O período eleitoral tem demonstrado, mais uma vez, como parte da militância que representa os pré-candidatos que disputam os mandatos de prefeito e vereador ainda não compreenderam o papel do jornalismo profissional numa democracia e, mais ainda, num processo eleitoral, que é o de informar. Para muitos, a imprensa é encarada como um instrumento de propaganda ideológica (para o bem ou para o mal), tal como ocorria no início da atividade jornalística, lá no século XVIII.
Naquela época, os jornais eram utilizados de maneira parcial para a defesa de teses políticas. Não eram raras as vezes em que os próprios políticos eram os responsáveis por comandar o jornal e também pelo que nele estava escrito. Como não havia deontologia, isto é, uma ética jornalística, aquela postura não era algo que se considerava errado, pois para o contexto de então era o papel próprio da imprensa.
Ocorre que com o amadurecimento do sistema democrático e com o fortalecimento das demandas capitalistas, as prioridades mudaram e o contexto de industrialização transformou a filosofia do jornalismo, que passou por um processo de “despolitização”, tendo como finalidade a informação objetiva dos fatos para um público mais abrangente. Os jornais saíram da propaganda partidária para a publicidade, a fim de se auto-sustentar.
Embora haja quem defenda o resgate daquele primeiro jornalismo como a forma mais adequada de se trabalhar a imprensa, eu sou defensor do atual paradigma, que, embora tenha suas imperfeições, acredita na busca pela objetividade dos fatos e em sua responsável divulgação nos meios de comunicação. Na teoria, o principal objetivo é informar com a máxima precisão e em não convencer o leitor ou distorcer a informação (embora isso ainda ocorra).
Faço esse rápido contexto sobre a trajetória da filosofia jornalística, apenas para trazer à tona a discussão de como a Paraíba está mal acostumada com o trabalho da imprensa séria enquanto instituição independente e que não deve se pautar por interesses dos partidos políticos, e sim pelos fatos.
Digo isso porque, duas reportagens publicadas pelo autor desse texto sobre a situação jurídica de um pré-candidato foram injustamente atacadas por internautas que ainda não sabem diferenciar os papeis do jornalismo e da política ou que colocam no mesmo saco o jornalismo sério com atores interessados no resultado no próximo pleito, o que não é o caso do autor desta coluna. Refiro-me a trabalhos jornalísticos feitos com investigação e a correta divulgação dos fatos, modéstia à parte.
A primeira reação inadequada foi quando a reportagem publicou, em 25 de julho, a nota enviada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), informando que até aquela data, o recurso de um pré-candidato não tinha efeito suspensivo e que ele continuava a constar na lista de contas irregulares para fins eleitorais. Muito embora a reportagem estivesse embasada em um documento oficial e em informações precisas, e com direito ao contraponto, foi atacada como se o texto fosse uma peça política. Ali não havia outra coisa além de um fato incontestável jornalisticamente, que tinha como único objetivo informar.
Na mesma intensidade e compromisso com a notícia, a reportagem publicou em primeira mão a mais nova decisão do TCU, que concedeu o efeito suspensivo ao recurso do pré-candidato, garantindo-lhe a elegibilidade para as eleições deste ano. Embora estivesse mais uma vez baseada em informações corretas e fidedignas, o material foi desacreditado por quem se opõe ao pré-candidato, agora livre dos obstáculos que antes estavam em seu caminho. Outra vez, os militantes viram a reportagem como um instrumento político e não como um fato jornalístico livre dos interesses partidários do momento.
Dito isso, é lamentável que a discussão partidária tente contaminar, cercear, distorcer ou se utilizar do livre trabalho da imprensa, sobretudo de quem se pauta pela correta divulgação dos acontecimentos. Saber respeitar a liberdade de imprensa, principalmente quando essa atuação é feita com ética e responsabilidade, é dever de qualquer democrata. Confundir jornalismo com política não é um bom sinal e saber lidar com a imprensa é uma das marcas de um gestor público comprometido com as leis.
Diferentemente da desonestidade ou da radicalização que permeia a má política, o jornalismo responsável sempre será elegível em uma democracia.
Felipe Nunes – jornalista formado e diplomado. Mestrando em Jornalismo.
Fonte: Felipe Nunes
Créditos: Felipe Nunes