Nunca escondi minha opção de voto na eleição para presidente da república na última eleição. Era explícita a minha posição contrária ao presidente eleito. Todavia, democraticamente, esperava que a partir de sua investidura no cargo maior da nação, se colocasse como o presidente de todos os brasileiros, sem qualquer distinção, seja de qual fosse a natureza.
Seus discursos, no entanto, me surpreendem pela manutenção da retórica de guerra política. Imaginava que o novo mandatário do país se comportasse, a partir de então, como alguém que se dispõe a conciliar, harmonizar interesses, respeitar divergências, ouvir também os que não votaram nele. .
Repete-se o tom da campanha. Não conseguiu descer do palanque. Voltou a fazer arminha com as mãos, num gesto que não condiz com a dignidade do cargo que agora exerce legitimamente, ameaça todos os que não compartilham com os seus conceitos ideológicos, usa a mesma cantilena dos que em outros tempos golpearam a democracia afirmando que iriam livrar o Brasil da ameaça vermelha.
Tenho feito um esforço enorme para acreditar que viveremos um tempo de superação das crises ora vivenciadas, marcadas pela corrupção, pelas injustiças sociais, pelos ataques à Constituição, pela ação politizada de parte do judiciário, pela promiscuidade que se verifica na relação do poder executivo com o poder legislativo nos últimos tempos. Lamentavelmente, os seus pronunciamentos e atitudes não me permitiram acender essa chama de esperança. Pelo contrário, o que se verifica é um incitamento à beligerância, uma exortação ao conflito.
Rogo a Deus, todos os dias, para que faça com que ele tome consciência da enorme responsabilidade que majoritariamente o povo brasileiro colocou sobre seus ombros, e aja, na condução dos destinos do nosso país, com equilíbrio, racionalidade e serenidade.
Continuarei fazendo da minha consciência crítica uma vigilância respeitosa. Se permanecer o clima de agressividade que os discursos inflamados estimulam, o Brasil não terá paz. E sem paz não avançaremos. Quando se diz “ninguém solta a mão de ninguém”, não é só uma referência aos que prometem resistência, mas é um convite a que todos os brasileiros se irmanem no sentido de produzir o ambiente de harmonia que poderá nos levar a vencer os grandes desafios que estamos enfrentando. Adversários de mãos dadas por uma só causa. Mas o exemplo tem que ser ofertado por quem está na chefia do governo. Que Deus plante no coração de todos nós, principalmente dele, a semente da concórdia, da solidariedade, da fraternidade e do congraçamento.
Rui Leitão
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão