias. Mas, neste domingo, 12, alcançamos os 72.100”!  E se isso não lhe incomoda nem um pouco, deve ter algo muito errado com você! Se a dor, ainda não é a sua, muito cuidado, pois você pode ser o próximo a sentir as consequências dos seus atos, ou mesmo sobrando para alguém muito perto de você! Melhor ficar em casa!

Feitas as indagações que acho pertinentes e os apelos que vejo necessários para muitos esclarecimentos, acho importante fazer aqui alguns questionamentos que – se chegam a confundir a mente de quem está acompanhando atentamente os acontecimentos relacionados a pandemia pelo mundo – também acabam confundindo a mente de tantas pessoas que não tem acesso a informação, que acabam compartilhando fake News, ou que tem mesmo uma visão cética quanto ao problema!

E dessa forma fica muito difícil entender atitudes tão controversas de alguns desses governantes que, mesmo depois de tanto “sufoco” no sentido de construir hospitais de campanha para atender milhares de vítimas, compras apressadas de respiradores para salvar vítimas da Covid-19, contratar profissionais (muitos que sequer haviam concluído essa formação, antecipando a conclusão do curso, se é que entendi bem), de repente desmontarem toda estrutura construída, sob o argumento de que não é mais necessária tal estrutura de uma vez que a taxa de ocupação dos leitos caiu significativamente!

Como justificar o desmonte de equipamentos como estes, se as pessoas continuam morrendo e milhares agonizam em portas de hospitais clamando por um leito e respirador com esses números crescendo assustadoramente em todo o país? Se é sabido que na maioria dos estados, a doença está avançando para o interior e que sendo esses equipamentos, frutos de dinheiro público, cabe o envio imediato da estrutura para aquela localidade necessitada! Claro que não sou nenhum administrador ou governante em qualquer das três esferas para melhor compreender o problema, mas o que entendo é que, é uma obrigação do Governo Federal garantir que essas estruturas desmontadas em uma região, que seja imediatamente levada e montada em outra localidade que venha a estar necessitando de socorro!

Se houve desvios de verbas por parte de maus administradores (estaduais ou municipais) não pode ser a população penalizada pela falta de escrúpulos dessas autoridades corruptas! Que a justiça se encarregue de julgar e prender os ladrões, sem que com isso haja qualquer prejuízo para a população já tão atingida, já tão sofrida! Diferente disso, o estado do Pernambuco, pelo que vi e ouvi na imprensa, a partir de declarações do secretário de Saúde e equipe governamental, os equipamentos que possam estar sendo desmontados em Recife e região, estão sendo deslocados para o interior do estado, exatamente como se deve proceder! Então, abrir para que? Flexibilizar para que?

No entanto, diante de tudo que está sendo dito aqui, a situação ainda é de muita preocupação. Mesmo com todas as medidas que estão sendo adotadas pelas autoridades, políticas e sanitárias, ninguém ainda tem segurança no que está sendo feito. Apenas os espertinhos das quadrilhas organizadas – que parecem estar sempre um paço a frente de todos quando se trata de desviar verbas – parecem se dar bem com a confusão, estando os demais muito ocupados em querer entender e (os profissionais da linha de frente) em salvar vidas! Se eu pudesse dar um conselho aos chamados bons governantes e principalmente aos profissionais de saúde que enfrentam essa guerra desigual contra o coronavírus, seria para que não percam a fé. Continuem lutando por quem quer e precisa viver! Que esses governantes não cedam as pressões e que não se deixem convencer diante das tentações. O povo precisa do seu compromisso para continuar acreditando que é possível, ainda, haver humanidade em meio a tanta lama e a tantos descasos!

Aos céticos e defensores da abertura geral dos setores da economia, que recuem! Parem de olhar apenas para o próprio umbigo e entendam que não existem apenas vocês. Tem muitas pessoas que precisam da sua consciência para continuarem respirando! E só para que possam refletir melhor, com uma total flexibilização como querem os mais festivos e mais necessitados para a reabertura do comércio, não adianta abrir a sua loja se você não vai ter a quem vender e que, de uma vez que, aumentam os casos de contaminação, a ocupação dos leitos só tende a subir e inevitavelmente faltará um lugar para você ou alguém seu, muito querido! Essa, ainda, não é a hora de sairmos as ruas. Esse, definitivamente, ainda não é o momento de se flexibilizar!

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba