A chamada Constituição Cidadã , de 1988, procurou colocar como ponto basilar dos seus fundamentos a justiça social. Foi um avanço que nos permitiu nas últimas décadas alcançar níveis de equilíbrio entre partes desiguais na nossa sociedade. Por sua inspiração foram várias as conquistas sociais que permitiram diminuir as diferenças de oportunidades entre os mais ricos e os mais pobres. Os bens sociais aos poucos passaram a ter uma partilha qualitativa menos desigual. Claro, que estamos longe do ideal, mas caminhávamos na direção da desejada justiça social.
O primeiro a falar em justiça social foi São Tomás de Aquino, no século XIII, quando proclamou que “numa sociedade democrática, todos os seres humanos são dignos e têm a mesma importância”. Pode parecer utópico, mas é um conceito que não deve ser desprezado. Não acredito em ideologia que ignore esse preceito.
Não faz o menor sentido se falar em desenvolvimento econômico, restringindo o acesso à educação, à saúde, ao emprego, aos bens públicos, a uma boa qualidade de vida. O governo que desrespeita esses fundamentos, se afasta do compromisso com a solidariedade coletiva, porque visa unicamente o fortalecimento do poder prestigiando os que economicamente já se sentem favorecidos. Vale-se da retórica demagógica para tentar convencer os que não têm consciência crítica de que suas ações são voltadas para o bem estar social, quando na verdade têm direcionamento contrário.
Vejo com preocupação a adoção de medidas que se mostram orientadas para o retrocesso. Em nome do interesse em promover o desenvolvimento econômico, exigem que a população abra mão de direitos adquiridos e se submetam a uma política de restrições sociais.
A justiça social é responsabilidade de todos nós. A perversa desigualdade social é geradora de ódio entre classes, e, portanto, estimuladora da violência. Não podemos ficar omissos, atuando como meros expectadores dos acontecimentos. É preciso que façamos valer nossa consciência cidadã e reagirmos às tentativas de destruir uma história de lutas que conseguimos construir em épocas recentes. Não podemos retroceder. Há uma perceptível intenção em alimentar a despolitização social. Nada mais interessante para as classes dominantes do que aumentar o número de analfabetos políticos.
Não podemos jamais abrir mão da luta para que os valores institucionais estejam sempre a serviço da dignidade humana, em defesa, portanto, da justiça social.
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Polêmica Paraíba