Opinião

A manobra dos Cunha Lima para “sobreviver” em golpe contra Daniella - Por Nonato Guedes

A manobra dos Cunha Lima para “sobreviver” em golpe contra Daniella - Por Nonato Guedes


Numa manobra espetacular concretizada junto ao comandante nacional do PSD, Gilberto Kassab, o “clã” Cunha Lima destronou a senadora Daniella Ribeiro do comando da legenda na Paraíba e criou as condições para “sobreviver” no cenário político estadual, perspectiva que estava ameaçada diante do esvaziamento fulminante do PSDB, sobretudo a partir do desligamento da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, que passou a ser opção dentro do PSD para concorrer à Presidência da República em 2030. O pretexto invocado por Daniella para abandonar o PSD foi o de que a possível fusão com os tucanos estava avançando e que, de sua parte, não teria como conviver na Paraíba com o esquema a que faz oposição. Em termos concretos, a reviravolta deu fôlego ao ex-deputado Pedro Cunha Lima, que foi candidato ao governo em 2026 e pulou para o segundo turno mas ultimamente, sem broche parlamentar ou político, estava deslocado no contexto, na iminência, mesmo, de abreviar uma carreira política que é recente na conjuntura local.


Já revigorado com a tomada do PSD pelo seu “clã”, Pedro Cunha Lima passou a aventar nas últimas horas a hipótese recorrente de, novamente, disputar o Executivo estadual, uma questão que ele sabe que será resolvida frente à frente com o senador Efraim Filho, do União Brasil, que se mobiliza a olhos vistos para concorrer ao Palácio da Redenção pela oposição e que demonstra estar obstinado nesse projeto. Surgiram versões, ontem, de que o novo PSD paraibano, comandado por Pedro, seria reforçado pelo ingresso dos deputados federais Ruy Carneiro e Romero Rodrigues, que estão no Podemos, mas estes não confirmaram interesse em migrar de sigla. De resto, Romero já havia sido alijado do PSD pelo grupo de Daniella, daí porque a reviravolta de agora está sendo considerada uma espécie de revanche no jogo político por fatias de poder. Em termos de estruturação partidária a nível local o PSD não expandiu fronteiras sob o comando de Daniella Ribeiro, que sempre esteve mais interessada em se projetar em lugares estratégicos em Brasília, como ainda agora quando foi eleita primeira-secretária da Mesa presidida por Davi Alcolumbre (União-AP). O plano de Daniella de concorrer à reeleição ao Senado mantém-se de pé mesmo com a possibilidade de candidatura do seu filho Lucas, atual vice-governador, à chefia do Executivo na sucessão de João Azevêdo.


O senador Efraim Filho, que vinha se destacando como o principal líder ou expoente do bloco oposicionista no Estado, tenta minimizar ou descartar a hipótese de emulação com os Cunha Lima diante da ascensão de Pedro ao comando do PSD. A sua versão é que havia sido comunicado previamente dos passos do “clã” para bater em retirada das hostes do PSDB depois de uma demorada trajetória no ninho tucano que se viabilizou na esteira do rompimento de Cunha Lima com a liderança do ex-governador José Maranhão nos quadros do PMDB. No histórico do PSDB no Estado houve apenas duas vitórias ao Executivo, em 2002 e em 2006 com a ascensão de Cássio Cunha Lima contra Roberto Paulino e José Maranhão, sendo que o segundo mandato foi interrompido em fevereiro de 2009 com a cassação de Cássio pelo TSE sob alegação de conduta vedada e improbidade administrativa, em rumoroso processo que ocasionou a convocação de Maranhão para um mandato-tampão, juntamente com o seu vice Luciano Cartaxo, do PT. O PSDB elegeu bancadas à Câmara, Assembleia Legislativa e o próprio Cunha Lima ao Senado (não reeleito em 2018) e sob o comando do deputado estadual Fábio Ramalho vinha definhando no número de prefeituras e na ocupação geral de espaços na política paraibana.


Na nova realidade que se ensaia, o que pode acontecer, objetivamente, é o reforço do agrupamento de oposição na Paraíba unindo o PSD de Cunha Lima, o União Brasil do senador Efraim Filho, o Podemos de Ruy e Romero e outras siglas que se disponham a fazer frente ao dispositivo político comandado pelo governador João Azevêdo (PSB). Mas a reviravolta não significa, automaticamente, um passaporte para a sagração antecipada de Pedro Cunha Lima como candidato a governador mais uma vez. O senador Efraim Filho articula em favor de sua própria candidatura e tem canais de interlocução com o segmento bolsonarista, que passou a ser comandado localmente pelo ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, com o reforço do deputado federal Cabo Gilberto Silva e do pastor e procurador Sérgio Queiroz, filiado ao Novo e que ambiciona concorrer pela segunda vez ao Senado, depois de ter sido candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada por Queiroga em 2024. Até prova em contrário, Efraim é o detentor da condução do processo no campo da oposição, pela sua mobilidade para conseguir emendas e, com isto, atrair prefeitos e outras lideranças. Esse núcleo da oposição afina-se, por exemplo, com o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que, no entanto, rejeita aliança com bolsonaristas ortodoxos na Paraíba.


A verdade é que a reviravolta está deflagrada em termos partidários, obrigando a um rearranjo ou recomposição de forças políticas da Paraíba em sintonia com a conjuntura nacional, da qual emanam as decisões que geram reflexos nos Estados, no que diz respeito a alianças para o pleito de 2026. Os Cunha Lima, ainda com a participação de bastidores do ex-governador Cássio, voltaram ao jogo, com cacife, querem ser ouvidos e naturalmente serão auscultados, até pelo respeito à votação alcançada por Pedro em 2022 na disputa majoritária e à própria influência que ainda exercem em Campina Grande e no Compartimento da Borborema. O futuro partidário de Daniella é incerto a dados de hoje, mas ela tem a opção de refazer o caminho de volta ao PP, comandado pelo irmão Aguinaldo Ribeiro, no qual estava acomodada até decidir aventurar-se por outro partido para ter sua própria influência e voz de comando nas decisões ligadas à política estadual.