As instituições democráticas estão em processo de degradação na atual quadra histórica de nosso país. O discurso da anti-política tem concorrido para isso. É como se quisessem dizer que a democracia estimula a prática da corrupção. Tentam passar a impressão de que se trata de um sistema nocivo à sociedade. Vivemos numa democracia sob pressão.
O ambiente torna-se solo fértil para os populistas. Percebe-se, nitidamente, que há um projeto político no sentido de “esticar a corda” para testar nossa capacidade de manter o Estado Democrático de Direito. Estabelece-se, propositadamente, um clima de tensão. Há um incentivo à desordem política, para provocar o caos e justificar medidas de força. O saudosismo da ditadura militar.
Arquiteta-se a manipulação de mentes, com o objetivo de colocar o povo contra a democracia, alimentando a ideia de que se faz necessário impor alternativas autoritárias. Narrativas falsas desrespeitam verdades incontestáveis, com o propósito de minar a confiança popular nas instituições democráticas. Quanto menos existir cidadãos críticos, mais fácil fica fazer valer essas concepções políticas antidemocráticas. Verificam-se situações de incoerência, quando vemos as mesmas pessoas que ainda manifestam apoio ao sistema democrático, se colocarem em posições de desconfiança nas instituições democráticas. Atitudes contraditórias impulsionadas pela alienação adredemente produzida na consciência popular.
A imagem do “outsider” dizendo absurdos inimagináveis consegue ser aceita e aplaudida por parcela da população que se põe contra as instituições democráticas. Essa é uma disposição crescente nas sociedades para exercer um tipo negativo de democracia, numa espécie de “democracia de rejeição”. Está em curso um projeto de rompimento dos acordos históricos e institucionais que resultaram na redemocratização do país.
O processo democrático exige mais do que sua simples definição como regime político, requer o envolvimento público com suas instituições, bem como o acompanhamento dos cidadãos quanto ao desempenho dos governos e dos poderes constituídos. A desconfiança nas instituições políticas é fator desfavorável para que a democracia se consolide. Não haverá solução para a democracia sem iniciativas profundas para restaurar a confiança na política.
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Polêmica Paraíba