Acabamos de assistir o discurso que marca o retorno de Lula à cena política nacional após retomar os seus direitos políticos. Ninguém, mesmo aqueles que não gostam dele, pode ignorar a importância desse pronunciamento. Tanto isso é verdade que a Globo News, conhecida como ferrenha adversária do ex-presidente, o transmitiu na íntegra. Sem qualquer dúvida é um acontecimento que produz forte repercussão na vida política de nosso país, a partir de então. Mexe com as paixões e as emoções contemporâneas. Desperta aplausos e xingamentos, o que é natural em qualquer refrega política, principalmente porque estamos próximos de uma eleição presidencial.
Ele não falou como candidato, mas nem precisava assim se apresentar. Foi cuidadoso na maneira como buscou se afirmar para a opinião pública. Um pouco retomando o estilo “lulinha paz e amor” que o levou a ganhar duas eleições, mas também se declarando como alguém que se coloca como o intérprete do pensamento de todos os que se posicionam contra o atual primeiro mandatário da nação. Afirma-se como o contraponto ao bolsonarismo.
E o faz com extrema competência. Avaliando bem as consequências de cada frase pronunciada. É inegável a sua capacidade de se comunicar com o povo. A linguagem que utiliza é bem compreendida pela população, nos seus mais diversos níveis culturais. Nem poderia ser diferente, em razão de sua biografia, sendo um líder de origem humilde, vivenciando as intempéries experimentadas pelos pobres nordestinos, e construída na participação de lutas em favor dos trabalhadores e os desprotegidos das políticas públicas de cunho social, em nosso pais.
Com extraordinária inteligência e invulgar habilidade política chamou Bolsonaro para o debate das questões que afligem o povo brasileiro no momento. Elencou as dificuldades que estamos todos enfrentando, apontando formas como um governante sério e responsável deveria agir em tais situações, numa demonstração de conhecimento pleno da realidade nacional. Quis mostrar a diferença entre um líder que tem noção das responsabilidades de quem recebe a outorga popular para dirigir os destinos de um país, e outro que se revela despreparado para exercício de tão altas funções.
Se contrapôs ao perfil negacionista do governo Bolsonaro e defendeu o comportamento que um gestor público deve ter diante de uma crise sanitária de tamanha gravidade como essa que estamos enfrentando na atualidade. Explorou bem esse ponto frágil do governante que está no Palácio do Planalto. Criticou com veemência a prioridade do governo no que toca a estabelecer uma política armamentista, em desprestígio de tantas outras preocupações maiores que afligem nosso povo.
A estrutura argumentativa do seu discurso dá o tom de como será a partir de agora o seu agir político. Fez escolha da relevância social como tema de preferência, bem alinhado com as posições ideológicas que sempre defendeu. No entanto, não radicalizou nesse sentido. Abriu oportunidades de diálogo com os que não rezam obedientemente com essa cartilha. Oferece-se como opção conciliadora em favor da manutenção da democracia e da soberania nacional. Enfoca a importância da luta pela geração de empregos e combate às desigualdades sociais. Fundamenta, então, seu discurso em valores universais como justiça, igualdade e responsabilidade.
Os “companheiros” se animam em ver o retorno do seu líder com a vontade de ir para o “bom combate”, não com as armas de guerra usadas contra ele, mas com a palavra que faz despertar a esperança de que poderemos viver dias melhores. O jogo político indiscutivelmente ganhou movimentos que devem preocupar os que já se imaginavam donos perpétuos do poder. Existe luz no fim do túnel.
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Polêmica Paraíba