Opinião

A terceira tentativa de Ricardo para conquistar sua reabilitação política - Por Nonato Guedes

A terceira tentativa de Ricardo para conquistar sua reabilitação política - Por Nonato Guedes

Desde que caiu em desgraça após concluir dois mandatos consecutivos à frente do Executivo da Paraíba, o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) faz um esforço hercúleo para conquistar sua reabilitação política, livrando-se de estigmas que o perseguem a contar do seu envolvimento na Operação Calvário, versando sobre desvios de recursos na Saúde e na Educação. A investigação está prestes a prescrever, Ricardo ainda tem pendências a resolver mas a retomada da carreira política, para ele, é incerta, diante de derrotas seguidas que já experimentou (em 2020, como candidato a prefeito de João Pessoa, em 2022 como candidato a senador). Na campanha de 2024 à prefeitura da Capital, Coutinho indicou o nome da sua mulher, Amanda Rodrigues, como candidata a vice na chapa do petista Luciano Cartaxo, que ficou em quarto lugar na disputa. Agora, ele volta à cena e prepara-se para ser candidato a deputado federal nas eleições de 2026.


O retorno, para um político que fez sucesso como líder emergente na conjuntura estadual, elegendo-se duas vezes prefeito de João Pessoa e duas vezes governador do Estado, vai se dar em clima de “bola dividida”, com ele disputando espaços com o atual deputado federal Luiz Couto. Atualmente radicado em Brasília, onde mantém interlocução direta com líderes petistas e com ministros do governo Lula, o ex-governador revelou que o projeto de ser deputado federal visa, além de combater a extrema direita, fazer frente aos setores mais fisiológicos da política paraibana que, na sua opinião, voltaram a dominar o cenário político local. “A disputa não é contra ninguém, muito menos dentro do PT. É uma disputa pelo PT, junto com os demais companheiros e companheiras, que estarão na chapa de federal, particularmente o companheiro Luiz Couto”, apressou-se Ricardo em avisar.

Em declarações à imprensa, Coutinho deixou transparecer que seu grande interesse é o de fortalecer as propostas de mudança de iniciativa do presidente Lula e falou sobre a urgência de o Congresso Nacional estar mais comprometido com as pautas modernas e progressistas.
Fala Ricardo: “Por ser marcado pelo fisiologismo e pelo clientelismo predominante, o Parlamento tem dificultado a implementação das mudanças que o presidente Lula encaminha em favor da Nação. O Congresso tem 55 bilhões com B de bolas em vendas, algo que não existe em nenhum outro lugar do mundo. Um Congresso que, infelizmente, se nega a discutir as grandes pautas que são do presente, da modernidade”.

Apesar de ter feito o anúncio de que está optando pela eleição proporcional, Ricardo Coutinho fez uma ressalva importante: caso considere necessário para sustentar o palanque de Lula nas eleições de 2026, não se furtará a repensar sua candidatura à Câmara dos Deputados e, eventualmente, assumir uma disputa majoritária. “Mas só não disputaria a vaga de deputado federal se fosse convencido de que minha presença é estratégica na disputa majoritária”, pontuou. Em 2022, como candidato a senador, ele obteve 21,55% dos votos, ficando abaixo de Pollyanna Dutra, então candidata do PSB, e do candidato vitorioso, o senador Efraim Filho, do União Brasil. Foi um termômetro do declínio político do ex-governador.


Nas eleições de 2018, quando estava concluindo seu segundo mandato de governador, Ricardo foi aconselhado por aliados políticos a disputar uma vaga ao Senado diante das informações de que seu favoritismo era absoluto. Mas ele se recusou a aceitar as ponderações e decidiu permanecer no Executivo até o último dia de mandato. Justificou a jornalistas que havia decidido ficar no cargo com dois objetivos: eleger João Azevêdo para a sua cadeira e contribuir para derrotar o ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB, hoje PSD) na disputa pela reeleição ao Senado.

João foi eleito em primeiro turno e Cássio Cunha Lima ficou em quarto lugar no páreo ao Senado, que foi vencido por Veneziano Vital do Rêgo e Daniella Ribeiro. Posteriormente, Ricardo acabou rompendo com João Azevêdo, de quem discordou em relação a atitudes na chefia do Executivo e migrou de volta aos quadros do PT, com o aval de Lula. É fora de dúvidas que Ricardo ofereceria valiosa contribuição ao debate político nacional na Câmara dos Deputados, inclusive, por ter atuado no Legislativo da Paraíba e na Câmara Municipal da Capital. Também é certo que ele é “queridinho” do presidente Lula na Paraíba, por ter se solidarizado com ele e com a ex-presidente Dilma Rousseff em momentos difíceis -aqueles em que muitos fogem e raríssimos comparecem. Os desafios de Coutinho, hoje, são outros, envolvendo óbices legais (que precisam ser removidos) e densidade eleitoral (que precisa ser comprovada). A disputa de 2026 será, por isso mesmo, uma espécie de “prova dos noves” para ele, quanto ao próprio tamanho do seu espaço no cenário político-partidário paraibano.