Ao invés de cuidar da saúde do povo e dar exemplos positivos, o presidente Jair Bolsonaro apela para a imprudência, insensatez e para a demagogia irresponsável, participando de uma manifestação de protesto contra o Congresso e o Judiciário, em Brasília, em plena atmosfera de intranquilidade nacional quanto aos reflexos da pandemia do coronavírus no país. Com isto, Bolsonaro atropelou a cartilha sanitária que seu governo é obrigado a pregar com recomendações para evitar vulnerabilidade diante da pandemia. Ele cumprimentou apoiadores, tocou em diversos celulares para fazer selfies e em alguns momentos chegou a colar o rosto ao de seguidores para fazer fotos. A orientação do Ministério da Saúde é evitar ao máximo este tipo de contato e manter as mãos sempre limpas.
Em entrevista à CNN Brasil, que estreou, ontem, domingo, Bolsonaro chamou de “extremismo” e “histeria” medidas adotadas diante da pandemia do coronavírus, que no Brasil já havia infectado 200 pessoas até o início da noite de ontem, conforme a “Folha de São Paulo”. Ele foi duramente criticado por parlamentares por ter estimulado as manifestações. Os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, divulgaram notas condenando o comportamento do presidente da República. A resposta de Bolsonaro não poderia ser mais insana: “Eu gostaria que eles saíssem às ruas como eu. Nós, políticos, temos responsabilidade e devemos ser quase que escravos da vontade popular. Saiam às ruas esses dois parlamentares e vejam como vocês são recebidos”, prosseguiu o presidente da República, em tom de bravata.
A lógica irrefletida do presidente é a de que os atos de ontem não foram uma iniciativa dele, mas um movimento espontâneo da população, “cansada de ver certas coisas que não fazem bem para a coisa pública, como, por exemplo, a partilha de R$ 15 bilhões de um Orçamento cuja execução cabe ao presidente da República”. Disse que não é preciso que se faça acordo entre ele, Maia e Alcolumbre, mas entre eles e o povo. Apesar de integrantes do governo próximos a ele estarem infectados pelo novo coronavírus, o presidente voltou a minimizar os efeitos do Covid-19. “Muitos pegarão isso independente dos cuidados que tomem. Isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde. Devemos respeitar, tomar as medidas sanitárias cabíveis, mas não podemos entrar numa neurose como se fosse o fim do mundo”, frisou. E insinuou haver interesses econômicos e políticos nas medidas para tentar conter a transmissão do vírus.
O presidente lembrou que há cerca de dez anos a Organização Mundial da Saúde declarava pandemia de gripe H1N1, conhecida como gripe suína. E prosseguiu: “Em 2009, 2010, teve crise semelhante, mas aqui no Brasil era o PT que estava no poder e nos Estados Unidos eram os Democratas, e a reação não foi nem sequer perto do que está acontecendo no mundo todo”. Para o presidente, a proibição de jogos de futebol é partir para o extremismo. Ele defende que essas medidas sejam analisadas do ponto de vista de impacto na atividade econômica e, por isso, o governo vai criar um gabinete de crise para avaliar os impactos das ações de contenção do vírus na economia. Concluiu alertando para medidas que vão aumentar o desemprego.
E ressaltou: “O desemprego leva pessoas que já não se alimentam muito bem a se alimentar pior ainda; aí vão ficar mais sensíveis, uma vez sendo infectadas, você levar até a óbito”. Não há nada a dizer mais diante da postura irresponsável de um governante que todos os dias fica testando seus limites como se a população brasileira estivesse sinceramente preocupada com esses limites dele. Pelas recomendações do próprio Ministério da Saúde, o presidente da República deveria ficar em isolamento, inclusive porque foi submetido a um teste (que deu negativo) após viagem empreendida aos Estados Unidos, quando um integrante da sua comitiva foi contaminado.
Em todos os continentes, governantes e autoridades tomam medidas acauteladoras e massificam esclarecimentos à população diante da vasta desinformação que ainda reina sobre o coronavírus. Inúmeros eventos de massa estão sendo cancelados; no Vaticano, ontem, o papa Francisco abençoou simbolicamente uma praça totalmente vazia. O próprio Ministério da Saúde de Bolsonaro vinha tendo atuação irrepreensível na adoção de medidas quanto ao coronavírus. O presidente, pela vontade de aparecer, põe tudo a perder.
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba