A tônica dominante na atual conjuntura paraibana é a absoluta e deplorável falta de diálogo entre governantes, mais precisamente, entre o governador João Azevêdo (PSB) e os prefeitos de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV) e de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSDB), estas, as duas cidades mais importantes do Estado. A administração de Azevêdo está completando cem dias e não é omissa em termos de investimentos ou empreendimentos na Paraíba toda, incluídas a Capital e Campina. Mas essas intervenções se dão isoladamente, sem parceria ou intercâmbio institucional com as gestões municipais. Vive-se, ostensivamente, na pequenina Paraíba, uma governança não-republicana. E quem paga o pato, é forçoso reconhecer, é a população, privada da oferta de serviços mais ágeis ou de melhor qualidade como contrapartida aos impostos que paga ao erário.
Não há registro de qualquer audiência, separada ou em conjunto, entre o governador e os prefeitos das duas maiores cidades. A divergência política-partidária é o grande fator responsável pelo entupimento de canais entre gestores, mas essa é uma prática que a sociedade julgava ter sido superada em nome do amadurecimento político e da construção democrática de relações institucionais. Ainda agora, o prefeito Luciano Cartaxo está empenhado na construção de um Parque Ecológico para brindar a Capital numa de suas características mais latentes – a preservação do Meio Ambiente, que a fez ser comparada como segunda cidade mais verde do mundo, depois de Paris, em períodos remotos. Mas ao invés de ter interlocução direta com a equipe do governador Azevêdo para a viabilização do tal Parque Ecológico o alcaide da Capital está tendo que se articular com representantes da iniciativa privada, interessados em investir no empreendimento, por causa dos efeitos colaterais positivos que poderá acarretar para João Pessoa.
A falta de diálogo envolve, também, o governo do presidente Bolsonaro com relação ao governo de Azevêdo, como suposta retaliação pelo apoio que o administrador paraibano emprestou aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff – o primeiro, preso há um ano em Curitiba na esteira da Operação Lava-Jato, a segunda alvo de um processo de impeachment quando estava a caminho do segundo mandato. Ainda ontem, Azevêdo verberou que os governadores do Nordeste querem participar das decisões de investimento do Banco do Nordeste, cujo futuro, aliás, está sendo redesenhado nas esferas que circundam a gestão Bolsonaro. Queixou-se Azevêdo que os investimentos na região são definidos por outras instâncias de governo, sem a participação dos governadores – que, na verdade, conhecem com detalhes a realidade nordestina. “Nós queremos, sim, participar do desenvolvimento e fazer com que a Sudene volte a ter um papel importante de planejamento e desenvolvimento para a região Nordeste”, vergastou o chefe do Executivo socialista.
Numa rápida avaliação de conjunturas, é possível constatar que o presidente Bolsonaro e alguns de seus ministros dão mais atenção ao prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, aliado do bolsonarismo, do que ao governo Azevêdo. A própria primeira-dama do país, Michelle Bolsonaro, que tem preocupações sensíveis com a questão da infância, sobretudo com a problemática dos menores deficientes, foi a Campina Grande, ultimamente, juntamente com um ministro do governo do marido, aproveitando o roteiro oficial para conhecer experiências que são desenvolvidas no campo da valorização das crianças deficientes. O grande atropelado nesse evento foi o Cerimonial, pois caberia ao governador recepcionar dignitários da República, figuras de importância no organograma do poder federal. Azevêdo, porém, parece ser deliberadamente excluído de ações do governo Bolsonaro com repercussões na realidade paraibana.
Um outro ponto de que reclama o governador paraibano é a quase imposição, pelo Planalto, da reforma da Previdência Social, tema assaz controverso para não dizer explosivo, sem a preocupação de auscultar a opinião de gestores para quem a conta poderá sobrar lá na frente. No seu programa Fala, Governador, Azevêdo reiterou críticas ao projeto de reforma já encaminhado ao Congresso, mencionando diretamente a proposta de desconstitucionalização, o tratamento dispensado ao trabalhador rural, a redução do BCP e o sistema de capitalização. Deu a entender que teria sugestões próprias e válidas a apresentar, já que vem discutindo os reflexos da reforma com colegas governadores do Nordeste. Infelizmente, não é ouvido nem cheirado pelo Planalto sobre esses assuntos. A verdade é que está tudo errado. É errada a relação do governo Azevêdo com prefeitos das duas maiores cidades do Estado. É flagrantemente errada a relação do Planalto com o governo da Paraíba. Isso precisa ser mudado, até porque a sociedade mudou e não aceita que picuinhas interfiram nas aspirações de progresso e crescimento econômico e social.
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Nonato Guedes