A mais recente investida do presidente da República, Jair Bolsonaro, foi pedir ao povo brasileiro que fizessem jejum no último domingo, para que assim Deus ouça nossas preces e nos livre da atual pandemia de coronavírus. Muitos ficaram chocados com a atitude do presidente que vai além do campo político, no qual ele já patina, pelo menos, desde o início desta mais recente crise mundial, partindo para áreas de fé do povo brasileiro. Em um ato que o transforma numa espécie de Antônio Conselheiro de eras modernas, Bolsonaro reforça ainda mais o caráter religioso que seus seguidores formam em torno dele.
Não é difícil encontrar na internet falas de lideranças religiosas afirmando que o presidente da República seria uma espécie de enviado divino para livrar o Brasil de forças que estariam oprimindo seu povo há décadas. Essa pintura de Bolsonaro como um Messias real vai muito além de uma brincadeira, com o fato do seu nome possuir no registro uma homenagem a um dos muitos títulos atribuídos a Cristo. É uma forma de entregar a um povo brasileiro sofrido e que muitas vezes não possuem o menor interesse em cartilhas de direita ou esquerda uma forma de identificação com o capitão, a identificação de um salvador enviado pelo próprio Deus e que como uma espécie de Davi derrubará os gigantes da opressão.
É inegável, Bolsonaro a cada atitude busca assemelhar-se ainda mais com um imperador romano, um augusto brasileiro, cheio de poderes civis e religiosos. Capaz de vermos Bolsonaro tal qual um imperador romano ser deificado por seus seguidores após a sua morte, ter templos erigidos em torno de sua figura e catecismos escritos para doutrinar fiéis. Tal qual um patriarca do velho testamento o desejo aparente de Bolsonaro é mais do que ser um líder temporal com mandato de no máximo oito anos e que rapidamente terá seu nome esquecido entre a lista de presidentes mais ou menos ruins que a República Brasileira acumula.
Como uma figura mosaica ele está buscando liderar o povo brasileiro em todas as facetas da sociedade. Como alguém que conversa com o próprio Deus ele começa a lançar comandos de ordem espiritual que não competem ao seu cargo. A decisão de Bolsonaro de conclamar um jejum para o domingo até mesmo cria um cisma em sua igreja, ou melhor, em sua base aliada. Bolsonaro que tem como um de seus firmamentos a população cristã brasileira independente de suas muitas denominações cria discussão entre elas mesmas ao ignorar os ensinamentos daquela que ele mesmo afirma seguir: o catolicismo.
Todo aquele que como Bolsonaro se diz católico tem, ou ao menos deveria ter, consciência de que católicos não jejuam aos domingos, pois entendem que por este ser o dia que Jesus Cristo ressuscitou é um dia de festejar e não de penitência. Se Bolsonaro conhecesse sua base católica ou ao menos tivesse consultado alguém antes de fazer tal chamamento, ele saberia que os católicos de todo mundo passarão toda a Semana Santa fazendo abstinências e na sexta-feira irão passar o dia em completo jejum para marcarem o fim da quaresma e o dia em que o Messias teria morrido para livrar a humanidade do pecado.
Conclamar um jejum no domingo anterior a esta semana e num dia em que esta parcela dos seus eleitores claramente não adota tal prática gera uma discussão dentre os seguidores de Bolsonaro. Fico na dúvida se o presidente tomou tal ideia ao acaso, como algumas vezes faz e esta ideia se mostrou desastrosa como quase sempre ocorre com seus improvisos ou se Bolsonaro de caso pensado decidiu testar a fé de seus seguidores e descobrir se acima de católicos estes seriam fiéis Bolsonaristas. Bolsonaro se prostra como um Abraão diante do povo escolhido de Deus, para lidera-los e assim como Moisés irá lhes dar todas as suas leis que devem seguir. Bolsonaro apenas deve tomar o cuidado para não mirar em Elias e acertar em Jim Jones.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Anderson Costa