A violência sectária está perigosamente se alastrando pelo Brasil. Estamos vivendo, lamentavelmente, num país dividido por paixões políticas ou ideológicas. E isso só contribui para que a nossa democracia experimente a ameaça de um colapso irreversível. Figuras destacadas do mundo político encorajam a prática dos embates com agressividade. Organizações envolvidas em atividades ilícitas, milicianos e facções criminosas, oferecem apoio a lados que se confrontam na seara política. Normas de civilidade já não são mais consideradas, sendo até estimulada a sua desobediência. Oponentes se atacam ferozmente com endosso tácito, e muitas vezes explícito, de seus líderes.
O sectarismo se fortalece nos comportamentos de intransigência, de partidarismo radical, de extremismo na defesa de convicções ideológicas, de intolerância aos contrários. A escalada das tensões sociais se intensifica a partir dessas manifestações de conflito político. Acho até que chegamos a um nível inédito na história recente do país. Percebe-se claramente que não está havendo mais espaço para o diálogo próprio de um regime democrático, onde as divergências são parte da rotina do debate de ideias. A hostilidade recíproca produz o medo e a irracionalidade.
Pensar diferente é o bastante para que alguém seja considerado inimigo. A paixão cega incitando ofensas verbais e agressões físicas. A pauta política, por consequência, sofrendo esvaziamento. Brigas em família e entre pessoas do mesmo convívio social se tornaram comuns por motivações políticas. Prevalece o discurso do ódio. No livro COMO AS DEMOCRACIAS MORREM, que estou lendo, tem uma frase que considero bem apropriada para o tema que estou ousando colocar como reflexão: “A polarização mata as democracias”. Essa é uma verdade inconteste.
O sentimento indutor da opinião pública passou a ser a raiva do discordante. Nem sempre impera a vinculação a matizes ideológicas ou cores partidárias, mas simplesmente para a escolha de qual dos dois lados vai ficar. Não há consciência crítica. A partir daí é vestir a camisa do seu grupo e ir para a guerra. A população seguindo em direção às extremidades. A afabilidade e a cordialidade entre as pessoas desaparecendo. A representação política fica fragilizada porquanto desacreditada. Nesse clima de incertezas e apreensões surgem os “outsiders”, aqueles que falsamente se afirmam fora dos padrões do “profissional político”, os pretensos salvadores da pátria, os populistas demagogos. Para eles esse e um cenário fértil para se projetarem
Ambos os lados dessa contenda fratricida encontram dificuldades em produzir argumentos convincentes que conciliem assuntos de interesses comuns. Os desentendimentos são gerados pela ausência de discursos pragmáticos e coerentes. O resultado é o evidente impacto que vem causando prejuízo à sociedade como um todo. É preciso acabar com a lógica do “nós contra eles”, fazendo desparecer, portanto, essa violência sectária em curso. Para o bem da nação e da preservação da democracia.
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão