Opinião

A "República da Indecência" - Por Rui Leitão

Muita gente sonhou que o país ficaria menos corrupto

Muita gente sonhou que o país ficaria menos corrupto. Porém, nada que se faça com más intenções escondidas, perdura por muito tempo sendo aceito e compreendido como ação necessária. Quando a indecência se revela nos bastidores dos acontecimentos que antes pareciam produzidos na observância dos princípios da integridade e da ética, a farsa é desmascarada. É o que está acontecendo com a operação conhecida como Lava Jato, a partir das descobertas das tramas urdidas pelos integrantes da força tarefa, comandada pelo ex-juiz Moro e o procurador da república Deltan Dallagnol. Os diálogos travados entre eles nas redes sociais consistem em algo espetacularmente escandaloso.

A “república de Curitiba”, como gostam que a classifique, causou abalos à credibilidade do judiciário. Ainda bem que já começam a sinalizar atitudes de reversão desse conluio que afetou as garantias de funcionamento do Estado Democrático de Direito. A sociedade brasileira, a cada dia, acorda estarrecida ao tomar conhecimento das mensagens, arquivos e documentos apreendidos na operação Spoofing. Interferência indevida do juiz na produção de provas, o compartilhamento continuado de informações sigilosas numa explicita ilegalidade na combinação de jogo processual, são procedimentos que se mostram como um mecanismo cuidadosamente planejado para criminalizar a política e criar heróis fora dela.

Não há mais dúvidas que a Lava Jato, até então tida como uma ação anticorrupção, sempre foi um projeto de poder. Seus comandantes, ora galgavam posições estratégicas na estrutura política do país, ora se valiam da fama adquirida para engordar seus rendimentos financeiros proferindo palestras mundo afora. Chegaram ao ponto de tentarem “abocanhar” recursos da Petrobras, criando um Fundo a ser administrado pelo Ministério Público Federal do Paraná. Em tempo essa “jogada” foi proibida de se efetivar. Também falsificaram depoimentos para incriminar quem eles queriam ver condenados.

O apoio da grande mídia, especialmente da Rede Globo, fez com que alcançassem elevados níveis de aprovação popular. Eu, particularmente, percebi cedo que se tratava de um grande engodo. Não se combate a corrupção, praticando atos que podem ser considerados criminosos. Mesmo antes das revelações do “intercept”, já era óbvia a seletividade política na condução dos processos judiciais. Escolhiam a quem o projeto de poder precisava afastar do cenário político. Eram constantemente violadas, às claras, as atribuições do poder judiciário, agindo “de ofício”, sem serem provocados por qualquer das partes envolvidas. Sem nenhum constrangimento o ex-juiz Moro extrapolava as funções determinadas a um magistrado pela Constituição e o Código Penal. O prejulgamento era manifesto explicitamente.

É indiscutível, agora, que tudo fazia parte de um projeto para atender interesses estratégicos, geopolíticos, dos EUA. Os “Golden boys” do Paraná tiveram uma postura totalmente ilegal. A Constituição foi rasgada várias vezes. Mais do que promotores da justiça, atuaram como inquisidores na conformidade das conveniências políticas. Por trás de tudo havia um grande negócio. As máscaras caíram. O judiciário está caminhando para recuperar a sua credibilidade, fortemente atingida pela república de Curitiba. A sua parte podre está se desmoralizando. A disputa ideológica que idealizaram promover, e conseguiram, não tem mais força para sustentar a defesa dos propósitos que anunciavam abraçar, quais sejam o de combater a corrupção. Perderam a autoridade moral para exercerem tal objetivo. A “república de Curitiba” transformou-se na “república da indecência”.

Fonte: Rui Leitão
Créditos: Polêmica Paraíba